"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
Disse João Cotrim de Figueiredo, em entrevista no telejornal que era do Mário Crespo na televisão do militante.º 1, que se avalia melhor que os comentadores que nos pós debate gastam meia hora para avaliar o que ele disse em 10 minutos. Ele e a generalidade dos espectadores que vêm o debate pelo debate e não como uma luta de galos onde ganha quem interromper mais, quem fizer mais barulho, quem usar a linguagem corporal para invadir o espaço do oponente, veja-se Sebastião Bugalho, a abrir os braços sem cerimónias, quase a tocar fisicamente Francisco Paupério, candidato pelo Livre, sem respeito por ninguém naquela mesa. Só que uma vitória atribuída a Cotrim de Figueiredo num painel enviesado, e escolhido a dedo para ser enviesado, era uma impossibilidade já antes de haver debate, e era mais que uma derrota de Sebastião Bugalho, era a derrota da coligação PSD-CDS, o pavor da direita velha, o desmontar da mediocridade Bugalho e da mediocridade que o promove.
Insuspeito eu de ser ilusionista liberal ou votar sequer no senhor João.
Deu para António Costa finalmente proferir as palavras proibidas feitas palavrinhas mágicas: "maioria absoluta";
Deu para Rui Rio aparecer de gravatinha cor de fralda de bebé mudada, qualquer que se a a mensagem subliminar;
Deu para Catarina Martins explicar ao moderador, Carlos Daniel, o que está em causa e o que vai ser votado dia 30;
Deu para António Costa começar ao ataque, que é como quem diz à mentira, com "a alternativa à maioria absoluta ser crise atrás de crise e eleições de 2 em 2 anos" apagando em directo e a cores os anos entre 2015 e 2018, qual Estaline de tesoura em riste a cortar fotografias com o Trotsky;
Deu para Chicão, nascido em 29 de Setembro de 1988, recuperar a memória do sofrimento que foram os anos do PREC;
Deu para Ventura, líder de um albergue de neo nazis e fascistas saudosos de Salazar, invocar os países que nos ultrapassaram na União Europeia, os de leste que nos idos do matacão de Santa Comba tinham homens no espaço enquanto nós tínhamos uma autoestrada de Lisboa ao Casal do Marco, as estradas pejadas de carroças puxadas a burros e demorávamos 5 horas a chegar ao Algarve;
Deu para João Oliveira esfregar na cara de António Costa que os ganhos que exibe como trunfo para uma maioria absoluta só foram possíveis porque o PCP se chegou à frente, caso contrário tínhamos gramado com mais 4 anos de Governo da troika, com o PS a abanar a cabeça na bancada como os cães de feira que nos 70s se usavam na parte de trás dos carros;
Deu para Cotrim de Figueiredo dizer que acreditava no Pai Natal com as pessoas que sobem na vida a trabalhar;
Deu para Rui Rio afirmar que já reduziu despesa pública em empresas privadas;
Deu para Ventura recuperar a bisca das "fundações e organismos que absorvem recursos do Estado" lançada pelo Criador, Passos Coelho, nos anos do Governo da troika;
Deu para Rui Rio, líder de um partido que há 40 anos não faz outra coisa que desinvestir e retirar competências ao Serviço Nacional de Saúde, dizer que o SNS está em falência, depois de ter passado os debates anteriores a dizer que há funcionários públicos a mais;
Deu para Cotrim de Figueiredo passar todo o santo debate a dizer que António Costa não respondia às questões enquanto ele próprio ganhava o cognome de O Ilusionista por causa dos truques para fugir à questão flat tax;
Deu para Rui Tavares vestir a fatiota de Cotrim de Figueiredo e explicar aos telespectadores que com a taxa chata do Ilusão Liberal quem fica a ganhar são os mais ricos, para rombo nos cofres do Estado que asseguram serviços públicos gratuitos e universais;
Deu para Ventura voltar à carga com "o país em que metade trabalha para outra metade que não quer fazer nada" e "um país outro todos roubam e ninguém vai para a prisão", precisamente no dia em que se soube que a agremiação de bandalhos a que preside vai ser despejada da sua sede em Évora por não pagar a renda da casa há 8 meses;
Deu para António Costa fazer autocrítica: "o que faltou foi vontade política para viabilizar o Orçamento do Estado";
Deu para Chicão falar em três banca rotas desde 1995 apesar de nem uma ter havido e a que podia ter acontecido foi evitada;
Onde é que para o "crescimento económico"? O que é que fica do "crescimento económico" depois das migalhas caídas? As perguntas que nunca são feitas em nenhum debate. Dito de outra forma, os do crescimento económico a perder de vista, o nirvana do ilusão Liberal, quando morrerem são as pessoas mais ricas do cemitério, esta é a verdade. Depois da predação do planeta e da destruição da qualidade de vida das pouplações não fica mais nada, o resto são tretas para enrolar totós com conversa.
