"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
A tarifa especial de electricidade é aplicável a desempregados. Alguém que auferia, por exemplo, para cima de dois, três, quatros mil euros mensais e se vê na situação de desempregado cai automaticamente na tarifa especial, malgré o subsídio que de desemprego que vai receber. Além disso agora vai também receber os 240 paus extras, porque “a inflação atinge de maneira muito desigual as várias camadas da população", e são abrangidos pela tarifa especial de electricidade, que é condição para receber a ajuda extraordinária, "específica para as famílias mais vulneráveis". E ainda dizem que o Pai Natal não existe.
"É básico, não é?" que se o Governo taxasse os bens alimentares essenciais a 0% ia aumentar ainda mais a margem de lucro dos patrões e accionistas, tal e qual a lengalenga do Ilusão Liberal com o imposto sobre os produtos petrolíferos, ninguém deu por nada. É básico e o CDS sabe. Mas as preocupações do CDS nunca foram com o consumidor final, naquela faixa que mais sofre com a inflação e com o aumento do custo de vida.
Escreve o jornal do militante n.º 1 na secção "Sociedade" que os "supermercados estão a colocar alarmes em produtos alimentares básicos, como latas de atum ou garrafas de azeite", "as pessoas estão desesperadas, escondem latas de atum e leite para comer ou dar aos filhos". Vira-se a página para o caderno "Economia" e ficamos a saber que a "inflação castiga todo o tipo de famílias: nas mais pobres pesam alimentos e habitação, nas mais ricas os restaurantes e hotéis". Os que vêem o atum e o azeite ao preço do whisky na prateleira do supermercado e os que por estarem quase pobres vão ter de abdicar de brincar aos pobrezinhos na Comporta. Isto podia ter outro título, sei lá, jornalismo de merda.
Anos a fio a ensacarem mais-valias com os trabalhadores colaboradores em salários mínimos, por causa da competitividade, do emprego e o diabo a quatro. Na primeira contrariedade, uma guerra inventada pelo fascismo russo na Ucrânia, por exemplo, e aparecem a falar em layoff por "trabalhadores a mais". O Estado, essa entidade mítica, que pague Ou isso ou o desemprego.
A falta de responsabilidade social, de educação, de humanismo ou, como alguns gostam, de caridade cristã, não lhes permite aguentar o posto de trabalho por uns meses a quem vestiu a camisola e lhes deu tudo. Implicava mexer na conta bancária, fortuna pessoal, e uma coisa é a conta pessoal, outra coisa é a conta da empresa. Como é que de uma se chega á outra ou como é que da outra se foge de uma isso agora não interessa nada.
Depois volta a normalidade e não há ninguém para fazer nada, desde o pessoal dos aeroportos aos empregados do turismo e restauração, como com o "fim" da pandemia.
A culpa é dos calaceiros que não querem fazer nada, encostados ao subsídio, só com exigências. Ele é horário de trabalho, ele é hora para refeição, ele é dias de folga, ele é férias. Cambada de comunistas, pensam que somos um país rico?
Pessoas que comentam nas televisões, cujo único atributo para o fazerem é moverem-se bem no amiguismo lisboeta, serem amigos de fulana ou sicrano, conhecerem aquele e aquela, proximidade aos poderes que decidem quais os cartilheiros que, no tempo tal, devem marcar a agenda e passar o spin, que tirando isto não tinham onde cair mortos e ficavam a falar de borla no balcão do café ou no transporte público sem que ninguém lhes passasse cartucho, recebem avença mensal de muitas pensões médias para dizerem aos reformados e pensionistas que não podem ser aumentados no valor da inflação.
Nota: Depois da [a]normalidade que é um Presidente comentar todos os aspectos da acção governativa e dar opinião, sem que lha perguntem, em áreas onde não é tido nem achado, vamos entrar na [a]normalidade que é um Presidente elogiar publicamente, e em directo para o país, a acção do maior partido da oposição de que é militante?
António Costa e o Partido Socialista governaram como a direita queria:
não se pôs um travão ao aumento das rendas de casa por ser um ataque ao investimento privado na recuperação dos imóveis urbanos, depois de décadas ao abandono e à degradação, nem nas outras rendas, as das energéticas e das PPP rodoviárias, por exemplo, que o Estado tem de honrar os compromissos e não pode dizer que agora afinal não senhor, acabou-se a mama;
não se taxaram as empresas com maiores lucros, nem com lucros conjunturais devido à pandemia ou à invasão russa da Ucrânia, que isto não é a União Soviética, nem o socialismo, nem tampouco a Venezuela, e ainda corríamos o risco de deslocalizarem para a Taprobana onde o mercado é mais liberalizado e amigo do investimento;
teve um arremedo de baixa de imposto sobre combustíveis, rapidamente absorvido pela margem de lucro das gasolineiras, e depressa deixou de ser uma vitória do Ilusão Liberal reclamada em cartaz na rotunda, para cair no esquecimento ou do "mais vale estar calado que fazer figura de urso" a reivindicar coisas que até um puto da primária percebe o logro;
deu 60 paus de ajuda alimentar a cada família carenciada enquanto os espanhóis se esticaram até aos 200, mas também não é por aí, que dar dinheiro vivo a calaceiros e manhosos é incentivo à chulice de quem não quer trabalhar e fazer pela vida, como defende a direita, e se têm fomeca está cá o Banco Alimentar e o voluntário Marcelo, que até sai mais barato ao Estado que sai do bolso e do bom coração dos compatriotas que recusam a lei da selva do direito do mais forte à sobrevivência, princípio ético e moral do liberalismo;
e o pasquim que passou 5 anos a acusar o PS de governar a toque de caixa dos parceiros da esquerda geringonça, a apontar os males que isso trazia, trouxe ao país, e com reflexos nas décadas vindouras, agora chora porque afinal os socialistas não governaram como os comunas e os esquerdalhos queriam que governasse.
A Judiciaria já fazia uma investigação, com um daqueles nomes pomposos, imagem de marca, que costumam abrir telejornais, tipo "Operação Papel para Forrar o Balde do Lixo", sobre como é que jornais que não vendem, i e Sol, por exemplo, estão sempre nas bancas e no online ao minuto.
Com as urgências de obstetrícia num caos - por enquanto só estas; com a gasolina a subir todos os dias; com a inflação a fazer o fim do mês ter, para já, 40 dias; com a Euribor a ameaçar os dias de descanso de milhares de famílias, António Costa aparece todo lampeiro nas televisões a anunciar com um ano de antecedência o "aumento histórico" nas pensões para... 2023. Não se percebe muito bem esta "antecipação de lucros", ou antes, percebe-se, diz que há um gajo a ganhar quatro mil paus do contribuinte por mês para estes efeitos.
"Entre salários, prémios, bónus, contribuições para planos de pensões e outras remunerações monetárias, as 15 empresas do PSI pagaram um total de 31,9 milhões de euros aos seus presidentes executivos [atuais e antigos] em 2021, de acordo com os cálculos do ECO com base nos valores recolhidos nos relatórios e contas das empresas do índice português. A soma representa uma forte subida de 89,9% face ao valor de 2020, ano em que os CEO ganharam 16,5 milhões de euros [...]."
Ouvi há bocado no telejornal da RTP1 o governador do Banco de Portugal dizer que "Os custos salariais devem acompanhar a produtividade". Registe-se e arquive-se para memória futura.
De certeza todos devem estar bem recordados do escarcéu - aliás legítimo - que vem das bandas do PCP de cada vez que uma empresa sobe as tarifas acima da taxa de inflação prevista.