"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
Lembram-se de quando eles andavam pelos blogues a escrever que era necessária uma administração pública profissional, de carreira, independente de nomeações políticas, como acontece em Inglaterra? Foram depois cooptados para o governo da troika de Passos Coelho e Paulo Portas como "técnicos" e "especialistas", do quê, isso também não interessa nada, ganharam currículo, foram colocados em sectores chaves da administração pública. Regressaram outra vez com o governo do ex-líder da bancada parlamentar que suportava o governo que lhes deu currículo. A saga das nomeações contínuas, continua, até porque o PS colonizava, colonizou, coloniza o aparelho do Estado. Há sempre papalvos para engolir o que lhes metem à frente.
"O ex-Presidente da República Cavaco Silva classificou hoje a prática de nomeações partidárias para cargos dirigentes da administração pública, conhecida como jobs for the boys, como “indecorosa”."
Independentemente das leis aprovadas, por aprovar e a aprovar no futuro, próximo, médio ou distante; independentemente das pressões e dos timings e da vigilância do presidente, deste ou de outro qualquer que lhe suceda; independentemente das reformas ou das revoluções a fazer na estrutura administrativa do Estado; independentemente deste Governo, dos que lhe sucedam, do PS, do PSD, do CDS, cada um por si ou em aliança em todas as conjugações possíveis entre eles; independentemente de tudo isso o que importa saber é da vontade política de resistir a encarar as diversas "agências" do Estado como coutada, como agência de colocação de emprego para os militantes e fiéis simpatizantes, também conhecidos por "independentes"; saber da vontade política de dotar o Estado de uma administração profissional, eficaz e eficiente, não dependente dos ciclos eleitorais nem de progressões automáticas de carreira só porque sim. Na floresta, no mar, em terra. O resto é conversa para encolher os ombros.
De regresso aos blogues, ao Facebook e ao Twitter, ao glorioso ano de 2011, o ano da criação de emprego entre as hostes da direita, os escudeiros do sector privado debaixo do chapéu de chuva e de sol do Estado, às custas do dinheiro dos contribuintes, às custas daqueles que conseguiram manter o emprego depois do glorioso ajustamento da economia e das grandes reformas estruturais para 1 000 anos. Não há mal que sempre dure nem bem que nunca acabe.
"O grupo parlamentar do PSD está verdadeiramente surpreendido e até, diria, um pouco estupefacto com estas alterações que têm vindo a ser feitas, nomeadamente a forma como têm vindo a ser efectuadas."
Quatro anos a colonizar o aparelho do Estado com boys, "técnicos" e "especialistas", na base do mérito e da competência achada na blogosfera pré 2011, perdão, quatro anos a nomear chefias para o aparelho do Estado na base do mérito e da competência e nas necessidades, não gordurentas, do Estado, alguns nomeados já em "período de descontos concedido pelo árbitro", para agora chegai o PS e agir como se fosse "o dono disto tudo" e pôr um ponto final à reforma estrutural que Pedro Passos Coelho e Paulo Portas queriam de provisória para efectiva, o PSD e o CDS como agências de colocação de emprego. Parece que o primeiro-ministro no exílio também vai ter uma corte no exílio.
Eduardo Catroga, Celeste Cardona, Paulo Teixeira Pinto, Rocha Vieira, Braga de Macedo, e as privatizações ainda nem passaram a curva da recta da meta; John Antunes, Manuel Frexes, Álvaro Castello-Branco, Vasco Graça Moura; a mana da ministra, os “tios” e as “tias” mais os sobrinhos do condomínio; os milhares de nomeados para as administrações regionais, secretarias de Estado, institutos e fundações, que são para extinguir quando houver tempo e campanha eleitoral; assessorias diversas, recrutadas na blogosfera; e que me desculpem aqueles que ficaram esquecidos.
