"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
Na ânsia de ficar bem na fotografia e de agradar ao regionalismo-futeboleiro António Costa espalhou-se ao comprido e, não contente com o o estrondo do espalhanço, continua a meter os pés pelas mãos com desculpas mal-amanhadas. Se quisesse realmente descentralizar, se a ideia fosse essa, tinha prometido, e cumprido, o Infarmed em Braga ou Évora, que também têm universidade e auto-estrada. Digo eu, que sou de Setúbal.
Estaline também mandava as pessoas, contra sua vontade, "trabalhar" para outras cidades. Famílias inteiras, departamentos inteiros, agências inteiras, localidades inteiras. A diferença é que como iam a pé alguns morriam pelo caminho e a deslocalização, contabilizada no deve e haver do economês que rege a política nos tempos que correm, era um sucesso pela limpeza que provocava nos "cadernos eleitorais" e no "monstro" do Estado.
Nada de mais violentador da liberdade individual do que o Estado decidir, a seu bel-prazer, da liberdade individual de cada um, com implicações directas nas famílias e naqueles que os rodeiam. E isto tanto é válido para a direita radical como para os liberais de pacotilha como para a esquerda, mais ou menos radical. E isto tanto é válido seja uma localidade inteira, seja uma agência governamental, seja uma só pessoa. E isto tanto é válido debaixo da bandeira dos amanhãs que cantam, da emancipação do proletariado, da construção do homem novo e do caminho para o socialismo, como é válido para a descentralização do Estado e para o combate a macrocefalia da capital.
Um dia depois de se saber que a Agência Europeia do Medicamento ia para Amesterdão o Governo anuncia a ida do Infarmed para o Porto, numa luta taco-a-taco com o populista do regionalismo-futeboleiro Rui Moreira para ver quem ganha o prémio do populista mais populista de Portugal e antes que comecem a vir a terreiro as vozes que insinuaram a desistência de Lisboa ser devida à percepção de que a derrota seria estrondosa e copiosa e assim que se lixassem os parolos do Porto, como se a descentralização e a regionalização [até ver chumbada em referendo exigido pelo actual Presidente da República enquanto líder do PSD] se resumisse à transferência de competências e de centros de decisão de Lisboa para o Porto, da capital para a vice-capital.
E que se lixem os parolos que trabalham no Infarmed, com vida feita e mulher e marido e filhos e casa montada em Lisboa, que chalé com piscina, 4 topos de gama à disposição, seguro de vida no valor de um milhão, mais salário, como as mordomias do administrador da Caixa Geral de Depósitos para Vale de Lobo, como compensação para o estar a semana toda fora da família e de não ver os filhos a crescer de segunda a sexta, vezes 400, que são os trabalhadores, perdão, colaboradores do Infarmed, isso foi no tempo das vacas gordas que agora o contribuinte vai pagar a capitalização do banco público e o dinheiro não chega para nada quanto mais para compensar quem viu a vida interrompida a meio porque sim e porque dá jeito a quem ocupa temporariamente a cadeira do poder de decidir sobre a vida de cada um.
Agora que Santana Lopes anda por aí é ir recuperar o que o PS disse aquando da deslocalização da secretaria de Estado da Agricultura para Santarém, que era já ali, às portas de Lisboa, não era no Porto.
"O governo explica que com esta medida são eliminadas duplicações de capacidades que se verificavam. Segundo a nota do executivo, este era o último Estabelecimento Fabril do Exército que faltava para concluir a reforma no sector.
"O Laboratório Militar vai passar a produzir medicamentos. São anti-inflamatórios, remédios para a tuberculose e pediatria, que não são produzidos pela indústria farmacêutica."
A comunicação social, capturada e engagé do pensamento único dominante, fingiu que não viu, não se passou nada. Quem é que deixou de ganhar dinheiro com mais esta "reforma do Estado" revertida pela 'Geringonça' do "Governo das esquerdas'?
O que nós gostavamos todos de saber é quanto é que foi, em percentagem e em euros, o aumento para o bolso do contribuinte entre 2011 e 2014 no pagamento pelo Governo a agências de comunicação [e já agora o nome das agências e quem é quem nas "relações perigosas" com o poder] para plantarem notícias nos jornais a enaltecer o espírito de missão e o serviço público e a defesa do Estado social pelo Governo PSD/ CDS, por coincidência e só por coincidência logo logo logo a seguir ao caso dos doentes com hepatite C, danos colaterais "custe o que custar".
Em Portugal há "conflitos de interesses"? Basta visitar os currículos dos deputados à Assembleia da República e maravilharmo-nos com as suas profissões e empregos e as comissões parlamentares que integram; de ondem os ministros vieram e para onde os ex-ministros vão. "Conflito de interesses"? Mas qual "conflito de interesses"? Deixem-se disso, pah!
Resumindo e concluindo: À indústria não interessa, os comerciantes não querem e os Governos têm mais com que preocupar. Sobram os suspeitos do costume.
Numa coisa estamos todos de acordo: "Há um sistema organizado que não se altera por diploma". É o “sistema” que parasita duplamente todos contribuintes em benefício, e para enriquecimento de alguns, quando pagamos 20 e só necessitamos de 10; quando o Estado todos nós comparticipamos 20, de 10 que acabam invariavelmente do caixote do lixo.
Adenda: Assim de repente lembrei-me da entrada de José Sócrates, cheio de gás no primeiro Governo da maioria absoluta, disposto a combater o lobby das farmácias…