"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
Mais manhosa que a manhosa justificação dada pelo manhoso Macron como desculpa para o aumento dos combustíveis - a transição energética, costumava ser a manha da direita radical, quando oposição, a apontar o dedo ao Governo e à carga fiscal sobre os combustíveis, como se o Estado social universal não vivesse de impostos, como se a saúde, a educação, as pensões e reformas, os ordenados do funcionalismo público, e até o resgate dos bancos da excelência da gestão privada, não fosse tudo alimentado com o dinheiro do contribuinte. Comum a ambas é o nunca apontar o foco para onde ele devia estar apontado e que é para as mais-valias pornográficas a distribuir todos os anos pelos accionistas das petrolíferas.
O grande erro do Governo 'Geringonço' foi não ter colocado online um simulador da descida do imposto sobre os combustíveis e convocado a imprensa toda para o efeito.
A Galp Energia que, num contexto de queda vertiginosa do preço do petróleo, obteve em 2015 um resultado líquido ajustado de 639 milhões de euros, um "aumento de 71,5% face aos 373 milhões alcançados no período homólogo de 2014" vai agora mostrar a fibra cristã dos seus accionistas e conselho de administração – a famosa "doutrina social” da igreja e as não menos famosas "palavras do Papa Francisco" que dão sempre jeito invocar quando a ideia é enfeitar discursos manhosos, o espírito altruísta para com os co-cidadãos e a economia do país e, face às necessidades do Estado, poupar os portugueses a um brutal aumento dos combustíveis e reflectir o aumento do imposto nos lucros a distribuir no final do ano.