"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
E agora a suspeição vai ficar a pairar, como um nuvem sempre a chover por cima dele, para todo o sempre, até ao fim dos dias da sua vida.
Três semanas depois de o infeliz, porque injustiçado, Jardim Gonçalves ter sido impedido de provar a sua inocência na barra do tribunal:
«O presidente da Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM), Carlos Tavares, reconheceu nesta quinta-feira que existe a possibilidade de prescrição total do processo contra-ordenacional contra antigos administradores do BCP, criticando os esforços da defesa para arrastar o processo.
O líder, actual, do partido que tem quase tantos anos de democracia quantos os anos de União Nacional faz-se de surpreendido por o cidadão comum do tempo da União Nacional continuar a ser o cidadão comum no tempo da democracia e por o cidadão da União Nacional continuar a ser o cidadão da União Nacional, convertido à democracia, no partido que tem quase tantos anos de democracia quantos os anos de União Nacional. São "acidentes", os privilégios. Ter sido nas Caldas foi uma homenagem à tentativa de golpe de Estado de 16 de Março de 1974.
Aliás, a gente não faz mais nada que ver filmes e séries passados em tribunais.
Segundo nos é dado a perceber as provas não são forjadas nem falsificadas, o que lá consta não é mentira, simplesmente as provas foram obtidas de forma ilegal.
O senhor, caso raro em todo o mundo, recebe de reforma 3 vezes mais do que o que recebia quando estava no activo e ainda apresenta as facturas da Via Verde, do carro novo, da segurança pessoal e (um graaaaande) etc. à ex-entidade empregadora. A reforma auferida pelo senhor dava para pagar o salário mensal de 17 – dezassete – 17 Presidentes da República. O senhor foi inibido pelo Banco de Portugal de exercer qualquer tipo de actividade bancária durante 9 anos. O senhor foi convidado, e marcou presença, na tomada de posse de Carlos Tavares, o novo Governador do Banco de Portugal. Este país é para levar a sério?
Parece que finalmente Jardim Gonçalves ganhou alguma vergonha na cara – não muita senão também se tinha demitido – e resolveu pagar a dívida do filhote. É sempre saudável saber, que num país em que as desigualdades sociais são cada vez maiores, assim como cada vez maior é o fosso entre ricos e pobres, e que estes últimos não param de aumentar sendo até motivo de vergonha para o Presidente, que há alguém que dispõe assim de 12 milhões do pé para a mão.
Agora o que todos gostávamos de saber era em que modalidade é que foi efectuado o pagamento. Foi em cash? Foi em géneros? Foi por transferência bancária? Foi através de cheque? Ou há por aqui outra “barriga emprestada”, e o banco de que Jardim Gonçalves é presidente concedeu-lhe um empréstimo para o pagamento da dívida?
Provérbio do dia é made in Setúbal: “Quem não tem dinheiro paga com o corpo”.
O “moço de recados” dos banqueiros portugueses, João Salgueiro, vem dizer “no passa nada!” e com ar cândido diz ser tudo uma “campanha de informação e desinformação”. Pois. Assim como aquela coisa dos arredondamentos nas taxas de juro, mais a taxa de utilização dos cartões Multibanco, e, agora, a contagem dos dias para efeitos de empréstimos: quando toca ao banco receber são 360, os dias do ano; quando é o banco a pagar a coisa pia mais fino, porque com o dinheiro dos accionistas não se brinca, e o ano como por artes mágicas passa a ter 365 dias. Não se terem lembrado que existem anos bissextos é que me dá que pensar… Em suma: tudo campanhas de desinformação.
No entretanto, o outro, o dois em um, porque consegue juntar na mesma pessoa dois anúncios de bancos diferentes: tem um pai rico e é dono do seu próprio banco, por via das mesmas artes mágicas que conseguem aumentar ou diminuir os dias do ano, vê uma dívida de 12 milhões de euros desaparecer. E essa é que é essa!
Safa-se um por 12 milhões. Que se danem 500 e respectivas famílias por 70% de 32 milhões. E o homem é católico, apostólico romano, temente a Deus e membro da Opus Dei…