"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
Ernst Thälmann, dirigente do Partido Comunista Alemão [KPD], fiel a Estaline, assassinado em 1944 em Buchenwald por ordem directa de Hitler.
Quando o inimigo era a social-democracia, rebaptizada social-fascismo por ordem de Moscovo, valeu tudo, até aliança com os nazis do NSDAP para piquetes de greve na Berliner Verkehrsgesellschaft, empresa de transportes de Berlim. Agora, quando o fascismo está aí outra vez em força e é cada vez mais urgente uma unidade e convergência entre forças democráticas e progressistas, há quem faça depender a participação numa manifestação anti-racista, no mesmo dia dia em que os fascistas organizam um desfile "contra a imigração", do suposto apoio à NATO, a força militar mais multicultural, multiétnica e multinacional da história, e um alegado silenciamento sobre as acções de Israel na Palestina. "Política unitária não é isto", política unitária é deixar o cérebro em casa e obedecer aos ditames do Comité Central.
Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa, mas a tradição ainda é o que era.
O Expresso chegou ontem ao número 2500 e decidiu assinalar a data. Para lá de um suplemento preguiçoso, convidou Leonor Beleza, Paula Amorim e Joana Vasconcelos para uma ideologicamente reveladora colaboração editorial, tendo o poder de definir os temas a abordar neste número. Estamos perante representantes, respectivamente, do filantrocapitalismo, do capitalismo monopolista de herdeiros e da cultura do porno-riquismo, celebrada, por exemplo, em Versalhes.
Paula Amorim excedeu-se no suplemento de economia: da opinião de Paulo Portas à de Adolfo Mesquita Nunes, este último assalariado de Amorim na Galp; de uma entrevista a Salvador de Mello da CUF, um capitalista da doença parasitária a uma notícia sobre investimentos na Graça do seu sócio no rentismo fundiário da Comporta, o francês Claudio Berda.
E que dizer da espiritualidade de um capitalista reformado da indústria farmacêutica, Luís Portela, na revista? Toda uma cultura. Houve de tudo.
Mas será que houve mesmo um tempo em que esta imprensa teve alguma autonomia real em relação aos interesses e valores dominantes, os da classe dominante? Não sei. Sei que neste tempo não tem qualquer autonomia editorial e já não disfarça.