"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
Gajos que escolhem o Natal e a Páscoa para cometerem atentados terroristas querem uma pausa na guerra durante o Ramadão. Não há solução política para guerras religiosas com mais de 2000 anos.
Pelas reportagens das televisões vemos as pessoas nas ruas de Marrocos no meio da aflição, da dor, do desespero, com Insha'Allah na boca e não com o Allahu Akbar que se ouve noutras partes. Isto vale o que vale mas vale muito.
Em 1973 o Expresso referia-se aos movimentos de libertação das colónias como "terroristas"; em 2021 a televisão do militante n.º 1 - SIC Notícias, refere os terroristas islâmicos no norte de Moçambique como "insurgentes".
O resultado imediato, no médio/ longo prazo, da decapitação do professor Samuel Paty, em Paris às mãos do tchetcheno Abdouallakh Anzorov por causa de uma aula sobre liberdade de expressão com as caricaturas de Maomé, é o silêncio da Europa numa próxima acção do czar Putin na Tchetchénia com atropelos aos direitos humanos a roçar o genocídio. Como diria o palerma que apresenta o Joker na RTP 1, "um aplauso para Abdouallakh Anzorov".
Quando os idiotas úteis ocidentais vierem para a praça pública clamar contra a proibição das cabeças tapadas nas ruas e contra a indumentária saco de serapilheira, vulgo burqa, a que estão condenadas as mulheres pelo fundamentalismo religioso, porque é a tradição, porque é a escolha da mulher, porque a mulher até se sente nua se assim não for, porque é a imposição cultural ocidental, porque é o monoculturalismo, por que é o eurocentrismo e blah-blah-blah e outras barbaridades que tais, lembrem-se deste clip e de como a tradição é incutida nas mulheres, logo desde pequeninas que é quando se torce o pepino em qualquer lado do mundo.
Não lhes ocorre que um bom começo seria eles próprios começarem por respeitar o outro, o semelhante, por respeitar as diferenças, a começar pelas religiosas, por respeitar a mulher, por respeitar os direitos humanos.
Agora que a Conferência Episcopal já tomou posição sobre o juiz medieval ao afirmar que "a Bíblia foi usada de forma incorrecta" no acórdão do Tribunal da Relação do Porto sobre violência doméstica e, uma vez que o famigerado também faz referência à "sharia", aguardamos que o líder da Mesquita de Lisboa, David Munir, diga de sua justiça sobre apedrejamentos e justiças maritais de protecção divina sob a égide do poder judicial no Estado de direito democrático, a menos que faça tenção de um dia cair nas boas graças do meritíssimo juiz...
Pelo telefone entra o líder do Centro Islâmico do Bangladesh de Lisboa em directo no Opinião Pública da SIC Notícias em defesa da nova-futura mesquita da Mouraria invocando, entre outra argumentação, o direito histórico, no nome do bairro, daquilo que já foi deles, daquilo que é deles outra vez, como se ainda estivéssemos no tempo da espadeirada, do espalhar a fé pela jihad, do cortar a cabeça aos infiéis, do eles contra nós, do Estado religioso, de zonas na cidade demarcadas pela confissão religiosa, minutos depois de uma proprietária de loja, na rua da actual mesquita, ter dito "são boas pessoas, tenho é de estar sempre a ralhar com eles por andarem sempre de volta dos rapazes que jogam à bola na rua", a doutrinar. Depois não digam que não foram avisados.
[Na imagem "Three women share a bench in Glasgow during a vigil for victims of the London bombings", autor desconhecido]