"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
Vibravam todos, nos blogues, Twitter e Facebook, com as proezas do Tea Party nos States, foram todos captados como técnicos e especialistas para os gabinetes dos ministros e secretários de Estado do governo da troika, saíram alguns para o Ilusão Liberal, continuam outros na minagem e tomada de poder no partido a partir de dentro. O percurso é a papel químico.
«Textos falam da imposição de uma "ideologia de género" como "modelo de pensamento único", de "disforia de género associada a várias patologias psiquiátricas", de "senhoras, alegadamente tiranizadas, que nunca se queixavam" e do "direito à resistência" face à transformação do aborto e da eutanásia em direitos"»
Como com um gesto simples se desarma a direita radical, mais rápida que a própria sombra a sair em defesa da liberdade de expressão quando em causa estão organizações de extrema-direita, de cariz fascista, ou simplesmente patetas aprendizes.
O advogado de defesa do homem que instituiu a censura em Portugal queixa-se de ser vítima de censura que, a ser-lhe imposta por Salazar, suponhamos, levaria Jaime Nogueira Pinto, de certeza, a descobrir na "complexa personalidade" do ditador uma justificação, forjada na "modesta casa de Stª Comba Dão", plausível e aceitável para tamanho acto ao qual "a tristeza lusitana, que tem boa cepa como o vinho, o queijo, a maçã, o granito" encolhe os ombros.
Principalmente da parte daqueles que foram, ou que tiveram, familiares perseguidos, torturados, mortos, por pensarem de modo diferente ou só por lutarem por coisas tão simples e tão banais como a liberdade de expressão, e que são hoje, para as novas gerações, tão naturais como o respirar.
Principalmente por aqueles, e por aquelas famílias, que tiveram a vida e as famílias desfeitas e destroçadas numa guerra que não era a sua e que não lhes dizia coisíssima nenhuma, para negar aos outros o que reivindicávamos para nós, sermos senhores do nosso destino e do nosso futuro, e provocada por uma descolonização que não foi feita e que nem sequer era equacionada, não fora o malandro do Mário Soares e os bandalhos dos comunistas se terem lembrado de trazer o tema para a agenda, quebrando a unidade da pátria e o sossego instituído.
Principalmente pelo mundo e pela Igreja que estavam contra nós por causa de uma descolonização que não queríamos fazer, e pelos malandros da Academia Militar que iam estudar para os States e que até se atreviam a vir de lá open mind, a ver o mundo com outros olhos de ver, e a ver uma guerra onde, mais cedo ou mais tarde, iam acabar por morrer, por cousa e por causa nenhuma e em contra-mão ao sentido da História. Ingratos e mal-agradecidos a quem lhes deu oportunidade de estudar no estrangeiro.
Principalmente por causa da "grande dimensão metropolitana" e da "grande massa crítica" que não tínhamos, por causa de Salazar e dum Estado Novo fechado sobre si mesmo, e Deus e Pátria e Família e respeitinho é muito bonito e cada macaco no seu galho e cada um nasce para o que é e manda quem pode e obedece quem deve e o homem rural e a mulher na cozinha e a teta na boca da cria, e que nos impediu de fazer a descolonização que Salazar não queria fazer.
Jaime Nogueira Pinto é uma besta com um título académico que tem boa imprensa e muito tempo de antena e que até pode publicar livros, coisa que o Estado Novo que é muito diabolizado e que Salazar que foi um grande homem, nunca permitiu fazer a quem discordava de si, do seu regime, ou que simplesmente pensava de modo diferente.
As atribulações de um fascista, suadosista dos idos de Salazar, em que até os mortos votavam e os vivos nem precisavam sair de casa para depositar o boletim de voto na urna.
Escrito pelo advogado de defesa e guardião da memória de Salazar que, entre outras, ilegalizou os partidos políticos, instituiu a polícia política e a censura; onde as mulheres necessitavam da autorização e da assinatura do marido para tudo e mais alguma coisa, os mortos votavam e os militares e polícias votavam de cruz e às escuras no partido único; isto é para levar a sério?
Jaime Nogueira Pinto, especialista em todos os “ismos” que se apresentem pela direita e o maior salazarista à face da terra – maior ainda que o próprio Salazar – escreveu ontem no Diário de Notícias que «Hoje há um approach salazarista em vários partidos. O realismo político dele, por exemplo, é adoptado por pessoas do PS.» Nada que este, e mais uns quantos blogues, não venham desde há uns tempos a esta parte a gritar. A diferença é que onde nós víamos “derivas”, JNP vem um “approach”. Nestas matérias, quem sou eu para contraditar o homem que foi advogado de defesa do ditador nos Grandes Portugueses e que acaba de editar um livro de nome António de Oliveira Salazar – O Outro Retrato? É impressão minha ou noto nas palavras de Nogueira Pinto um misto de satisfação e de orgulho pelos métodos governativos adoptados por Sócrates?
