"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
Este tweet do líder da agremiação de mal-formados e mal-educados, que agora descansa o rabo onde antes estavam sentados os doutores do CDS, é todo um programa político. Como se o Brasil não fosse um Estado de direito, como se no Brasil não houvesse separação de poderes, como se no Brasil o poder judicial andasse a toque de caixa do poder político. Exactamente o que aconteceria em Portugal caso este inteligente, doutor inteligente, um dia chegasse ao Governo, por modo próprio ou com a ajuda da casa-mãe, o PSD, quem se "portasse mal" ou ousasse afrontar o caudilho levava como retaliação, tal e qual já acontece na Hungria, na Polónia, e que um aprendiz de ditador ensaia agora na Sérvia. Depois não digam que foram apanhados desprevenidos.
A vergonha e o pudor, daqueles que ainda o têm, pela previsível reacção da generalidade das pessoas que se pautam pela boa educação e formação, que não lhes permite assumir que, sim senhor, o ataque à casa da democracia em Brasília, pela horda de alucinados telecomandada à distância via WhatsApp e Telegram, foi uma coisa bonita de se ver, e que têm razão de sobra por se terem mal comportado daquela maneira, leva-os a equivaler quem luta por mais democracia e direitos com os outros, os que querem acabar com a democracia e classificam os direitos humanos como "esterco da vagabundagem". Esta manobra já tinha sido ensaiada por Trump, presidente, na defesa dos gangues Proud Boys e fanáticos MAGA nos confrontos com o movimento Black Lives Matter e nos ataques às comunidades LGBT, e pelos minions de Bolsonaro, "ah e tal, as pessoas têm razões para o descontentamento". As redes estão pejadas destes sonsos, mais militantes ou apoiantes do Iniciativa Liberal que do partido da taberna, e vão todos beber a doutrina nas páginas do diário da direita radical, o online Observador. Curiosamente alguns actuais colunistas das falsas equivalências, do "é tudo farinha do mesmo saco, estiveram nas elegias, brochuras e demais literatura pulp, com a capa de ensaio político e sociológico, sobre o fabuloso destino de Trump na América dominada pela esquerda woke e da ideologia de género.
Ver na televisão do militante n.º 1, SIC Notícias, aquele que em tempos chegou a ser considerado o ideólogo da nova direita, o que quer que essa treta possa significar, conjugar novidade e modernidade com direita, dizer que o ataque das hordas de hooligans alucinados de Bolsonaro à casa da democracia em Brasília era mau para a direita brasileira, que ia afastar irremediavelmente eleitorado, que não ia recuperar tão cedo, uma desgraça. A esperança da direita brasileira personificada num fascista que não tem pejo em elogiar os torturadores da ditadura militar, negacionista da pandemia, homofóbico, misógino, racista, com uma base de apoio de terraplanistas, gente que de Bíblia na mão implora a intervenção de extra-terrestres como forma de salvar o Brasil do comunismo, que reza em círculo virada para um pneu que arde no meio, pessoas que foram esquecidas por Deus quando distribuiu a inteligência pela humanidade, seguidores e crentes acéfalos das redes WhatsApp e Telegram propagadoras de fake news e teorias da conspiração a cargo dos filhos do capitão. A nova direita portuguesa e a esperança da direita brasileira é o vale tudo Bolsonaro por ter Paulo Guedes na Economia, aquele que se propunha levar a cabo no Brasil as "reformas" que Pinochet fez no Chile, os fins justificam os meios. Infelizmente isto é para levar a sério.
Quarenta e oito horas depois Bolsonaro, sem felicitar o vencedor e sem assumir a derrota, piou. Quarenta e oito horas depois de líderes mundiais terem felicitado felicitam Lula pela vitória em eleições livres, justas e credíveis. De Marcelo e Costa a Pedro Sánchez, de Macron a Boric, de Arce a Obrador, de Biden a Putin, de Trudeau a Ramos-Horta. Bem sabemos que a história não é feita de "ses" mas e se a comunidade internacional, em todas as latitudes e em todas as famílias políticas, não tivesse rapidamente congratulado Lula qual teria sido o pio de Bolsonaro quarenta e oito horas depois de derrotado nas urnas?
[Link na imagem "Brazil's President and presidential candidate Jair Bolsonaro speaks after the results of the first round of Brazil's presidential election, at the Alvorada Palace in Brasilia , Brazil. Reuters/ Ueslei Marcelino]
Vitória da civilização sobre a barbárie, dia triste para o neo-fascismo e sobretudo ilusionistas liberais, sonsos, que na vergonha de se declararem bolsominions não sabiam escolher entre um democrata e um fascista.
Vitoria Rocha, 81, poses with the picture of her parents after she found it in the rubble of her home where she lived for almost 40 years. [Amanda Perobelli/ Reuters]
Bolsonaro passeia de moto auática com a filha em Santa Catarina enquanto milhares de pessoas sofrem as consequências das fortes chuvadas que assolam a Bahia. "Espero que eu não tenha que retornar antes".
Podemos sempre considerar Bolsonaro não estar infectado mas tão só a construir uma narrativa que lhe de razão, justifique a suas atitudes irresponsáveis perante a Covid-19 e mantenha as hostes de acéfalos unidas ao redor, tipo a facada que ninguém viu e que meses depois não deixa cicatriz.
Você entra no hospital com resfriado, eles dizem que vc está com suspeita de comunavírus; tomam seu celular, cortam sua comunicação com a família, entubam você, te cortam todinho, e depois te matam pra tirar seus órgãos. Em seguida, ligam pra família e comunicam: morreu de Covid!