"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
Que tudo não era mais do que um monte de ideias, um alinhavo, nada definitivo ou para levar à letra, foi a desculpa mal-amanhada, encontrada à pressão das reacções da opinião pública e da opinião publicada, para fazer marcha à ré. Pois. Está bem. O grave é que lhes tenha passado pela cabeça e o tenham passado ao papel. Não percebem, fazem-de de burros e ainda é pior a emenda que o soneto. Para memória futura fica que foram os partidos da maioria e o PS – como a generalidade da imprensa o refere, ou os partidos do governo e o Partido Socialista – como aparecia ontem na imprensa espanhola, ou o PS, o PSD e o CDS, por esta ordem – como a SIC abriu os telejornais. Do you know wath i mean? Que sejam os Carlos Abreus Amorins ou os Telmos Correias da vida airada é grave, mas a gente encolhe os ombros, o que é que se há-de fazer se é a raça deles... Que sejam as Ineses Medeiros com assentos e acentos parlamentares sem saber ler nem escrever, na bancada do partido de Mário Soares, que deu o corpo e a alma para que Telmos Correias e Abreus Amorins tenham a liberdade de dizer ao que vêm, é que é grave. Percebem, ou nem por isso?
Saímos à rua, às páginas dos jornais, aos blogues, ao Twitter, ao Facebook e ao mais que seja, em defesa dos estrangeiros pedintes das ex-repúblicas socialistas que estão em risco de expulsão; saímos em defesa dos PALOP’s desempregados que vieram trabalhar para o El Dorado das obras públicas e que, terminado o contrato, ficaram por cá ao Deus dará a construir uma cidade de lata à roda da cidade ou que fazem das montras da baixa motel por uma noite; saímos em defesa dos estrangeiros naturalizados na Selecção de Futebol como cidadãos de pleno direito. No fundo saímos para prevenir um Le Pen que por enquanto só temos em versão soft Paulo Portas e somos nós próprios um Le Pen ultra light que só vê ameaça estrangeira na cor do dinheiro, e mesmo assim nem em todo, porque empresas há que já passaram (e muitas mais programadas para passar) pelos intervalos da chuva, sem que tenham causado pruridos de perda de soberania. Arranjem outro argumento que esse até vos fica mal.
O Parlamento pagar as viagens de Inês de Medeiros é eufemismo. Nós contribuintes, os suspeitos do costume, pagamos as viagens da cosmopolita deputada e ponto final.
Sim, bem sei que a Democracia tem os seus custos e bla-bla-bla. E é mesmo por causa desta e de outras como esta que os custos para a Democracia são cada vez mais elevados: abstenção em crescendo ano após ano, e um fosso cada vez maior entre os eleitos e os eleitores. E que mal pergunte pela enésima vez, qual foi é - por esta ordem - a mais-valia para o PS, para a Democracia e para o debate, com a cabeçudice da aposta nas caras em detrimento das pessoas; quantos eleitores deram o seu voto ao partido? Ele é Patrocínios, Inêses, pontapés na chicha e a maioria absoluta a fugir de braço dado com a credibilidade.
(Na imagem Northwest Airlines, autor desconhecido)
O engano de Assis, ou talvez não, é que o arrastamento do problema não «está a "prejudicar a imagem da Assembleia"». Está a prejudicar a imagem do PS e do seu grupo parlamentar e a minar – ainda mais – a confiança dos cidadãos nos partidos políticos.
É o que dá as listas serem formadas por caras e não por pessoas, e nada terem aprendido com o patrocínio de Patrocínio.
O raid efectuado por José Sócrates, em formato Blitzkrieg, às fileiras do Bloco vem levantar muitas interrogações no eleitorado “Portugal profundo”. Nomeadamente sobre a real diferença na natureza das coisas. E o PCP agradece.