“ (…) que na politica, “reino do mal”, como aprendemos com Santo Agostinho e Maquiavel, a razão de Estado, quando se trata da sobrevivência das comunidades e pessoas em situação limite – “mors tua vita mea” – leva os protagonistas a fazer as mesmas coisas: no Chile em 36, fatalmente ia haver confronto, guerra, vítimas de guerra, vítimas colaterais, vencedores e vencidos. Como na Rússia em 1917, na China em 1949, ou em Cuba em 1959. Como em França na Revolução ou nas Guerras Religiosas. Os vencedores sempre reprimem e punem mais que os vencidos e, nos casos citados, pode dizer-se que, a avaliar pelos exemplos dos correligionários, temos legitimas duvidas de qual teria sido o resultado da vitória dos “rojos” no Chile de 73 e em Espanha em 1936. A avalia pelo que fizeram em Espanha nas áreas que controlaram em 36 e o que fizeram e Cuba, desde que tomaram o poder e pelo modo como o exerceram quando não tiveram os Francos e os Pinochets para os parar.”
Quem assim fala é Jaime Nogueira Pinto (JNP) na edição de hoje do Expresso, num artigo intitulado “Batalhas do Passado”.
À parte a dedução estúpida de que “os vencedores sempre reprimem e punem mais que os vencidos” – que proponho desde já para o top ten das bacoradas do ano que agora finda – nunca dei noticia de haver vencidos a reprimir e a punir vencedores…
O que o sr. JNP diz é muito grave, por deixar implícita a defesa dos fascismos e dos seus crimes, com todos os dentes que tem na boca.
Segundo JNP eram inevitáveis as mortes e os crimes perpetrados por Pinochet e pela sua junta no Chile de 73. E inevitáveis porquê? Segundo JNP está em causa a "sobrevivência das comunidades e pessoas em situação limite". Nos casos específicos citados, Chile, Espanha ou até mesmo Cuba, quais comunidades? Quais as situações limite? No caso chileno talvez a comunidade dos que haviam perdido as eleições... JNP finge ignorar que aconteceu um golpe de estado que derrubou um governo legítimo e democraticamente eleito – Salvador Allende – e passa à frente; no caso de Espanha talvez a comunidade do proto-fascista-desterrado-no-norte-de-àfrica Francisco Franco; no caso de Cuba ilha-bordel-casino antes de Fidel, seria a comunidade dos americanos frequentadores, desde os "ilustres" até aos mafiosos foragidos ao Tio Sam.
JNP lança exemplos para desorientar, como a Rússia de 1917, esquecendo a Alemanha de Hitler ou a Itália de Mussolini, porque aí, pelos vistos o factor eleições já conta, ou faz mão de Cuba em 1959, esquecendo Cuba de 1958 e que 90% da culpa de Fidel se ter tornado no que se tornou se deve única e exclusivamente aos americanos que o empurraram para os braços de Krutchev.
E tem “legitimas dúvidas de qual teria sido o resultado da vitória dos “rojos” no Chile em 73”, dúvidas que, 3 mil mortos e desaparecidos, outros milhares de torturados, violentados e humilhados por causa de Pinochet, JNP nunca vai poder tirar. Nem ele nem nós.
As mesmas dúvidas que JNP tem “ (…) em Espanha em 1936. A avaliar pelo que fizeram (os rojos) nas áreas que controlaram (…)”.
Estas dúvidas quer JNP, quer nós, vamos ter de viver com elas.
As dúvidas que não temos são as dos milhares de mortos por Franco, debaixo das lápides do Vale de Los Caídos; ou da autentica lição de história viva que está exposta nas catacumbas / abrigos, escavados na rocha da cidade de Cartagena, onde os seus habitantes viveram durante 2 anos debaixo de intensos bombardeamentos da aviação de Hitler, aliado ideológico de Franco contra o seu próprio povo. Outros dois democratas “anti-rojos” e criadores de dúvidas na mente de JNP.
Para JNP os Francos e os Pinochets são bons e recomendam-se pelo mérito de travarem os rojos.
Para JNP há ditaduras e totalitarismos, fascismos e outros ismos aceitáveis desde que não rimem com comunismos.
