"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
Com o título “Ângelo, o oráculo da tragédia social-democrata”, escreve Ângela Silva hoje no Expresso:
«Mas a convicção nos bastidores do partido é que Ângelo Correia antecipou o desastre que, a crer nas sondagens (a última, publicada no ‘Correio da Manhã’, dá 26% ao PSD), se avizinha. E não quererá ficar associado a ele sem, pelo menos, e caso se confirme, poder afirmar: “Eu avisei!”»
Vamos lá a ver se eu percebi.
Ângelo Correia é aquele senhor que foi ministro da Administração Interna de Pinto Balsemão, e que, a propósito duma Greve Geral, salvo erro a primeira que aconteceu no Portugal pós-25 de Abril – e recorrendo aos termos da jornalista do Expresso – “antecipou” um golpe de Estado, com base nuns pregos espalhados numa estrada não sei onde, e em meia-dúzia de armas encontradas num carro, que se viria depois a confirmar serem pertença de uns caçadores. Apareceu na televisão a “antecipar”; caiu no ridículo; ficou para o anedotário nacional, e meteu licença sabática, com manifestas vantagens para a saúde mental dos portugueses; até que Mário Crespo se lembrou de o ressuscitar como comentador.
Ângelo Coreia é aquele senhor que contra todas as vozes mais lúcidas e avisadas dentro e fora do PSD “antecipou” que Luís Filipe Menezes seria um líder excelente, capaz de levar o José Sócrates e o PS à derrota eleitoral em 2009.
Ângelo Correia é aquele senhor, que, segundo Ângela Silva, “não quererá ficar associado” o erro de casting que dá pelo nome de Luís Filipe Menezes.
Ângelo Correia, e falando português corrente, já está a fugir com o rabinho à seringa.
Ângelo Correia é ele próprio um erro de casting; o exemplo acabado de como é saber movimentar-se dentro da estrutura partidária, num partido de Governo; a única explicação plausível para ter chegado – politicamente – onde chegou.
Ângelo Correia não é "oráculo da tragédia social-democrata"; é mais Laio nas Fenícias de Eurípedes, que, com medo da maldição de Ares, abandona Édipo, filho seu e de Jocasta, na encosta do Monte Cíteron. Todos sabemos como isto acaba.
Regresso à entrevista a Sócrates. Escolho três exemplos do que foi o comentário geral nos blogues, e depois nos jornais, no pós-pós-entrevista. Não faço uma recolha exaustiva. Restrinjo-me ao Expresso, hoje.
“(…) esperar-se-ia que um chefe de Governo fosse à televisão fazer o trabalho das oposições? (…) quererão que os jornalistas tenham o condão de obrigar Sócrates a dizer o que não pensa e o contrário do que lhe convém?”
Uma Espécie de Cavaco, por Fernando Madrinha.
“Sócrates pode dar-se ao luxo de falar deste modo porque não tem oposição de jeito (e já agora não peçam aos jornalistas que sejam eles a oposição).”
O País Irreal e o ‘Pentium’ de Sócrates, por Henrique Monteiro.
“Segundo parece, a direita entende que cabe aos jornalistas, e não à oposição, fazer o trabalho que a oposição não faz.”
O Estado da Direita, por João Pereira Coutinho.
Não fosse a inclusão de João Pereira Coutinho no rol, e poderíamos estar perante uma reacção corporativa às críticas generalizadas, pela forma como Ricardo Costa& Nicolau Santos conduziram a entrevista. Mas já que vamos por aqui, permitam-me, a mim, que não me considero de direita nem “da oposição”, mas que fui aluno de Jornalismo, que vos diga que, o que eu esperava era ver os jornalistas fazerem o seu trabalho.
Serem, por exemplo e só por exemplo, acutilantes e incisivos nas questões. Que confrontassem o nosso primeiro com questões como por exemplo e só por exemplo, os salários reais; a justiça; as desigualdades; a corrupção e o trafico de influências; a administração central; e não fazerem figura de “ponto” à entrevista. E por aqui me fico.
É pedir muito? É pedir que façam o trabalho da oposição? Antes pelo contrário; é exigir que façam o seu (deles) trabalho. Justifiquem o dinheiro que ganham. Façam jus ao denominadoQuarto Poder.
E isto aplica-se não só a Sócrates, como a todos os outros antes de Sócrates, e a todos os que vierem depois.
