"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
O dia em que ficámos a saber que uma micro alga tóxica é mais eficaz na protecção da reserva natural das ilhas Selvagens, contra os ataques predadores da frota castelhana do que a fiscalização portuguesa e o fechar de olhos das autoridades espanholas, é o mesmo dia em que ficámos a saber que a Gambierdiscus toxicus não consegue proteger a nossa zona económica exclusiva da cegueira ideológica dos psicopatas actualmente no poder, e que, à mingua de empresas públicas para privatizar saquear, porque não nascem do chão como os cogumelos e porque o "investimento privado" requer muito investimento privado, se propõem agora saquear privatizar o património natural comum.
Parafraseando José Saramago: "Privatize-se tudo, privatize-se o mar e o céu, privatize-se a água e o ar, privatize-se a justiça e a lei, privatize-se a nuvem que passa, privatize-se o sonho, sobretudo se for diurno e de olhos abertos. E finalmente, para florão e remate de tanto privatizar, privatizem-se os Estados, entregue-se por uma vez a exploração deles a empresas privadas, mediante concurso internacional. Aí se encontra a salvação do mundo... e, já agora, privatize-se também a puta que os pariu a todos."
Conhecido por nunca dizer olhos nos olhos, textualmente, aquilo que pensa, por falar nas entrelinhas e em hieróglifos, ou por mandar recados por terceiros, arqueólogos encartados, com acesso exclusivo ao código "Pedra de Roseta", em cavaquês isto quer dizer, concretamente, o quê? Dos que partem, dos que ficam; dos que vivem, dos que sobrevivem? Que riqueza – a "Das Nações", a dos milhões? Que fauna é preciso preservar?
Isto em Cavaquês, e nas entrelinhas, deve querer significar alguma coisa. Deve. Mas como nem as pitonisas, oficiais e oficiosas, se atrevem deitar a adivinhar resta-nos esperar por um prefácio.