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DER TERRORIST

"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.

Vou-vos contar uma história de listas de espera no SNS

por josé simões, em 02.12.19

 

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Depois de dois anos com um ferro enfiado no osso da perna [RX na imagem], motivado por fractura numa queda em BTT, a médica que me operou achou por bem retirá-lo, "você é ainda muito novo para passar o resto dos dias da sua vida em sofrimento" e, em Maio de 2017, marcou a respectiva cirurgia, "há-de receber uma carta em casa". Em Julho do mesmo ano recebo a bela da carta. Era um cheque-cirurgia para ser usado até final do ano num de três hospitais à escolha: um hospital em Torres Vedras, o hospital da Ordem Terceira em Lisboa e ainda outro, também em Lisboa, de que não me recordo o nome. Deve dirigir-se ao centro hospitalar da sua área de residência para confirmar ou recusar, lia-se na papeleta. No dia seguinte dirigi-me ao hospital de S. Bernardo em Setúbal, "vocês desculpem lá, isto é uma cirurgia de entrar num dia e sair no outro, não há-de ser nada mas nunca se sabe e em caso de correr alguma coisa mal lá anda a família em bolandas de Setúbal para Lisboa ou para Torres. Não". Assinado o termo de responsabilidade e uma vez que na carta constava que nos serviços podia consultar a lista de espera para a minha cirurgia, "já agora, se faz favor, diga-me o tempo de espera até ser novamente chamado", "o tempo de espera não lhe sei dizer, digo-lhe o número de pessoas que estão à sua frente, são 579". "OK, já esperei dois anos não é por mais um ou outro". Termo de responsabilidade assinado e ala. Passada exactamente uma semana, uma sexta-feira, estava na praia e toca-me o telemóvel, "senhor José Simões? Fala do hospital Santiago do Outão em Setúbal, temos uma vaga na próxima segunda-feira para a sua cirurgia, quer avançar?", eu "err... então mas na semana passada tinha quinhentas e tal pessoas à frente... despacharam-nas numa semana? Isso é que é eficiência..." do outro lado, "Não [risos]. Sabe, é porque estamos no Verão... Julho e Agosto... As pessoas recusam fazer cirurgias, algumas com anos de espera, estão de férias e nada as demove". E "prontes", lá fui eu.

 

 

 

 

|| Surrealismo é

por josé simões, em 20.02.12

 

 

 

Seis horas depois de entrar no Hospital de S. Bernardo em Setúbal, como acompanhante de um doente com cólicas renais, ser transferido para o Hospital de S. José em Lisboa porque o urologista de serviço ao hospital de Setúbal não faz banco de urgência.

 

A picar 150/ 160 na auto-estrada, curvas em duas rodas, balizar a Via Verde a 120 à hora, ponte 25 de Abril a 130 porque este gaijo nã sai da frrrente, travagens com a caixa de velocidades e mais a porra do semáfrrre que nunca mais muda na saída do túnel das Amoreiras, numa ambulância de uma empresa privada de transporte de doentes, ao som de Lady Gaga no rádio.

 

Rah-rah-ah-ah-ah! Roma-Roma-ma-ah! Ga-ga-ooh-la-la! Want your bad romance, saio de casa às 10 da manhã para tornar a entrar às nove e meia da noite.

 

Fuck yeah, Serviço Nacional de Saúde!!!

 

[Lady Gaga na imagem]