“Caça ao tripé em Lisboa Fiscais municipais estão a identificar, para aplicação de coimas, utilizadores de câmaras de filmar com tripé que não possuam licença de ocupação da via pública. Jornalistas da SIC e da RTP estão entre os visados. A coima para aquela infracção varia entre 1 e 4, 5 salários mínimos”
- Entre Telmo Correia, Luís Nobre Guedes, Mário Assis Ferreira (presidente da Estoril-Sol), Paulo Portas, Abel Pinheiro, o Pavilhão do Futuro da Expo’ 98 mais um Casino;
- Passando pela Portucale, os depósitos todos em 12 500 euros, o BES e o Jacinto Capelo Leite;
- Novamente o BES, os 24 milhões de euros e os submarinos;
- Até às 62 000 – sessenta e duas mil – 62 000 fotocópias de Paulo Portas;
- Tudo pouca coisa para 3 – três – 3 anos no Governo;
A resposta à pergunta de António Pires de Lima, pode ser encontrada hoje em editorial no Público, assinado por Paulo Pereira (sem link):
“O CDS-PP tem sido uma máquina de pedidos de esclarecimento ao Governo sobre tudo o que mexe na governação, desde a reorganização das forças armadas à acção da ASAE, do funcionamento dos tribunais administrativos à linha Porto-Vigo de alta velocidade ou à avaliação dos professores – isto para falar apenas das últimas duas semanas.
Compreende-se a necessidade de fazer prova de vida, umas vezes com razão e outras sem ela.
Mas será este o mais nobre serviço que o CDS e Paulo Portas podem neste momento, prestar ao país, à democracia e a um exercício digno da actividade política? Não, não é.
Em vez de pedir explicações duas vezes por dia, o CDS e o seu líder deviam dar explicações sobre a sua passagem pelo Governo, que assume um carácter cada vez mais trágico para os interesses do Estado, com uma invulgar acumulação de casos graves em tão curto espaço de tempo.
(…)
Quando ao CDS e a Paulo Portas, da próxima vez que vier pedir explicações de dedo em riste deve reflectir se não deve ser ele a dá-las.”
Ou seja, senhorAntónio Pires de Lima, num ponto a sua análise coincide com a do resto dos portugueses, o CDS é um partido de formiguinhas. De formiguinhas que passaram os três verões de Governo a amealhar, directamente para as suas contas bancárias, e a tratar da vidinha. Mas fica por aí a analogia. A ideia que passa agora é, a de um partido de uma só cigarra. Canta, canta, canta, mas não alegra. A oposição da formiguinha travestida de cigarra vale o que vale: nada. E o Inverno vai ser longo…
Ainda sobre este tema, escreve Henrique Monteiro no Expresso de sábado:
“(…) A lei diz que um partido que não prove ter, pelo menos, 5 000 militantes, é extinto.
Em princípio, daqui não viria grande mal ao mundo. Ainda restarão partidos para quase todas as tendências políticas. O problema, na verdade, é o do costume: a tendência irreprimível do Governo se meter em coisas que não lhe dizem respeito. Os ingredientes estão cá todos e note-se que o Governo era do PSD e do PP, o que prova que este não é um mal próprio da esquerda.” (O negrito é meu).
Registe-se para memória futura. A esquerda é castradora das liberdades individuais e controleira dos movimentos dos cidadãos. Mas o Governo era de direita. Traduzindo, para os mais esquecidos; Durão Barroso / Paulo Portas.
(Tão certo como “dois e dois serem quatro” que esta foi uma lei direccionada. E não para a esquerda... Com um temor que depois se veio a verificar ser infundado.)
Onde se recupera um texto assinado por José Manuel dos Santos e publicado no caderno Actual do Expresso de 24 de Novembro. Reza assim:
“Qualquer salazarista que olhe à sua volta conclui, com facilidade e desencanto, que afinal Salazar não está na moda. O que está na moda é dizer-se que Salazar está na moda. Um concurso de televisão, cujo escrutínio teve a fidedignidade das eleições do Estado Novo, não chega para o pôr na moda. Nem sequer uma dúzia de livros sobre ele! Nem a tentativa de fazer um museu-fantasma em Santa Comba Dão! Se o próprio Salazar voltasse à terra que longamente considerou propriedade sua, teria o sentimento de estranheza de quem visita uma casa que lhe pertenceu, mas da qual só reconhece o sítio.
