"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
Com o circo que se adivinha para as presidenciais de 2026 - Marques Mendes, Tozé Seguro, Mário Centeno, Santana Lopes, e ainda a tenda está a ser montada, com as sondagens a darem um e picos por cento ao outrora mestre do parlapié e da conversa fiada nos congressos do Pê Pê Dê/ PSD televisionados, o presidente da câmara da Figueira dá um saltinho a Coimbra para procurar alento e uma vaga de fundo nas jornadas parlamentares do partido da taberna, depois do fiasco Aliança lhe ter mostrado que a marca "Santana" vale zero fora do laranjal. Do animal político ao animal oportunista, a evolução da espécie. Dele e do ex-camarada de partido.
As jornadas parlamentares do CDS, em Setúbal, com Assunção Cristas, a falar mal dos sindicatos, António Saraiva, da CIP, a falar mal dos sindicatos, o moço de fretes da CIP, perdão, o secretário-geral da UGT, a falar mal dos sindicatos. "Há sabujos de raça nos sindicatosagitadores profissionais na Autoeuropa". Muito bom!
Excluindo a acentuada baixa de salários e consequente perda do poder de compra, a precariedade e a perda de direitos e garantias, com a cumplicidade dos homenzinhos responsáveis da UGT, e uma vez que a teoria do "fizemos uma alteração estrutural da economia portuguesa" teima em ser desmentida pela realidade, Pedro Passos Coelho ensaiou, perante o aplauso da assistência, nas jornadas parlamentares PSD/ CDS-PP de Alcochete, um novo mito urbano, o de se a economia portuguesa é por natureza propensa ao consumo [que é como quem diz "o que é que querem que faça? só se os puser a todos a pão e água"] como é que ainda há quem defenda um incentivo ao consumo como estímulo para o crescimento? Aqui está o novo mito urbano, o do diz que disse da reforma estrutural da economia.
Já não há pachorra para este jornalismo de estagiários, impreparado, amorfo e acéfalo, de microfone na mão a abanar o rabo à porta dos ministérios e secretarias de Estado, correia de transmissão do spin governamental, sem nunca questionar as contradições, as meias verdades e as mentiras do Governo, sem nunca confrontar o Governo com a sua novilíngua e os factos, a realidade das coisas e as suas implicações na vida das pessoas, deixando o "trabalho de casa" a cargo dos comentadores que infestam as rádios e televisões, todos da área do Governo, e que fazem o "trabalho de casa" da casa do Governo.
As pessoas recebem o salário por transferência bancária e as pessoas vão às compras e pagam a renda da casa e pagam a água e a luz e pagam a televisão por cabo e a internet e pagam o passe do transporte público e pagam a escola dos filhos e pagam a conta da farmácia e pagam tudo com o dinheiro do ordenado que foi depositado pelo patrão na conta, aberta no banco por exigência da entidade patronal, pelas pessoas.
As pessoas são umas desmioladas gastadoras que não fazem mais nada na vida do que levantar dinheiro para pagar. Há que castigar as pessoas de modo a obrigá-las a poupar. E há que voltar aos idos da “Primavera Marcelista”, que foi quando a dona Teodora, uma sumidade, uma excelência, uma expert, um Prémio Nobel em potência, despontou para a economia e finanças e política e arte de largar bitaites, com aura de teoria científica, por mais desmiolados que sejam, e obrigar as empresas a pagar em cash o ordenado todos os meses.
"Podes brincar e blasfemar que ninguém crê, Porque é estupendo ouvir cantar o Chevalier, E o sonoro além de mais moderno, È uma alegria de orgia que faz bem
Teodoro não vás ao sonoro, Teodoro não vás mas eu vou, Porque adoro na vida o sonoro, E há-de ser Teodoro, quem chorar, chorou"
Com cobertura apática e amorfa, e cumplicidade mediática quase a roçar o pornográfico, a maior acção orquestrada de propaganda desde a pré-campanha e campanha eleitoral para as legislativas de 2011, as jornadas parlamentares conjuntas do PSD e do CDS.