Parafraseando JNP no mesmo artigo “O tempo, que é um grande mestre (perdoem-me o “cliché”, mas é mesmo…) ensina que um ditador bom é um ditador morto, e JNP cronista / apologista de ditadores – desde que não sejam vermelhos – e seus métodos, já está morto. Ainda não deu por nada.
Na sua crónica semanal no "Expresso", Jaime Nogueira Pinto (JNP) , aborda esta semana o que classifica de "guerra" pela identidade da direita.
Depois de dissertar por todo o espectro politico com assento parlamentar, desde o PS ao PP, passando pelo PC e pelo Bloco e concluir (pasme-se!) o que todo o mundo e mais metade do outro já há muito concluiu, que as fronteiras ideológicas se esbateram, e que existem governos formados por partidos de esquerda que aplicam no plano económico-social politicas de direita e vice-versa. E embalado no raciocinio , JNP termina: "PSD e PS são europeus, atlânticos e pelos vistos, de brandos costumes. Como o PP". (O sublinhado é meu).
Depois avança com o que aí vem de colóquios, compromissos, Estados Gerais, etc. , com vista a uma liderança do "espaço direita", cuja marca na opinião de JNP , se tornou atractiva. (Basta atentar aos resultados eleitorais...). Os parêntesis são meus. E posiciona-se como ideólogo desse espaço e quem sabe, candidato a candidato, avançando com um conjunto de principios balizadores, segundo a sua óptica , e que devem ser tidos em conta.
A ter em atenção:
"Liberdade e Independencia da Nação". Um ponto que figura em todos os programas politico-partidarios , desde a extrema esquerda à extrema direita. Que quer JNP dizer com isto? Vamos tornar ao fantasma espanhol mais a batalha de Aljubarrota e respectiva padeira, nas aulas do ensino primário?
"Cristianismo Social; solidariedade com os mais fracos e vulneráveis". Ou seja, o Catolicismo, Apostólico Romano como religião oficial do Estado. Coitadinhos dos pobrezinhos, tomem lá uma esmolinha ou uma sopinha, mas o respeitinho é muito bonito, nós somos de boas familias e quem nasce para sofrer tem o destino marcado e é mesmo assim, mas terão a compensação de depois da morte fisica se sentarem numa cadeira ao lado do Pai. No entretanto as nossas mulheres ficam entretidas a organizar-vos quermeses e cházinhos da caridade.
"Liberdade na economia, que não atinja os valores enunciados". Protecionismo exacerbado aos grandes grupos económicos (que saudades do tempo em que haviam Mellos e Chapaulimaud e Alfredos da Silva!). Erradicação dessas forças de bloqueio que dão pelo nome de Tribunal de Trabalho, Sindicatos, Concertação Social e Leis do trabalho.
"Uma politica externa que acautele a independencia nacional (...)" Outro ponto que figura em todos os programas politico-partidários. Ou será antes JNP um saudoso do "pequeninos mas honrados", sózinhos aqui na extrema da Europa, de costas para ela e virados para a nossa vocação colonial além-mar?. Uma vez membros de direito da União Europeia, e fundadores da moeda única, não há meias-tintas, não se está ao mesmo tempo com um pé dentro e outro fora. Passámos também a membros de dever.
"(...) priveligie os espaços que conhecemos, guiada por um "realismo ético" que, sem pôr de parte o ocidente euroamericano, não busque a conversão forçada de outras civilizações, e aspire a um "mundo melhor" só a partir do mundo como ele é". Aqui o caso pia mais fino. O que quer dizer com isto JNP ? Refere-se a futuramente prevista entrada da Turquia na União? Vai começar a agitar o fantasma do Islamismo no Clube dos Cristãos? O que quer dizer JNP quando refere um "mundo melhor só a partir do mundo como ele é"? Está a referir-se ao pós-implosão dos comunismos ou ao pós-derrube dos fascismos?
O problema é que o mundo como ele é, na realidade, é muito diferente de como ele é na cabeça de JNP . O mundo como ele é inclui, entre outros, o aborto, as drogas, os casamentos homosexuais, a Europa, etc. etc. , coisas que ele não tolera, e até critica a aparente proximidade de pontos de vista entre PS e PSD, e acrescento eu, a Asia, o terrorismo e o Islamismo, daí talvez, (pista minha), o desnorte que vai neste momento na cabeça da direita em Portugal.
O mundo como ele é, não é a preto e branco; é a cores e ao vivo. A realidade é dura, mas é a realidade. Não há volta a dar-lhe.
Ex. mo Senhor Jaime Nogueira Pinto: que pena o Dr. Salazar já ter morrido!