"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
Temos Marcelo, o inimputável, que colecciona momentos de dizer merdas gratuitamente da boca para fora, e temos os outros, os que passam a vida a justificar as merdas que Marcelo, o inimputável, diz gratuitamente da boca para fora.
Temos o século XX, dos engenheiros mecânicos de fato de macaco dentro das fossas nas oficinas, ou dos agrónomos de galochas nas pocilgas, ou dos civis na obra ao comando da retro escavadora ou do cilindro no alcatrão, por exemplo, e temos a bandeira do início do séc. XX "é um operário sem formação universitária" que chega a secretário-geral do partido.
Podem parecer coisas distintas mas é tudo a mesma coisa.
O PCP não defende que a Rússia ponha fim à invasão da Ucrânia, retire para dentro de fronteiras e pare de desestabilizar a vizinhança com o fomento de pseudo repúblicas secessionistas no Donetsk e Lugansk, na Transnístria, na Abecásia e Ossétia do Sul, e no Nagorno-Karabakh, não. O PCP defende o fim das sanções à Rússia por estarem a castigar os portugueses, aplicadas por a Rússia, ao arrepio do direito internacional, ter invadido a Ucrânia e castigado os ucranianos, porque sim e por limpar o rabo a um ror de coisas que o PCP papagueia nas televisões, desde o direito dos povos à autodeterminação e independência à carta da ONU passando pela Acta Final de Helsínquia. O partido dos sonsos.
Se as pessoas não circularem o vírus não circula, parece ser dado por todos adquirido. Parece. E como é que se consegue que as pessoas não circulem? Fechamos a ilha, como fizeram australianos e neo-zelandeses - para nós não dá; impomos a lei do chicote sem dó nem piedade - como fizeram os chineses, mas suspender a democracia está fora de questão; forçamos um confinamento recorrendo à figura do "estado de emergência", consagrada na Constituição da República do Estado de direito democrático, e vamos gerindo a coisa. Por isso a necessidade de "reabrir a economia" à cultura, ao desporto e às escolas, tudo actividades que movimentam milhares de pessoas a horas certas em locais fechados - o vírus a circular, soa a desculpa para não se dizer que se vota contra só por se ser do contra.
O PCP confunde "actividade política" com mosh ao som da Carvalhesa. O PCP confunde "liberdades democráticas" com o picnicão da bandeira vermelha. O PCP ficou ainda antes de 1974 nas manifestações de força coreografadas para impressionar o povo. O PCP rem um plano delineado que lhe permite regressar à clandestinidade já amanhã se for caso disso e manter a edição do Avante! por stencil. Era o que faltava!
Procissão Cristas fez a travessia de barco entre o Barreiro e Lisboa na hora de ponta, mas fez ao contrário, de Lisboa para o Barreiro, quando o barco vai vazio. Chico-espertice para evitar apupos e insultos que estragavam uma bela reportagem de telejornal.
Jerónimo de Sousa foi para o pinhal de Leiria em campanha jurar 10 vezes que a "his master' s voice" Heloísa Apolónia não foi despromovida por ser transferida compulsivamente para um distrito onde o heterónimo do PCP há 34 anos não elege um deputado, sem que nenhuma televisão achasse esquisito Heloísa Apolónia falar só depois de Jerónimo ter falado 10 vezes por ela.
Independentemente do Jerónimo de Sousa que em Dezembro de 2016 no discurso de arranque do XX Congresso do PCP em Almada afirmava que a União Europeia não é uma democracia ["não se tratar de "maquilhar, refundar ou democratizar" a União Europeia", "a experiência recente demonstra que a UE constitui uma matriz política e ideológica, impossível de ser democratizada, humanizada ou refundada"] ser o mesmo Jerónimo de Sousa que em Março de 2019 a propósito da Coreia do Norte responde à pergunta com a pergunta "O que é a democracia? Primeiro tínhamos de discutir o que é a democracia" para fugir à questão, na chico-espertice da memória curta das pessoas, esquecidas do conceito de democracia definido apenas três anos antes em Almada, o que há aqui a registar é "[...] o nosso projecto de sociedade, [...] tendo em conta a nossa cultura, tendo em conta a nossa história, tendo em conta o nosso povo", os mesmíssimos mui nobres princípios da cultura, da história, do povo, da tradição [Diário de Notícias e Jornal de Notícias em 1953], que levava Salazar a martelar resultados eleitorais, a instituir a censura, a polícia política e a tortura, o chefe de família, quando um burro fala o outro baixa as orelhas, cada macaco no seu galho, o respeitinho é muito bonito, manda quem pode obedece quem deve. E tudo isto da boca de um secretário-geral de um partido que reclama o estatuto de dono do combate ao fascismo e à ditadura é absolutamente maravilhoso. Ou nem por isso.