"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
Quando as pessoas perceberem que os médicos alemães destacados para reforçar o Serviço Nacional de Saúde no combate à Covid ficam instalados num hospital privado porque a esmagadora maioria dos médicos e enfermeiros portugueses que aí prestam serviço fazem-no como segundo emprego, por ausência de exclusividade no SNS, e que afinal a desaproveitada "capacidade instalada" no privado se resume a tecto, cama e ferramentas de trabalho e não por "cegueira ideológica" do Governo, como invoca a direita da saúde negócio.
- "Os senhores estão a trabalhar com pacientes Covid numa altura em que os médicos do Serviço Nacional de Saúde estão a ser vacinados, e os políticos vão começar a ser vacinados na próxima semana, o Governo diz que os outros, os outros médicos, os do privado só serão mais tarde. O que é que o senhor pensa disso?".
Rui Maio, director clínico do Hospital da Luz:
- "Nós já somos vacinados, nós já recebemos vacinas, recebemos inicialmente vacinas para todas as pessoas que estão directamente envolvidas no tratamento dos doentes Covid e portanto podemos dizer que neste momento todos os profissionais de saúde que estão envolvidos directamente no tratamento dos doentes, quer sejam médicos, enfermeiros, técnicos, auxiliares, já estão vacinados, e conseguimos também alargar para outras especialidades de maior risco e que estão em contacto com estes doentes, nomeadamente pneumologia, gastroenterologia, medicina dentária, otorrino, enfim, especialidades de maior risco já estão vacinados neste hospital"
A televisão do militante n.º 1, aka SIC e SIC Notícias, descobriu que os hospitais privados cobram aos utentes o equipamento de protecção Covid-19 usado pelo pessoal médico. E faz notícia de telejornal com isso e com pessoas da "livre escolha" entre público e privado muito indignadas com mais esta parcela na factura da "saúde negócio". E ficamos sempre sem saber se estas indignações são genuína burrice; se estas indignações são genuína ignorância da máxima "não há almoços grátis"; se estas "manchetes" de telejornal são apenas mais um passo no "processo Correio da Manha em curso" nos canais auto-intitulados de referência; se isto não é só genuína sonsice da televisão do militante n.º 1 a tentar passar a ideia de que público e privado é tudo "a mesma luta".