"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
Morre Fausto, um dos nomes maiores da música popular portuguesa de sempre, no panteão ao lado dos dois Zés, o Afonso e o Mário Branco, e no dia a seguir são estas as primeiras páginas dos três jornais generalistas que ainda restam nas bancas. Melhor que isto só a peregrinação de um Papa a Fátima. Merecemos tudo o que nos cai em cima.
Andaram o Tavares, o Raposo, o Fernandes e o painel todo do Observador, mais uns patetas avulso nas televisões, laboriosamente a construir uma narrativa em torno das transferências de votos do eleitorado, tradicionalmente PCP/ CDU/ comunista para o Chaga, no Alentejo e nas zonas urbanas anteriormente conhecidas por "cinturas industriais", para depois a sondagem Aximage para os Notícias, Diário - Jornal, e TSF deitar tudo por terra.
Escrevem hoje o Diário de Notícias e o Jornal de Notícias em parangonas de primeira página, respectivamente, que "Seis pontes e cinco fins de semana alargados ameaçam produtividade" e que "Patrões queixam-se de perdas de produção. Feriados no próximo ano vão permitir cinco fins de semana alargados". Como não há almoços grátis o que nos privado equivale a que quem quiser fazer pontes ou fins-de-semana alargados tem de para esse efeito usar dias de férias e ainda assim negociado com a entidade patronal com bastante antecedência, vulgo no final do ano anterior que é quando são marcadas as férias do ano seguinte, e ainda assim dependendo do serviço e não podendo pôr em causa o normal funcionamento da empresa, o que quer dizer que mesmo que o trabalhador queira a tal da ponte há sempre um "mas" a considerar; que até empresas como a Autoeuropa e a Visteon Corporation , por exemplo, que não são propriamente mercearias de bairro, no princípio de cada ano fazem chegar às empresas fornecedoras e/ ou associadas e/ ou que trabalham em função de, um calendário onde constam todas as férias, paragens, pontes e fins-de-semana prolongados programados, por forma a não haver a tal da quebra de produção e a ameaça à produtividade com que o Diário de Notícias e o Jornal de Notícias fazem as grandes parangonas, ou isto é jornalismo de encomenda para patrões do princípio do séc. XX que no séc. XXI cheios de cagança ostentam "empresário" antes do nome, ou isto é jornalismo ideologicamente capturado pela direita radical dos baixos salários e da precariedade como modelo, ou isto é só mau jornalismo, ou isto é todas as três hipóteses numa mistura de merda, literalmente.
A diferença entre jornalismo e bosta pode ser demonstrada por dois artigos de opinião, assinados, respectivamente, por Inês Cardoso, sub-directora do Jornal de Notícias – "Formigas sem medalha" – o jornalismo, e "Excursão ao Rio", a bosta assinada por um também director-adjunto mas do pasquim impresso em papel de jornal e que dá pelo nome de Correio da Manha [sem til].
É a expressão, o sorriso ausente e a pose superior que fazem o objecto das crónicas de José Gomes 'Programa de Governo' Ferreira e de Nuno 'Murganheira' Melo ou é antes o objecto das crónicas de José Gomes ‘'Programa de Governo' Ferreira e de Nuno 'Murganheira' Melo que faz a expressão, o sorriso ausente e a pose superior?
A maior parte dos "partidos irmãos" que sobraram da família ideológica do PCP depois do desmoronamento da URSS e do Bloco de Leste é daquele tipo de parentes que as famílias comuns se recusam a receber em casa e de quem nem querem ouvir falar.
O Partido Comunista da China era, em vida da URSS, um parente de quem o PCP activamente se envergonhava. Mas família é família e os laços de sangue acabam por falar mais forte, sobretudo em situações de orfandade. O PCP tem feito tudo para preservar as relações "fraternais" com o PCC, esticando além dos limites do tolerável o conceito de "assuntos internos" (para não falar do de "construção do socialismo") e apoiando acriticamente na China o capitalismo selvagem e sem regras que condena em Portugal.
Pensar-se-ia que os rasgados elogios agora feitos pelo vice-primeiro-ministro, Li Keqiang e pelo ministro dos Negócios Estrangeiros, Yang Jiechi, à política de austeridade em Portugal e ao "exemplar cumprimento" pelo governo português daquilo que o PCP justificadamente chama "pacto de agressão" merecessem algum comentário, mesmo que tímido, do PCP.
Não mereceram. Nem isso nem as relações bilaterais recentemente formalizadas entre PCC e CDS/PP. Trata-se de relações mais saudáveis e transparentes do que as fundadas numa oportunística consanguinidade ideológica. Ao menos CDS e PCC defendem a mesma coisa, independentemente das latitudes.
Na caça aos dotes de Clóris e Nise, curiosa a bicada dada por Gil Vaz em Fuas, que é como quem diz, a farpa do Correio da Manhã, em editorial, no "rival" Jornal de Notícias, na guerra pela conquista do nicho de mercado.
Ficamos todos a saber que, para o Correio da Manhã, há nichos de mercado, o do crime, do populismo, e o da fixação psicótica em determinados políticos, mais nobres que outros nichos, o da futebolite-regionaleira, inevitavelmente com sotaque.
E ainda mais curioso é a bicada vir quando o Jornal de Notícias abdica, por vontade própria, de ser um jornal de dimensão nacional para passar a ser um jornal regional com tiragem nacional.
Leio sempre o Manuel António Pina. Todos os dias. E quando por alguma razão não aparece sinto falta dele. Não sabia era que também era lido pelo Manuel António Pina.