"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
Em vez de ser o Papa a agradecer a António Costa os mais de 40 milhões do contribuinte empatados, com desaceleração da economia, menos dormidas em hotel, menos compras e menos consumo em restaurantes, com excepção do restaurante Pinóquio nos Restauradores, com fila à porta, foi António Costa ao Vaticano, com uma comitiva de pasmados, agradecer ao Papa a escolha de Portugal para sede da Jornada Mundial da Juventude.
Agora que se confirmou aquilo que algumas vozes mais esclarecidas já tinham previsto, que o encontro de excursionistas católicos, na novilíngua "peregrinos na Jornada Mundial da Juventude", ia ter impacto residual na economia, ou mesmo igual a zero - Economia desacelerou com a Jornada do Papa em Portugal, prontamente apodados de esquerdistas, mata-frades, comunistas, jacobinos, e outros mimos, as contas que ficam por fazer, e era bom que alguém as fizesse, é de quantos milhões necessitava o Estado - Governo e autarquias, para recuperar o agora denominado "Parque Tejo" e erguer a Ponte do Icebergue, dito de outra maneira, quantos Parques Tejo e quantas pontes do contribuinte tinha o Estado construído sem misturar política com religião?
Andou a Renascença durante anos com o menino Ventura ao colo, a dar-lhe palco e projecção, a apresentá-lo lavadinho e apresentadinho, um rapazinho tão crente e temente a Deus, para agora descobrir que ele morde a mão a quem lhe deu de comer. Não foi por falta de aviso.
O padreco com quem Marcelo fazia panelinha para abafar o nome dos padrecos que abafavam os menores vai ter nome numa ponte. A seguir recebe uma medalha no Dia da Raça. Todos os povos têm as merdas que merecem ter.
Nós, na nossa santa ignorância, pensávamos que a Jornada Mundial da Juventude significava debates, encontros, conferências, simpósios, palestras com direito a interpelações, etc, etc, conclusões, ideias, caminhos a apontar. Afinal o Papa, que às vezes é o Santo Padre e outras Sua Santidade, chega, diz meia dúzia de coisas que alguém com boa formação familiar e humanista ouve em casa desde que nasceu, respeitar o próximo, não discriminar, não olhar de cima, incluir, coise e tal - a angústia de Francisco ao constatar a igreja que herdou para ter de lhe dizer o óbvio, recebe quem muito bem entende receber sem dar cavaco a ninguém nem justificar opções, prontamente interpretados os sinais pelas pitonisas papais, que, pasme-se, são mais que os comentadores de futebol - o Papa quis dizer isto, o Papa quis dizer aquilo [se o quis dizer porque é que não o disse logo preto no branco e deixou a interpretação a cargo de terceiros?], e um grupo de patetas, denominados "jovens", faz barulho para as televisões, excursionistas que na novilíngua equivale a "peregrinos". A ideia de jovem e juventude que a ICAR tem é afinal a mesma desde que Pedro que, ao contrário do Papa ainda não era santo, pisou as ruas de Roma: os velhos falam e os jovens abanam o rabo com a língua de fora e vão encarneirados tomar o "corpo do Senhor". Amém.
É ir ao sítio da Presidência, secção Mensagens, "Marcelo lamenta", desde a morte do George Michael à do Artur Garcia, passando pela Gal Costa, o "menino Tonecas", a Linda de Suza, o Nicolau Breyner, um polícia anónimo. Marcelo não lamenta a morte de Sinéad O' Connor, nem sequer conhecia uma musiquinha que fosse. E também não era preciso rasgar uma foto de Sua Santidade, O Papa, em cima do palco. Não havia necessidade. Aqueles casos na Irlanda "não parece que seja particularmente elevado", a sua "convicção é de que haverá muitos mais". E também é sua a convicção de que o Bordalo nunca irá receber um medalha no Dia da Raça. [Se calhar também não queria, vai-se ver e o sacana é arraçado de Zeca ou Zé Mário Branco]. Por mais que lhe expliquem faz que não percebe que "era preciso, de facto, baixar" o preço do alta. E baixou-se. Os milhões em ajustes directos de última hora são imponderáveis que fugiram aos ponderáveis dos milhões em contratações de primeira hora. Mas há o investimento reprodutivo de toda aquela gente hospedada em pavilhões municipais, casas de fiéis, refeições incluídas como pediram os párocos nas homilias. O plástico na garrafinha de água. Logo agora que o Sousa Cintra já se deixou disso.
O Presidente da República do Estado laico, como qualquer português que se preze assim que dá com um buraco na estrada, uma pá ou uma retro escavadora, foi ver o andamento das obras para receber o Papa à beira do Trancão, depois da birra entre a autarquia e o Governo para ver se a empreitada de 6.997.327,95 € era paga pelo contribuinte, via câmara municipal, ou se a empreitada de 6.997.327,95 € era paga pelo contribuinte, via Estado, já que a isenção de imposto de selo, de emolumentos, de taxas de esgotos, de IMI, de IMT e de quaisquer outros impostos e taxas nacionais, regionais e locais, de que a Igreja Católica beneficia, não é compensada pelo que entra pela porta do cavalo em donativos e esmolas, e o dinheirinho não chega para receber com dignidade o secretário de Deus no planeta Terra.
Deus é grande mas o contribuinte ainda é maior, apesar de se escrever em minúsculas [e não há dinheiro para nada].