"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
João Soares, na avença semanal na televisão pública, a meter as mãos no lume pela idoneidade, honestidade, e outras coisas terminadas em "ade", de Fernando Medina, porque conhece o pai e a mãe do dito cujo e isto é uma coisa da genética, quem sai aos seus não é de Genebra. O Pluto não é o filho da Pluta ou o grau zero do comentário político.
Desde António Ferro que andamos nisto, um responsável governamental nomeado para a Cultura e, atrás de si [dele], o correspondente cortejo de artistas subsidiários, mais ou menos oficiais do regime, consoante o colorido dos governos da ocasião, na proporção exacta aos ódios de estimação e desprezados, em stand by até que novos ventos soprem nas urnas, mais aqueles que têm o dom de adivinhar quando é que o vento vai começar a mudar e a arte para parecer que são eles quem sopra o vento para determinada direcção.
"A grandeza do discurso viril" foi a figura de estilo que não ocorreu a Ascenso Simões quando José Eduardo Martins quis ir às fuças [semântica novecentista] a Afonso Candal.
Ética republicana, eu é que sou a verdadeira socialista, doutrina social da igreja, recepções a chefes de Estado estrangeiros com repasto servido em depósitos de velhos, administrados pela indústria da engorda à custa da miséria alheia a expensas do Estado - IPSS's, servido em talheres de prata pagos pelos suspeitos do costume e discos do Frank Zappa.
Depois de 4 anos de amiguismo e de fidelidades partidárias nas nomeações de "técnicos", "especialistas", senhores doutores, e senhores professores doutores e outros pantomineiros, onde a competência não era tida nem achada para os cargos a ocupar e as funções a desempenhar, alguém que não puxa da pistola de cada vez que ouve falar em cultura.
E não é pela passagem de secretaria de Estado a ministério mas tão simplesmente por João Soares ter como vantagem em relação aos seus antecessores nestes quatro anos o não puxar da pistola quando ouve falar em cultura.
Quando João Soares, Partido Socialista, no frente-a-frente com José Eduardo Martins, PSD, no telejornal da SIC Notícias, aquele que era do Mário Crespo, proclama, ad nauseam, todos os dias que lhe pagam para lá ir que lá vai que é “um genuíno social-democrata”, assim como o seu oponente de debate e depois, a propósito da desregulação financeira e da promiscuidade entre poder político e poder económico, diz que o Gerhard Schröder e o Tony Blair e o coise e tal mas “a direita é que lixou isto tudo” e aponta para o seu oponente de debate, José Eduardo Martins, minutos antes um genuíno social-democrata, quer dizer exactamente o quê?
Sou capaz de jurar que ouvi João Soares, no telejornal das 21 na SIC Notícias, dizer para Nuno Magalhães do CDS-PP: "Nós temos um adversário comum que é o PSD".
Como "gato escaldado de água fria tem medo", o comentador-conselheiro-de-estado-professor-realizador-de-vídeos acabou vítima do seu passado de compositor de óperas bufas.
E uma vez que ninguém sério o leva a sério, a questão que se coloca para o futuro é se Cristo irá um destes dias descer à Terra e confirmar nas urnas outro ditado popular: "depois de mim virá quem de mim bom fará".
Post-scriptum: Para a semana fala com Hugo Chavéz e com o fantasma do Pedroto no intervalo de escrever 20 crónicas para o jornal Expresso e antes de comentar a liga de futebol no telejornal da TVI.
Lembrei-me disto depois de ontem ter visto João Soares, brother in arms do carniceiro-racista Jonas Savimbi, todo empertigado no telejornal da SIC ‘Mário Crespo’ Notícias com os negócios da filha de José Eduardo dos Santos em Portugal e com os anos que o dito leva no poder.
Estava ali a ver o João Soares, o amigo do carniceiro-terrorista Jonas Savimbi – um preto apoiado pelo regime do apartheid sul-africano – na SIC Notícias a vaticinar que a seguir a Kadhafi na Líbia ia ser a vez de José Eduardo dos Santos em Angola. Pois.