"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
Interessante seria saber quantos dos abrangidos por esta medida, ou que a breve prazo venham a levar com ela em cima, são eleitores do partido da taberna, pela cruz no boletim de voto, ou por terem ficado em casa no dia das eleições. "É tudo uma cambada de ladrões!", "Querem é todos tacho!", "É tudo a mesma merda!", "A minha política é o trabalho!". Os malandros, manhosos, calaceiros do subsídio de desemprego, que ali se deixam ficar, porque sim e não por um azar da vida, que usufruem duma benesse do Estado, do nosso dinheiro, e não porque descontaram para isso, para o caso de se verem nesta situação. Quem vai procurar activamente emprego com o[s] filho[s] ao colo, o Governo que opta pelo mais fácil - cortar, ao invés de cumprir a sua função - responder às carências das populações, a infância roubada pela ausência de interacção com os outros da mesma idade.
O ódio da direita aos pobres na arte de conseguir com que os menos pobres achem esta uma medida justa e racional.
Quem tem, ou já teve, filhos pequenos, como sói dizer-se, sabe o que é pagar pelos anos de creche e infantário com se de propinas de universidade privada se tratasse. Isso ou em casa dos avós ou à solta na rua. E quem tenciona ter filhos também o sabe. E se calhar ajuda. A não os ter. E a grande "reforma estrutural" que falta fazer, depois da dos passes sociais, é o acesso gratuito a creches e infantários, isto sim um verdadeiro incentivo à natalidade, nada daquelas acções manhosas de propaganda, como os cheques-para-isto e os cheques-para-aquilo ou os abatimentos em sede de IRS.
«É necessário sobretudo encontrar soluções, tendo em conta que os estudos demonstram que os portugueses gostariam de ter mais filhos, mas sentem muitos obstáculos à concretização desse desejo [...].»
«Por nossa iniciativa, foi promovido um amplo debate em redor das questões da natalidade, que permitiu a apresentação de um conjunto de medidas legislativas, quer na Assembleia da República, quer no Governo [...]»
«O caminho está iniciado, mas é necessário ir mais longe, levando à prática medidas adicionais que removam os obstáculos à natalidade que favoreçam a harmonização entre a vida profissional e a vida familiar, que permitam uma participação efetiva dos pais na vida dos filhos, nomeadamente no que toca ao acompanhamento do seu percurso escolar, que melhorem os apoios à primeira infância [...]»
Assim, como a baixa natalidade é um problema nacional, como os portugueses gostariam de ter mais filhos e até há estudos que o comprovam e tudo [vejam só!], depois de se aumentar o horário de trabalho, diminuir os dias de férias e de descanso, cortar os salários e aumentar a carga fiscal, precarizar as relações laborais, reduxir ou até eliminar a prestação do Abono de Família, «o objectivo é claro: queremos um Estado mais amigo das famílias e que se oriente pela preocupação de remover os obstáculos à natalidade», resolvemos abrir as creches 24 horas por dia para assim os pais poderem desatar a fazer filhos à vara larga pois sabem que podem ficar nas fábricas, nos escritórios, nas limpezas, nas colocações de trabalho temporário, nos bancos e empresas privadas, com 12 e mais horas de carga laboral sem direito a remuneração do trabalho extra, nos estágios e nas acções de formação profissional, descansadinhos da vida de sol-a-sol porque sabem que os filhos estão na creche, de sol-a-sol, em boas mãos, nas mãos das IPSS’s pagas com o dinheiro do contribuinte.
«Facilitar uma maior flexibilização dos horários das creches. A maioria das creches pratica um horário das 8h às 19h, nem sempre coincidente com as necessidades das famílias. Assim, propomos a majoração dos acordos de cooperação para as creches que anteciparem o horário de abertura ou adiarem o horário de encerramento, como forma de promover um apoio reforçado e mais compatível com as necessidades das famílias e dos seus horários de trabalho.