"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
«Tenho alguma estranheza como é que o povo português levou pancada durante quatro anos e está disposto a manter a confiança num governo que cortou salários, pensões, reduziu a concertação social a um diálogo de surdos, bloqueou a negociação colectiva, mesmo que se diga que foi por imposição do FMI».
Era algum jornalista, até podia ser mesmo um estagiário e vinha a propósito, ir perguntar ao homenzinho responsável e cheio de "sentido de Estado" e ex-sindicalista não menos responsável e não menos cheio de "sentido de Estado", João Proença, se já leu o relatório do FMI.
Não foi nada com ele. Homenzinho com agá grande. Responsável e estimado entre os grandes do comércio e da indústria. Prenhe de "sentido de Estado". Medalhado no Dia da Raça. Almeja agora ocupar a presidência do Conselho Económico e Social. Merece. Trabalhou para isso. A assessoria na Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal é curto demais para ele.
Carlos Silva, o depois de autorizado por Ricardo Salgado, secretário-geral da UGT, propôs a António Costa, secretário-geral do Partido Socialista, o nome de João Proença, ex-secretário-geral da UGT e ex-assinante de coisas e ex-terminator do sindicalismo e da contratação colectiva em Portugal, para presidir ao Conselho Económico e Social. Diz que António Costa, secretário-geral do Partido Socialista, achou a ideia interessante.
Parece que cabe a António Costa fazer tudo o que estiver ao seu alcance para desfazer o que António José Seguro fez, dividir e escaqueirar o partido. Parece também que a ideia dos "seguristas" é ter alguém a fazer o que António José Seguro não fez, a defesa da liderança anterior à sua e da história do partido, nem que para isso tenham, os "seguristas", de continuar a escavar na divisão do partido com a invenção de nomes para o congresso.
Quando o "simbolismo" da imagem de seriedade que se quer passar para o eleitorado passa por convidar Vítor Bento para o palanque, assim de repente, o Vítor Bento trabalhador-invisível das promoções por mérito, o Vítor Bento da suspensão da democracia, estamos conversados.
Adenda: Ainda com uma secreta esperança de ser hoje o dia em que João Proença denuncia o acordo de concertação social por o Governo continuar a não cumprir e a adiar as medidas para o crescimento e emprego, esta parte foi copiada de um discurso de Pedro Passos Coelho, não foi?!
Usar a novilíngua do novo capitalismo especulador financeiro e classificar-se a si próprio como "colaborador"; pedir autorização ao patrão para assumir cargos de direcção sindical; ter a presença de um ministro, qualquer que ele seja, de um Governo, qualquer que ele seja, na sua despedida e/ ou na tomada de posse do seu sucessor.
Isto se for um sindicalista com consciência de classe, claro, porque se for um sindicalista "betinho" e "bem comportado", aí o caso já muda de figura.
Miguel Sousa Tavares escreve esta semana no Expresso sobre o óbvio, e que é exactamente sobre aquilo que muita gente vem desde sempre a escrever - este blog incluído, na blogocoisa, coisa que ele abomina. Tanto melhor, como é mais lido, chega a mais gente, pode ser que assim entre nalgumas cabecinhas benevolentes, secretário-geral do PS incluído, mais o seu "o Governo errou" e "o Governo não cumpriu". Mas esqueceu-se Miguel Sousa Tavares de nomear o "sujeito", de chamar os bois pelos nomes na parte do "rever a legislação laboral". É que a legislação laboral, depois de revista, foi assinada, repito foi assinada, em sede de concertação social. Até percebo que a ideia agora seja malhar no Governo com força, "vassourada!" e "andor!", mas a culpa não pode morrer solteira, ou pode?
«[…] primeiro, rever a legislação laboral, para tornar os despedimentos fáceis e baratos; por essa via, criar um batalhão de desempregados que pressionem o mercado de trabalho, fazendo baixar os custos salariais; assim, potenciar os lucros de algumas empresas de mão-de-obra intensiva; e, assim, garantir o sucesso do “ajustamento” da nossa economia, “so help them God”.»
Alguém sabe onde é que param as medidas do Governo para o crescimento e emprego que fizeram João Proença recuar na intenção de denunciar o acordo da concertação social? É que já lá vão 3 meses...