||| As desculpas esfarrapadas de um pantomineiro
Só quem nunca teve o jantar temperado todas as noites, durante meses a fio, com as imagens que chegavam nos telejornais dos confrontos no Soweto, com a polícia do apartheid a disparar a torto e a direito sobre tudo o que respirava [e quem nunca teve pode procurar no tubo ou nos arquivos das televisões para ter uma ideia] é que engole a pantominice das «reservas [pelo] incentivo à violência».
E nem vale a pena recorrer a Bertolt 'lugar-comum' Brecht "do rio que tudo arrasta, diz-se que é violento, mas ninguém chama violentas às margens que o comprimem", blah-blah-blah, ou à 3.ª Lei de Newton, "para toda interacção, na forma de força, que um corpo A aplica sobre um corpo B, dele A irá receber uma força de mesma direcção, intensidade e sentido oposto", blah-blah-blah também, para perceber onde é que estava a origem da violência.
É que há coisas que têm a ver com a ética, com a igualdade, com o respeito e com a tolerância, com o humanismo, ou para o caso e para os personagens em questão, com o "humanismo cristão", sempre mui pio na primeira fila da igreja mesmo frente ao ambão.
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Adenda: Outra pantominice, a da "preocupação da diplomacia de Lisboa em relação à comunidade portuguesa na África do Sul" foi desmontada por Ramalho Eanes, Presidente da República, depois de receber Thabo Mbeki com honras presidenciais no Palácio de Belém, com Mandela preso e o ANC na clandestinidade, mais ponto menos vírgula, porque "uma guerra revolucionária nunca é ganha pelo poder instituído e temos de projectar o futuro de 600 mil portugueses".