"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
"Desde 1988, há menos 1664 quilómetros de rede ferroviária". "Desde 1988" dá Cavaco Silva, primeiro-ministro, António Guterres, primeiro ministro, estes dois com fundos comunitários a jorros, enquanto os nossos vizinhos espanhóis se dedicavam a ligar todas as cidades por caminho-de-ferro e a lançar as bases da ligação à Europa em alta velocidade, Durão Barroso, primeiro-ministro, Santana Lopes, primeiro-ministro, Passos Coelho, primeiro-ministro, mas é "do plano de Sócrates ao plano de Costa". Jornalismo militante e com as quotas em dia.
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Ah, mas "durante esse período, a percentagem de linhas electrificadas subiu de 15% para 64%, um valor a par da Noruega, Espanha e Itália e acima da França e da Alemanha. Mas este rácio foi obtido, em parte, por fecho de linhas". Tal e qual como com as pescas e a agricultura, fechámos e desmantelámos para acompanhar a Europa. E para enriquecer uns sucateiros no único caso da história de Portugal com investigados, julgados e condenados por corrupção em tempo útil.
Álvaro Santos Pereira aka O Álvaro do Pastel de Nata, ministro do Governo da direita radical que andou uma legislatura inteira a dizer-nos todos os dias a todas as horas que tínhamos de aliviar o "peso do Estado na economia" e que tínhamos de ser como a Irlanda, o farol do socialismo na Europa o farol do liberalismo na Europa e dos amanhãs que cantam na ausência de Estado e da auto-regulação dos mercados.
A direita radical do micro Estado-Estado mínimo desmantelado em favor de interesses privados com o argumento do "aliviar o peso do Estado na economia" preocupada com a falta de investimento público.
Há falta de melhor razão para fazer prova de vida oposição nas televisões, Pedro Passos Coelho, liberal de pacotilha, lamenta a falta de investimento público/ critica a falta de investimento público/ acusa quem o acusou/ assume-se como grande dinamizador do investimento público. Vale tudo.
Diz a propaganda governamental que a Port of Singapure Authority vai investir 40 milhões de euros no Porto de Sines sem apoios do Esatdo português, o tal "aliviar o peso da Estado na economia", em tom mavioso na boca de Pedro Passos Coelho, quando na realidade o que a Port of Singapure Authority vai fazer é deixar de investir 130 milhões no Porto de Sines, de um investimento inicial previsto de 200 milhões de euros caso o Estado português investisse 70 milhões. É fazer as contas, à boa e à má moeda, que o dinheiro não estica e há que satisfazer com rendas fixas as clientelas do "sentido de Estado" do "arco da governação".
Escreve José Manuel Fernandes em Editorial hoje no Público:
«não existem estudos sérios que mostrem que o investimento em auto-estradas para o interior é um real factor de desenvolvimento e que o TGV traga reais vantagens a médio ou longo prazo». E logo a seguir, não no fim do Editorial, mas no mesmo paragrafo, logo logo a seguir só com um ponto final de separação: «Ora, se o investimento público não potencia o desenvolvimento, é dinheiro deitado à rua».
Afinal no que é que ficamos? Se não «existem estudos sérios» como se pode concluir que «o investimento público não potencia o desenvolvimento»?
E depois no outro paragrafo escreve qualquer coisa sobre “demagogia”.
Ainda sou do tempo em que nas escolas se ensinava a “visão de jogo” (efeitos do Euro 2008…) do Marquês de Pombal na reconstrução da Baixa de Lisboa após 1755. Apesar das críticas dos que à época questionavam a necessidade de ruas tão largas.
Também sou do tempo em que para chegar de Setúbal ao Algarve era uma odisseia, com saída de manhãzinha cedo, paragem para almoço, e, às vezes, até para lanchar. De Setúbal a Bragança nem me quero lembrar!
Vem isto a propósito (ainda) do discurso de Manuela Ferreira Leite no Congresso do PSD, questionando a necessidade da “vaga avassaladora” que aí vem de investimento em obras públicas. Não estou a equiparar José Sócrates a Sebastião José (nem pouco mais ou menos), já um “Terramoto” tenho as minhas dúvidas. Se já não houve, e não estamos já em tempo de réplicas.
A ponte Chelas-Barreiro faz falta. Assim como faz falta outra para ligar Trafaria a Oeiras. O aeroporto em Alcochete faz falta. Assim como falta faz um aeroporto em Beja e outro em Coimbra. O TGV faz falta. Assim como falta faz regressar ao investimento no caminho-de-ferro, há muito desprezado; e não só para o transporte de passageiros. O recente bloqueio dos camionistas aí está para o demonstrar.
Dona Manuela: não entre por aí! A mobilidade dos cidadãos; a pressa em chegar depressa aos destinos, é uma coisa que as pessoas prezam. Que se questione a forma; o modo como esses investimentos vão ser feitos é outra coisa completamente diferente.