In Memoriam
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Esta imagem animada de Pawel Kuczynski para o desmoronar da União Soviética e do comunismo resume na perfeição os tempos que correm desde que os tempos correm: pessoas que derrubam estátuas e erguem estátuas e derrubam estátuas e erguem estátuas e... são, somos sempre os mesmos nos mesmos tempos em tempos diferentes nos tempos que correm.
Até há 15 dias havia um, um só, país no mundo onde isto era inconcebível acontecer: Inglaterra.
Sign O' The Times, Capítulo XXXVII
Nem terrorismo de extrema-direita nem terrorismo fundamentalista cristão. Nem terrorismo de Estado, amigo do liberalismo e do investimento, que o obrigava a ter de ir até à América Latina nos 70s do século XX, uma chatice. Apenas "terrorismo racista", "terrorismo islamista", "terrorismo da extrema-esquerda". Senhoras e senhores, o maior revisionista e limpador de imagens do rectângulo: Rui 'revisionista' Ramos.
[Anders Breivik na imagem]
Ou como uma simples notícia nos jornais deitou por terra todas as estórias da história da expansão marítima portuguesa, escritas e contadas por José Hermano Saraiva.
Escolas primárias à frente, com as respectivas batas, brancas ou azuis, conforme. Logo atrás os ciclos preparatórios. Por fim os liceus e as escolas comerciais e industriais. Separados. Nobreza liceal de um lado, plebe comercial-industrial do outro. Respeitinho e noção das hierarquias é muito bonito. E ainda mais a separação dentro da separação. Rapazes de um lado, raparigas do outro. Respeitinho ao marido ainda mais bonito é. À porta da Câmara Municipal uma guarda de honra da Mocidade Portuguesa e uma guarda de honra dos escuteiros ao clero. As escolas todas do concelho. A Praça do Bocage cheia a deitar por fora. Dia de festa. Sua excelência o senhor ministro da Educação chega num espada preto com umas bandeirinhas nacionais de cada lado do capot, logo atrás dos batedores da policia de trânsito. Recebido pelo excelentíssimo senhor presidente da Câmara, avança decidido e com passo largo pelo meio do futuro da Pátria e no meio de uma estrondosa ovação, a mando dos professores. Pára a meio do percurso, dirige-se a um petiz a quem aperta a mão e dá uma palmadinha carinhosa numa bochecha. Era eu. O ministro da Educação do regime fascista de Salazar, da situação como se dizia, escolheu para apertar a mão um filho de uma família do contra, do reviralho. Não dá para ver pelas caras. Não mudou o destino. O meu. E tão pouco o dele, como se viria a confirmar alguns, poucos, anos mais tarde. As coisas são como são.
«Foram os políticos, os banqueiros, os homens de negócios […] dos anos que mediaram as duas guerras que levaram os seus países à catástrofe, que traíram os sacrifícios feitos durante a Primeira Guerra Mundial e prepararam o terreno para a Segunda.»
Tony Judt, Pós-Guerra – História da Europa desde 1945, Edições 70, Novembro de 2006
[Imagem “News of the World Vendor on the Embankment, 3rd September viaImperialWarMuseum]
Além da História, devia o Ministério da Educação, em nome da redução de custos e/ ou contenção de despesas, acabar com o ensino do Inglês, em particular, e com toda e qualquer língua estrangeira, no geral, na escola pública.
É extremamente perigoso, e potencialmente subversivo, ter as pessoas a ir à net ler, noutras línguas, outras opiniões que não o discurso formatado da brigada do “direita volver!” dos paineleiros do comentário político-económico com lugar cativo para toda a época, nas rádios, televisões e jornais nacionais.
[Imagem]
Podia o título vir sem ponto de interrogação e continuar directamente para o 4º parágrafo: «A História não é uma disciplina estruturante», porque «é fundamental para contextualizar fenómenos complexos, viabilizando posturas menos alienantes face às problemáticas da multiculturalidade e múltiplas identidades» tal e tal e tal «através das suas ferramentas de análise, possui a capacidade de destruir ideias feitas e, assim, levar a repensar o presente», tudo coisas que não interessam a um Governo de Direita, em modo administrador-delegado plenipotenciário, temente a Deus e aos mercados, e a precisar como de pão para a boca de uma legião de amorfos que lhe permita cumprir metas atingir os objectivos. Que não são os seus, claro, são os da Troika porque está aí a Troika, porque se não estivesse havia de estar outra coisa qualquer que o justificasse.
«Ler e contar e saber quem foi o primeiro rei de Portugal, e se calhar trabalhos manuais.»
[*] Via
Compreendo que o ministro Nuno Crato, por ser mais dado às matemáticas e às estatísticas, tenha alguma dificuldade em perceber o lugar comum “um povo que não preserva o seu passado é um povo sem futuro”, ou, posso ser maquiavélico q. b., e ver no «corte nas aulas de História» uma interpretação da máxima da historiadora brasileira Helena Pignatari «um povo sem história é um povo sem memória», e como a primeira etapa da construção de um “homem novo”, totalmente ignorante do seu passado enquanto povo e enquanto Nação. Trabalhar, trabalhar, produzir, produzir, para satisfação plena dos mercados. Obey, obey, obey.
[Imagem]
By the way, a construção do "homem novo" já foi tentada no princípio do século XX, na Alemanha e na ex-URSS, e não deu resultado.