"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
João César das Neves, autor do livro As Figuras do Presépio e professor na Universidade Católica.
Joseph Stiglitz, ex-presidente do Conselho de Assessores Económicos [Council of Economic Advisers] de Bill Clinton, Vice-Presidente Sénior para Políticas de Desenvolvimento do Banco Mundial, Prémio Nobel da Economia.
A primeira página do dia não é a vichyssoise na primeira página do jornal do militante n.º 1 ["Marcelo enganou quase toda a gente], repetida ad nauseam nas televisões do militante n.º 1 [SIC e SIC Notícias] em todos os noticiários a todas as horas certas, apesar de ser desmentida, nem 48 horas eram passadas, por Marques 'moço de recados' Mendes também na televisão do militante n.º 1 ao afirmar taxativamente que não tinha conhecimento de nenhuma decisão sobre a recondução da Procuradora-Geral da República. Toda a gente ouviu e toda a gente fingiu não ter ouvido, o que interessava era o circo do "debate" sobre o nome excluindo o cargo. Não. A notícia do dia é no Portugal de 2018 haver um professor numa universidade prestigiada a nível mundial que continua a dar aulas com base numa lição de 1938, dos pobres pobrezinhos e honrados.
Como sou fraco e franzino e débil Jesus fez-me administrador de uma grande multinacional, a ganhar milhares por mês, com carro, cartão de crédito e telemóvel, instalado no último andar de uma torre hi tech [tudo o que daqui se avista pode ser teu].
«Jesus dá as provações conforme as capacidades de cada um.».
Os outros, os do salário mínimo nacional, os do trabalho temporário, os do contrato de trabalho apalavrado, os do trabalho temporário para empresas de trabalho temporário, os desempregados, contas para pagar, mês a mais e dinheiro a menos, filhos na escola e filhos na escola com fome, esses são os fortes a quem Jesus deu maiores provações. Aleluia, são os escolhidos.
E os sem-abrigo, fome e frio, desprezo e cães, esses são a elite do Reino de Deus. Soubesse Gabriel, O Pensador, que Gabriel, O Arcanjo, olha por eles e nunca tinha cantado “eu queria morar numa favela”.
A avó Ilda, nascida era D. Manuel II, O Desventurado, El-Rei de Portugal e falecida era Jorge Sampaio, O Saudoso, Presidente da República, e que esteve em Fátima com os pais aquando das segundas aparições e que dizia não saber o que é que toda a gente tinha visto que ela não tinha visto nada de nada além do ter dormido mal e ao relento, era mais nova que o João César das Neves e que o José António Saraiva, os dois juntos ou cada um a valer o que vale.
Ou a infância atormentada do "diácono- esclavagista":
«Pequenas e grandes traições, mentiras e violências, egoísmo e mesquinhez; sobretudo a terrível tibieza e mediocridade em que mergulham os meus dias. De fora não se vê a podridão que tenho dentro. Nem os meus inimigos, que têm tanta razão nos insultos, nem eles sabem do mal a metade.
É o rico que não entra no Reino dos Céus. O título do post é só porque o senhor, que trabalha de segunda a sexta na Universidade Católica, vai à missa aos domingos procurar inspiração para reinterpretar a Bíblia por medida, às segundas, no Diário de Notícias.
«Embrulhados em manigâncias capitalistas, os Governos precisavam de fingir progressismo na ideologia familiar. A sociedade assustada adoptou a posição cómoda e irresponsável de tolerar a libertinagem.
Nos filmes do faroeste made in Hollywood também há a figura do pregador que anda de cidade em cidade, vestido de preto e com O Livro na mão, contra o vício e a depravação que minam a sociedade, com o temor do desmoronamento da família na ponta da língua, ignorando o sofrimento dos mineiros, a exploração dos trabalhadores do caminho-de-ferro, ou a especulação de que são vitimas os criadores de gado. Acaba sempre com um tiro no meio da testa ou no saloon a beber shots de bourbon nos braços de uma prostituta chubby.
[Na imagem John Wayne na pele de Ringo e Claire Trevor como Dallas em "Stagecoach" de John Ford, 1939. Não tinha pregador mas tinha "muita família"]
Cheira a bafio concepção de família e de organização social desta gentinha; cheira a bafio a concepção de responsabilidade social e de solidariedade desta gentinha; é preciso estar de muita má-fé, ou ser extremamente ignorante, para acreditar que os problemas da economia se agravaram com a legislação aprovada nos últimos seis anos de governação.
Esta gentinha, por coincidência e só por coincidência, toda de educação católica e/ ou religiosa, arvora-se no direito de interferir na vida e na felicidade pessoal do seu semelhante, e reclama, sem se dar conta do ridículo e da contradição, o direito dos pais em educar os filhos segundo as suas opções éticas e de valores, o mesmo direito que querem retirar e recusar aos outros.
Cheira a bafio a hipocrisia desta gentinha que nos quer fazer crer que se a interrupção voluntária da gravidez for proibida as mulheres vão deixar de abortar, que se o casamento entre pessoas do mesmo sexo não for autorizado a homossexualidade desaparece da face da terra porque, como é do conhecimento geral, os casais heterossexuais só têm filhos e filhas heterossexuais e a homossexualidade nasce de geração espontânea.
Cheira a bafio o horror à diferença desta gentinha; cheira a bafio esta gentinha que não percebe, nem faz um mínimo de esforço para perceber, que o tempo não anda para trás apesar do papel de "obstáculo epistemológico" que teimam em representar.