João Cotrim de Figueiredo diz que os jovens emigram não só pelos baixos salários mas também por causa dos escalões de IRS. Rui Rio acena com a cabeça em sinal de concordância. João Adelino Faria, quieto e mudo, aprende.
Depois de uma semana de mobilização do exército de trolls ilusionistas liberais no Twitter e no Facebook em defesa de um curso universitário pago com recurso a empréstimo bancário a 30 anos, João Cotrim de Figueiredo deixa cair a ideia no debate com o salazarinho retardado. Afinal, quando a esmagadora maioria dos apoiantes e eleitores do partido RGA [Reunião Geral de Alunos] estão a terminar o secundário ou andam numa universidade, não era muito inteligente desatar aos tiros para os próprios pés. Também o saudoso Pedro Passos Coelho, pai desta gente toda, quando percebeu os anti-corpos criados arrumou a revisão constitucional do Paulo Teixeira Pinto no fundo de uma gaveta.
João Cotrim de Figueiredo, no debate com Inês Sousa Real, a dizer que há que defender o planeta mas não a qualquer custo;
António Costa, no debate com Inês Sousa Real, candidamente a escudar-se atrás de uma lei que deixa o estudo de impacto ambiental a cargo da empresa interessada no projecto mineiro, para o caso.
O rico vai de férias porque se pode dar ao luxo, o pobre trabalha as férias para compensar o fraco ordenado, que não dá para luxos e o direito ao descanso e ao lazer é um luxo dos ricos. Não é um aumento da remuneração que se propõe, é trabalhar o descanso. A seguir propõe-se trabalhar um dos dias da folga semanal, que o aumento das horas no banco já vem no pacote e é substancialmente diferente de aumentar o preço da hora a depositar no banco, na conta do empregado no final do mês. E assim se poupam postos de trabalho e encargos com a Segurança Social. Depois, uns mais desgraçados e a passar por dificuldades, trabalham as férias e fazem as horas extra e o patrão, benemérito, pergunta "então os outros fazem e tu não?". E está no seu direito de perguntar e que ninguém veja isto como coacção sobre o trabalhador, honi soit qui mal y pense. Quem é amigo do patrão,do trabalhador, do colaborador, quem é?
1/ A Iniciativa Liberal condena inequivocamente todas as formas de discriminação, em particular o racismo.
2/ A IL não deixará que um dia se possa, a pretexto do que quer que seja, limitar a liberdade de expressão. Seremos também guardiões desse princípio fundamental.
O Iniciativa Liberal, cujo programa económico e social é igualzinho ao do Chega, se calhar até nas virgulas: acabar com a escola pública, acabar com o Serviço Nacional de Saúde, entregar a Segurança Social - pensões e reformas, a fundos privados, e que foi levado a cabo, com o "sucesso" que se conhece, pelos rapazes de Chicago no Chile do golpista-fascista Pinochet, introduz a "liberdade de expressão" na tomada de posição sobre o "vai para a tua terra" com que André Ventura despachou uma deputada eleita pelos cidadãos em eleições livres e democráticas.
Não se percebe bem a que propósito a "liberdade de expressão" aparece, aqui e neste contexto, ou se calhar até se percebe. Se a liberdade da deputada Joacine propor a devolução das obras de arte retiradas às ex colónias, retiradas, não compradas ou doadas, como, por exemplo, o Metropolitan Museum of Art de Nova York fez ao Egipto com as peças retiradas da tumba de Tutankhamon, ou como o Museu de Atlanta, também nos States, com a múmia de Ramsés I, nós, que passamos a vida a lastimar-nos do saque cultural e científico sofrido durantes as invasões francesas, se a liberdade de André Ventura mandar quem quiser para a terra que lhe der na real gana, tudo a brincar, pois claro e sem emoji, até ao dia em que uma maioria lhe permita fazer uma lei a sério, para depois andarmos todos a ganir, liberais incluídos, o poema do Martin Niemöller "Quando os nazis vieram buscar os comunistas, eu fiquei em silêncio; eu não era comunista" e o caralho.