Tem razão o senhor deputado Rui Santos quando acusa o senhor ministro Pedro Mota Soares de «criar 'jobs for the boys'» já que os Pê Pê Dês e os Cê Dê Ésses foram apanhar ainda quentes as cadeiras deixadas pelos Pê Ésses boys que tinham ido substituir uma leva anterior por nomeação da “má moeda”. Não chega para todos. O bolso do contribuinte.
Agora que os senhores Ruis Santos da casa da Democracia deviam ter a noção do ridículo e perceber que já vai faltando a paciência ao povo para estes parlamentares blow jobs de merda essa é outra questão.
Na melhor linha da família Soares e ilhas adjacentes (Jorge Coelho, por exemplo) “fulano de tal, que tenho o prazer de conhecer e de quem sou amigo, e que aproveito para enviar daqui um grande abraço” (foda-se que não há pachorra), Henrique Monteiro começa hoje a sua coluna no Expresso (sem link) dedicada aos boys with jobs e ao “affair” José Apolinário - ao qual oportunamente já dediquei umas quantas linhas - com “nada me move contra ele”, segue-se a retórica da ordem, e termina com “é muito significativa [a nomeação de Apolinário] do estado da nossa nação”. Está lá tudo, basta ler o início e o fim. O estado da nossa Nação: políticos profissionais/ corporação do papel impresso; corporação do papel impresso/políticos profissionais, tu és um grande filho da puta mas nada me move contra ti e desculpa lá mas tenho de escrever isto que é para isto que me pagam.
Se dúvidas houvessem que os jobs existem à medida dos boys, aí está a prova que faltava a alguns cépticos (era para escrever anjinhos…).
Armando Vara que se prepara para dar o salto (à vara?) da Caixa para o BCP, quer jogar pelo seguro, e, não vá o diabo tecê-las, pediu licença sem vencimento enquanto a situação no “outro lado” não fica completamente esclarecida.
Licença sem vencimento; leram bem! Na minha empresa – privada – não há licenças sem vencimento. Por uma razão muito simples: as pessoas estão na empresa, porque a empresa precisa delas para determinada função. A haver licenças sem vencimento, implicava a empresa contratar outra pessoa para ocupar o lugar da que está de licença.
Licença sem vencimento, suportada por um banco ou por uma empresa, significa uma coisa, e só uma: estar ou não estar é igual ao mesmo. E a isto chama-se One Job For The Boy.
Mais importante que o milhão de euros em indemnizações a pagar pelo Estado – por decisão do Supremo Tribunal Administrativo – aos 18 directores dos centros distritais do Instituto de Solidariedade e Segurança Social demitidos pelo ministro Bagão Félix; mais importante que ficarmos a saber que o Estado não vai recorrer da decisão; era sabermos que medidas foram, estão, ou vão ser tomadas para evitar que casos como este se tornem a repetir. Vai ficar escrito, preto no branco, que é de trabalho temporário que se trata; até novas eleições? Ou vai-se apostar definitivamente na criação de uma Administração Pública profissional, de carreira, imune aos ciclos eleitorais, à imagem do que acontece por exemplo em Inglaterra?
Cargos efémeros como estes – de nomeação política, dependentes dos ciclos eleitorais – devem ter cláusulas de rescisão milionárias? Se quem nomeou, quando perde as eleições se vai pura e simplesmente embora, sem receber indemnização, porque razão quem por ele nomeado têm tratamento de excepção?
As nomeações foram efectuadas era então primeiro-ministro António Guterres, célebre pela frase “No Jobs For The Boys”; à excepção de pelo menos estes 18, claro. Calhou por um acaso do destino que as indemnizações sejam pagas por um Governo da mesma cor politica; do mesmo partido. Um eufemismo está bem de ver; porque quem as paga somos todos nós, independentemente do partido que esteja no Governo.
Uma dúvida ficara sempre por esclarecer: se as indemnizações a pagar fossem referentes a nomeações efectuadas por Durão Barroso ou Santana Lopes, o Estado por interposta pessoa – este ministro –, resignava-se ao pagamento?