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DER TERRORIST

"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.

O Bispo e a Maçonaria

por josé simões, em 28.05.07

 Enquanto o comum do cidadão nos dias que correm, anda preocupado com o aumento do desemprego; com a Ota e o TGV mais os lobbyes; com as tentativas de controlo da comunicação social pelo Governo; com as eleições na capital; com os comissários políticos à frente dos Governos Civis e das DREN’s; o bispo de Aveiro, D. António Marcelino preocupa-se com o ascendente maçónico sobre o PS.

 

Não sei se o emérito bispo conseguiu descobrir uma relação causa / efeito entre as políticas do Governo laico, republicano e presumivelmente socialista e a suposta orientação maçónica. Se descobriu era bom que o dissesse; assim ficávamos todos elucidados. Se nada sabe e vem falar só por lhe apetecer, e acusar o PS de andar “publicamente de mãos dadas com a Maçonaria” e que “a Maçonaria portuguesa está a aparecer, de novo, com algum espírito de ‘Carbonária’, eivada de um acirrado laicismo, tendo no horizonte os ‘valores republicanos’, lidos unilateralmente, e empenhando-se por introduzidos como inspiradores das leis que devem reger o povo” mais valia ter continuado calado.

 

Nada sei sobre a formação histórico/ cultural do senhor bispo, mas vir a terreiro gritar Aqui D’EL Rei! Que já não há Monarquia, e que desde a implantação da República, fomentada pela Maçonaria com “O apoio que então deu à Carbonaria, motor organizado da queda da Monarquia, e a identificação conseguida com a jovem República, inspirando ou fazendo seus os ditos ‘valores republicanos’, deram-lhe impulso para dominar”, parece-me no mínimo ridículo para não lhe chamar outra coisa; quer pela verdade histórica e quer pelo conhecimento público do facto. O que pretende o bispo de Aveiro? Fazer um rewind de forma a “corrigir” a história pelo seu ponto de vista, até ao tempo antes da República em que a opinião da Igreja Católica tinha mais importância e força politica que o voto do povo? (Aquele que podia votar…) Porque quando escreve “a democracia não é um fim, nem pode servir de meio para que o poder, qualquer que ele seja, se aproveite dos postos de comando para empobrecer e dominar um povo livre” tem toda a razão, mas está a recorrer a uma verdade lugar-comum para escamotear que, antes da República maçónica/ carbonária, como ele a classifica, nesse tempo sim, o povo era mais dominado, oprimido e empobrecido que hoje; e, o único instrumento de que dispôs para tentar corrigir esta situação foi exactamente a revolução republicana.

 

Será ignorância do bispo titular da diocese de Aveiro, de uma das regras elementares de funcionamento da democracia – separação Estado / religião – quando interroga se o “laicismo redutor” corresponde ao “programa ‘político’ actualizado do partido socialista”? Não. Não é ignorância. É muito mais grave que isso. Na resposta à pergunta que coloca, D. António Marcelino avança que, da democracia apenas “restará um povo decapitado” fruto de uma “estratégia táctica (preconizada pela Maçonaria) de servir e de se servir de um poder sem ideologia”. Eu que sou agnóstico, dou graças a Deus por assim ser. Para poderes com ideologia bastaram 48 anos de ditadura, aqui. Se mais dúvidas houverem, basta o senhor bispo perguntar aos povos dos ex-países do bloco comunista o que pensam dos poderes com ideologia. Ou daqueles em que a ideologia é a religião – Irão, Arábia Saudita, Iémen, entre outros; por essa já passámos há muito, aqui na Europa.

 

Tenho muita pena que o senhor bispo de Aveiro no artigo publicado no Correio do Vouga, nem se digne a consagrar um só paragrafo à Opus Dei e à sua ascendência sobre políticos e governantes em Portugal, desde ministros a Presidentes da República, alguns até, assumindo pública e oficialmente a ligação. Seria esclarecedor, e as conclusões sobre quem influencia quem, e o quê, muito mais surpreendentes. No entanto, já foi elucidativo ter escrito sobre o tema. Subentende-se assim, que existem organizações semi-secretas boas e más. As laicas – e se republicanas – então são do piorio!

 

(As saudades que o beato Guterres deixou na governação da Igreja Católica portuguesa!)