"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
Diz a filha mais nova que encontra em Portugal muito preconceito, que é, na novilíngua, a palavra equivalente a racismo. Entrou num shopping [e só uma angolana vir a Portugal e a referência ser o entrar num shopping só por si ser todo um programa] e eram os africanos que estavam a servir à mesa, que estavam nas cozinhas, algumas mulheres a dobrar roupa nas lojas. E foi ao almoço, tivesse ido de madrugada e via os africanos a varrer e lavar o chão, a limpar as casas de banho. Podia ter dito que chega a Portugal e vê Anselmo Ralph júri de um concurso líder no prime time da televisão generalista, que vê Matias Damásio encher festivais de Verão, ambos, Anselmo e Matias, no top of the pops, a vender em Portugal mais do que vendem em Angola, mais pop stars aqui do que lá, mas não disse. Disse antes que quando chega a Angola e vai para o shopping os portugueses que vê são donos das lojas, são os membros do conselho de administração e pergunta, em jeito de lamento, a razão para que quando se vai a África e se vê um português, em qualquer situação ele está numa situação de vantagem, ou de igualdade na pior das hipóteses, e quando se vem a Portugal e se vê um africano ele está sempre numa posição de desvantagem. E com isto disse tudo sobre os 38 anos da cleptocracia e do regime corrupto do senhor seu pai, e de que ela é directa e dilecta benifeciária, de uma elite multimilionária e em ponte aérea para as as compras nas lojas de luxo da Avenida da Liberdade na antiga capital do império, contra o investimento zero em saúde e educação, contra o investiomento zero em habitação en segurança social, muito abaixo dos idos do colonialismo, que ainda assim formou os líderes dos movimentos de libertação. A menos que a filha mais nova pensasse que só por ser angolano, ex-colónia, PALOP, país irmão, a mesma língua, blah-blah-blah, sem formação lhe dava direito a cargo em administração de empresa, responsável por shopping, director de banco e não mais que empregado de limpeza ou pedreiro em obra alimentada por mão-de-obra clandestina.
Uma associação de malfeitores, que está à frente dos destinos de Angola há quase tanto tempo quanto o tempo que durou a guerra de libertação do colonialismo português, condenou, num julgamento político, 17 concidadãos a uma pena de prisão pelo crime de ousarem pensar pela sua própria cabeça e de o dizerem e partilharem com outros seus semelhantes. O que já foi um movimento de luta contra a opressão e a injustiça – o MPLA, transformado naquilo contra o que sempre lutou e que esteve na génese da sua criação.
Eu sou pela liberdade de expressão, mas... Eu sou pela liberdade de manifestação, mas... Eu sou pela liberdade de reunião, mas...
Eu sou pela liberdade de associação, mas... Eu sou pelos direitos humanos, mas... Eu até sofro pelos que sofrem por causa dos actos irresponsáveis e irreflectidos dos outros.
«Haja pudor e decência», pediu Portas, criticando os que, este domingo, vão receber o presidente de Angola como se fosse um democrata, [...] e não dirigisse um país onde os dirigentes gozam de opulência, luxo e riqueza enquanto o povo está entregue à fome e à miséria».
Ao dar de caras com a foto de José Eduardo dos Santos "mascarado" de Rato Mickey encontro alguma similitude entre a cleptocracia angolana e o universo Disney. Não há explorados nem exploradores, há um Tio Patinhas muito muito muito rico, sem que ninguém saiba a origem da riqueza, uma moedinha n.º 1 [ganha aos 6 anos a vender ovos de galinha?] e depois foi sempre a poupar; temido por todos e por todos bajulado e que quando está bem disposto dá um moedinha aos sobrinhos e umas oportunidades de negócio aos mais chegados, desde que fiquem todos a ganhar e ele mais que todos. E há o Rato Mickey que resolve casos intricados, dá luta aos excluídos do sistema, Metralhas, Mancha Negra e Bafo-de-Onça, maus por natureza, porque já nasceram assim, e mantém a Lei e a Ordem para o leitor ver.
«Esta Repartição vem através desta, convocar a todos os professores e alunos desta escola a fazerem parte de uma marcha em apoio a candidatura de José Eduardo dos Santos a presidente da República nas eleições de 2012, no dia 23 do mês de Junho do ano em curso pelas 07 horas no campo do SATEC.
OBS: Ausência dos professores e alunos, aplicar-se-á sanções disciplinares de acordo a lei em vigor»
Desculpem que mal pergunte mas o MPLA, nos intervalos de receber Jerónimo de Sousa e o PCP, tem assento na Internacional Socialista, certo?
Estava ali a ver o João Soares, o amigo do carniceiro-terrorista Jonas Savimbi – um preto apoiado pelo regime do apartheid sul-africano – na SIC Notícias a vaticinar que a seguir a Kadhafi na Líbia ia ser a vez de José Eduardo dos Santos em Angola. Pois.
«Mais extraordinário é perceber como um regime totalitário consegue exportar o medo. Não já o medo de ir para a cadeia, é claro; ou o medo de ser assassinado na via pública durante um suposto assalto. Trata-se agora do medo de perder um bom negócio. Do medo de ofender um cliente importante.
Ver dirigentes políticos portugueses, de vários quadrantes ideológicos, a defenderem certas posições do regime angolano com a veemência de jovens aspirantes ao Comité Central do MPLA seria apenas ridículo, não fosse trágico.
Alguns deles, curiosamente, são os mesmos que ainda há poucos anos iam fazer piqueniques a essa espécie de alegre Disneylândia edificada pela UNITA no Sudeste de Angola, a Jamba, vestidos à Coronel Tapioca, e que apareciam em toda a parte a anunciar Jonas Savimbi como o libertador de Angola.»