"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
A woman reacts, as members of security forces attempt to evict displaced people from an old hotel, amid ongoing hostilities between Hezbollah and Israeli forces, in the Hamra neighborhood of Beirut, Lebanon, October 21 Reuters/ Yara Nardi
Pelo menos até à data da impressão do poster que ilustra o post, 1981, a religião era o ópio do povo. Dez anos depois, 1991, a pátria do socialismo desmoronou-se e as coisas ficam um bocado ao "deus-dará", sem ironia, até ao ano de 2006 onde temos um partido comunista a estabelecer relações diplomáticas com uma organização terrorista fundamentalista islâmica, dos inteligentes com trapos enrolados na cabeça, como no poster, um Estado dentro do Estado, com exército próprio, responsável pelo assassinato de um primeiro-ministro do próprio país, um ano antes da embaixada a Beirute. Tudo por causa da "luta contra o imperialismo" 'amaricano', contra o sionismo, e o caralho. Nada mal para quem anda sempre com a boca cheia de constituição, do respeito pela legalidade, pelas instituições e e pelo Estado democrático.
Uma organização terrorista com exército, um Estado dentro do Estado, um sindicato do crime internacional que trafica droga, branqueia capitais, negoceia em armas - Hezbollah; uma teocracia com delito de opinião punido com pena de morte, que maltrata as mulheres, que enforca os homossexuais em gruas nas praças públicas, que financia e arma organizações terroristas - Irão. É pá, menos. Ser de esquerda não é isto, ser de esquerda não é vibrar com uma ditadura teocratica e com o fundamentalismo religioso, isso é dar mau nome à esquerda.
A woman sits on a beach as smoke billows over southern Lebanon following Israeli strikes, amid ongoing cross-border hostilities between Hezbollah and Israeli forces, as seen from Tyre, southern Lebanon, September 23. Reuters/ Aziz Taher
Mourners attend the funeral of Hezbollah member Ali Mohamed Chalbi, after hand-held radios and pagers used by Hezbollah detonated across Lebanon, in Kfar Melki, Lebanon, September 19. Reuters/ Aziz Taher
A cena da morte de crianças é uma coisa que nunca falha no coração de manteiga ocidental, dito de outra maneira, funciona sempre. Por outro lado morrerem crianças em explosões de beepers significa que os barbudos com trapos na cabeça também educam os infantes ao telemóvel como nós, os ocidentais com coração de manteiga? E podíamos discorrer sobre o que é que eles vêem quando estão de telemóvel na mão, o choque cultural e por aí. A globalização é tramada. E também por outra lado morrem crianças porque o Hezbollah diz que sim e morrem crianças porque o Hezbollah as armadilha e as faz explodir numa praça ou num mercado. Não são crianças são mártires. Há indignações e indignações e indignações mais indignações que as outras indignações. E depois há os sonsos do "a religião é o ópio do povo" no meio de uma guerra religiosa, numa manif com faixas a gritar por uma Palestina livre e laica. Laica. Ponto.
Os loucos que governam o Irão mandam recados pela boca do Donaltim, o terrorista Nasrallah, a dizer que os assassinos de Paris dão mau nome ao Islão e ao Profeta e não têm "sentido de Estado".
Cheios de "sentido de Estado" os terroristas mainstream sabem melhor do que ninguém, e melhor que o novel lumpemterrorismo, que o terrorismo que é terrorismo é em Israel em defesa da Judeia e da cidade santa de Élia Capitolina ou, vá lá, no fim do mundo da Nigéria ou do Sudão, nunca na Europa velha e nas capitais velhas da Europa velha, que isso espanta o apoio dos idiotas úteis à causa.
O lumpemterrorismo, em roda livre, veio baralhar as contas e dar cabo disto tudo.