"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
Uma das grandes artes, imagem de marca, de Pedro Passos Coelho é a de conseguir dizer uma coisa, com a cara mais preocupada do mundo, e fazer exactamente o seu contrário sem sequer pestanejar, e continuar e continuar e continuar a fazer e a desdizer-se sem sequer corar.
O último exemplo com que nos brindou foi o da nomeação do senhor Joaquim "da Católica" [a Fernanda explica porquê] para presidir à comissão que vai descobrir a fórmula físico-química da mulher a parir até fechar a fábrica, porque os católicos "da Católica" não fazem isto por menos, apesar dos estudos estarem há já muito feitos, com as causas identificadas e com soluções definidas.
Nos idos em que as mulheres não iam à escola e os homens, os que iam, iam só até à 3.º classe, televisão nem vê-la, rádio só a pilhas e para ouvir o relato, sem idas ao teatro ou ao cinema, trabalhar de sol a sol, 7 dias por semana, 365 dias por ano, sem salário mínimo, nem contratação colectiva, nem sindicatos, nem Serviço Nacional de Saúde nem Segurança Social, os casais tinham 6, 8, 10 filhos, quer dizer, as mulheres pariam 6, 8, 10 filhos, e ficavam em casa a tratar da roupa e do jantar, quando havia, e os putos, com o ranho pelo nariz, descalços e com roupa remendada, enquanto não herdavam a roupa remendada dos mais velhos, que iam à escola até à 3.ª classe, os que iam, e voltavam rapidamente, e em força, para trabalhar ao lado do pai para compor o orçamento familiar, até casarem com mulheres que pariam 6, 8, 10, filhos e ficavam em casa, sem saber ler nem escrever, a tratar da roupa e do jantar, quando havia. Ou fugir para a emigração para fugir a um futuro sem futuro. Qualquer semelhança é pura coincidência, como nos filmes amaricanos.
Daí o aumento do desemprego, quem não tem dinheiro não tem vícios, e não precisa de cultura nem de lazer para nada enquanto desempenha o papel que lhe atribuíram de força de pressão sobre os que ainda vão mantendo o trabalhinho. Trabalhar com fé é dever sagrado, como na canção.
Daí a baixa de salários no sector público, e no sector privado por via das alterações ao Código de Trabalho em favor da rigidez patronal, e quem ganha pouco tem de se governar com pouco e quem não tem dinheiro não tem vícios.
Daí o aumento do IMI a onerar ainda mais o orçamento familiar, reduzido pelos sucessivos cortes e taxas e impostos, e a desincentivar a compra de casa própria porque o sentimento de propriedade é pernicioso à sociedade que se quer subserviente e respeitadora das hierarquias, numa sociedade liberal governada por uma direita defensora da… propriedade privada.
Daí a exclusão do subsídio de férias e de Natal para o cálculo dos apoios à maternidade e a atribuição do abono de família de modo a que é preferível não receber abono algum porque é sinal de que se não desceu mais um andar no “elevador social”.
Daí as propostas da jota que é democrata e cristã para que se baixe a escolaridade obrigatória.
Ele tem um plano e nós bem que o compreendemos e nem precisamos de esperar por nenhum Joaquim da Universidade Católica, basta perguntar aos nossos pais ou aos nossos avós das recordações que guardam do plano para o aumento da natalidade.