Aos livros antes publicados junta-se agora o «depoimento» da «pupila» Maria da Conceição de Melo Rita (Micas). As palavras dela foram fixadas por Joaquim Vieira, que procura, nos comentários acrescentados, desviar o livro da rota de propaganda póstuma de um regime que fez da propaganda a sua arte contemporânea. A «pupila» usa um tom doméstico e reverencioso para falar do «mestre». Mas o Salazar da Micas é um Salazar de bolso, confiscado afinal da sua mais refinada perícia: a da perversidade. No livro, tudo é o que é – com ele, nada era o que era. Aqui, confirmamos que «o Senhor Doutor tinha escasso contacto directo com o exterior, confiando no testemunho dos outros para saber como iam as coisas. Ele, por exemplo, não via cinema, mas seguia os resumos que lhe faziam das comédias portuguesas de então». Aqui, ficamos a saber que, «para dormir, o Senhor Doutor não recorria ao convencional pijama, a não ser em muito rara situação de doença. Em seu lugar, usava uma camisa comprida à moda antiga». Por aqui, sabemos que Salazar ajudava à missa, mas «nunca se confessava nem comungava». Dependente da governanta, que era uma fera, dizia dela: «A menina Maria às vezes é azeda.» E invejava-a: «A menina Maria tem mais facilidade em escolher uma criada do que eu um ministro.» Micas é indiscreta: «Devo reconhecer que se prolongou por muitos anos o ritual salazarista de me visitar no meu quarto antes de recolher ao seu, a ponto de causar ciúmes à Tia Maria. Certa vez, até a ouvi atirar: - Ó Senhor Doutor, a pequena já é uma mulher. Mas ele não ligou o continuou a fazer-me o mesmo.» Sobre as mulheres que o visitavam e com as quais se suspeitava haver namoro, Micas esclarece: «Como o Senhor Doutor nunca passava noites fora, duvido mesmo que tenha havido intimidade física.»
Passa neste livro, aparentemente brando, banal e bucólico, um ressentimento subterrâneo contra a vida, um pessimismo antropológico, um primitivismo estético, um reacionarismo instintivo, uma avareza existencial, de que Salazar contaminou o país. E passa a descortesia e o desdém com que o tratava. Louvava Deus para depreciar os homens, enaltecia Portugal para diminuir os Portugueses, engrandecia o passado para esmagar o presente. E morreu a desacreditar o futuro. No final, uma pergunta corre para nós: como foi possível isto durar tanto tempo?! É esse o mistério do salazarismo. E esse mistério tem tanto a ver com o que ele foi como com o que nós fomos. Porque, como afirmou, no seu poema, Fernando Pessoa: «António de Oliveira Salazar/ Três nomes em sequência regular…/ António é António/ Oliveira é uma árvore/ Salazar é só apelido./ Até aí está tudo bem./ O que não faz sentido/ É o sentido que isso tudo tem.»”
“É certo que vai (Hugo Chávez) fazer plebiscitar uma emenda constitucional que lhe permitirá fazer-se reeleger e perpetuar indefinidamente no poder – coisa que não é bonita, mesmo se plebiscitada, mas que tantos outros fazem, sem necessidade de emendas constitucionais: veja-se Alberto João Jardim na Madeira ou Jardim Gonçalves no BCP.”
Só hoje cheguei à Única. No ritual semanal que é comprar o Expresso sábado após sábado, a revista vai sempre ficando para o fim, e, às vezes, nem por lá passo… Fui (foi) gradualmente perdendo o interesse após as saídas de Maria João Avillez e Vicente Jorge Silva. Hoje à falta de melhor para fazer, e desperta que tinha sido a minha curiosidade depois da leitura dum post no Lobi, aconteceu agarrar num espécime.
Faço minhas as palavras de JCS, e resumo a entrevista, com um excerto de uma resposta dada por Ana Salgado (os negritos coloridos são meus):
«(…) Essa ausência foi mais a partir do momento em que a Carolina se relacionou com o Mário Baptista, o pai dos filhos, e depois com o sr. Jorge Nuno. (…)»
Não é preciso dizer mais nada. Cada um que tire as suas conclusões.
(Acho que vou passar mais uns tempos sem passar os olhos na Única)
Da Primavera para o Verão, do Verão para o Outono, e, do Outono para o Inverno; adoro! Nestas alturas estou sempre mortinho pela edição do Expresso coincidente com a mudança de estação; das suas propostas fashion.
Hoje foi o dia. Restrinjo-me às propostas para Homem, por motivos óbvios. Esta estação - e seguindo os critérios do Expresso para parecer um Homem normal – recorrendo da terminologia militar; farda n.º 3 ou farda de trabalho, para o caso equipamento para ir à praia, de preferência à Praia dos Tomates, que isso de ir à Rocha é muito chunga: Calções de banho com cornucópias ETRO,160 euros na Fashion Clinic; Pólo verde seco Hugo Boss, 63. 09 euros; Chinelos em pele Gucci, 190 euros na Fashion Clinic; para levar a tralha (toalha, protector solar, sandocha, água e o Expresso), um saco de desporto Hugo Boss, preço sob consulta; e, muito importante, não vá o sol do meio-dia fazer das suas, um chapéu preto com fitas vermelha e verde por 180 euros, também na Fashion Clinic. Soma: 593. 09 euros, sem o saco…
Continuando.
Farda n.º 2; para sair a tomar um drink ou somente passear na Marina de Vila Moura – tomar um copo é para os lados de Armação de Pêra, Quarteira ou Ferragudo, e, à partida, é opção totalmente excluída: Jeans com pesponto Hugo Boss, 198. 45 euros; Camisa azul turquesa sem gola Hugo Boss, 107. 08 euros; quem quiser ter um visual menos Carlos Sousa, ou menos comunista renovador – o ex-presidente da Câmara de Setúbal, conhecido pelas suas camisas sem gola – pode optar pelo Pullover de riscas em V e mangas compridas (não é Hugo Boss!), Lacoste, por 214. 53 euros. Soma: 520. 06 euros. Como não aconselha sapatos, presume-se que os chinelos Gucci de praia sirvam para a ocasião.
Adiante.
Farda n.º 1, se quiser (e conseguir!) entrar na disco repleta de caras da Caras, para dançar ao lado da Cinha e da Pipinha – a Elsa está grávida e é pouco provável que apareça… - ao som de house manhoso, vulgo house pimba: Camisa cor-de-laranja estampada (se bem que o rosa seja a cor mais in este Verão; alguém passou a rasteira ao Expresso…) por 326 euros – guess who ?!: na fashion Clinic! Fato de linho amachucado Gianfranco Ferré, por 719. 10 euros, sem indicação onde comprar, mas pelo andar da carruagem deve ser na Clínica da Moda. Soma: 1045. 10 euros. Só.
Temos assim, e mais uma vez – convém lembrar! -, segundo o Expresso, para parecermos bem, nada de mariquices tipo Castello Branco, mais ao jeito do fadista-candidato a Lisboa; empatados dois mil cento cinquenta oito euros e vinte cinco cêntimos. Só. Isto é em roupa; o dinheiro para as férias logo se vê…
É isto que eu adoro no Expresso! È por isto que eu levo o trimestre em ânsias e a roer as unhas, à espera do dia em que saem as propostas fashion! No país em que o salário médio não atinge os 750 euros; um jornal com uma tiragem média de 144. 500 exemplares, é reconfortante pensar que se aconselha e se escreve para 144. 500 pressumíveis ou potênciais ricalhaços, e que pelos vistos são o público-alvo do Expresso. Tenho é pena (muita, quase um desconsolo!) que um jornal de referência, e com a dimensão do Expresso, só conheça duas ou três marcas e uma loja… E isto é o que de melhor me passa pela cabeça. Podia dar-me para pensar que o Expresso recebe umas coroas para falar no que fala e aconselhar o que aconselha. Mas isso era se eu fosse muito, mas muito má-língua; além do mais proíbido pelo código deontológico dos jornalistas. Longe de mim essas ideias! Lagarto, lagarto, lagarto!!!
Venham as propostas Outono / Inverno que estou aqui que nem posso!
"No 'O Diabo' desta semana, Alberto João Jardim observava: "Se fosse na Madeira, o que não seria! ..." Falava do caso do professor suspenso por uma funcionária zelosa, socialista e justiceira, que não admite aos que dependem dela que tenham má opinião do primeiro-ministro. E que se ponham com comentários impróprios, mesmo na privacidade do seu gabinete. Jardim tem razão. Se o caso ocorresse na Madeira, o que não seria!... Os socialistas não deixariam de gritar uma vez mais contra o défice democrático. E mais alto gritariam se um director-geral se lembrasse de abrir uma base de dados com fichas individuais de grevistas. Ou se o tribunal de Contas - uma força de bloqueio, visto do Funchal - detectasse 700 milhões de euros de despesas públicas irregulares. Será que, depois de tudo o que se disse sobre Jardim, a sua prática fez escola? Será que já chegámos à Madeira?"