"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
Palestinian militants surround hostage Arbel Yehoud, on the day they hand her to members of the International Committee of the Red Cross (ICRC) as part of a ceasefire and prisoners swap deal between Hamas and Israel, in Khan Younis in the southern Gaza Strip, January 30. Reuters/ Ramadan Abed
Quando Edwin Starr gravou War, canção dos The Temptations, que havia de se tornar num hit contra a guerra do Vietname e um dos melhores temas anti-guerra da história da pop-rock, recuperada anos mais tarde pelos Frankie Goes to Hollywood em plena guerra fria e ameça nuclear, nunca antecipou que anos mais tarde, numa outra latitude, Gaza, uma guerra ia ter utilidade: o mundo saber que nas guerras morrem crianças.
Com o historial hollywoodesco, e prontamente aproveitado por Hollywood, que Israel leva nos ecrãs, desde a primordial Operação Garibaldi que foi sacar Eichmann a Buenos Aires, passando pela Operação Cólera de Deus, durante anos atrás dos responsáveis pelo massacre dos atletas israelitas nos Olímpicos de Munique, à infiltração de um agente na estrutura político-militar síria, onde chegou a conselheiro-chefe do Ministro da Defesa, à em tempo recorde planeada Operação Entebbe de resgate de reféns israelitas de um avião desviado para o Uganda, ao assassinato de um dirigente do Hamas em plena capital do Irão, até à mais recente, e não menos espectacular e sofisticada, que foi colocar explosivos em 5000 - cinco mil - pagers para explodirem em simultâneo, é cada vez mais uma certeza que o ataque de 7 de Outubro de 2023 ao kibutz Be'eri e ao festival de música de Re'im podiam ter sido evitados, se é que não foram propositadamente ignorados por alguém na cúpula político-militar israelita como pretexto para o que se seguiu e segue.
Corria o ano de 135 e Adriano, para pôr fim às revoltas e constante instabilidade na região, depois de ter perdido uma legião, desloca para a Judeia a VI legião, a de Ferro, a XII legião, a Fulminante, e o general Lucio Severo, com um grupo de especialistas em guerrilha urbana vindos da Bretanha. Foram massacrados 580 mil judeus, cidades e templos arrasados, milhares de judeus escravizados, a cabeça de bar Kosba cortada e exibida como troféu, e a região rebaptizada de Síria Palestina. "Oitenta mil romanos invadiram Betar, e assassinaram os homens, mulheres e crianças, até correr sangue das soleiras e valetas". Nascia o judaísmo como condição religiosa e cultura, acabava a condição política.
Na apresentação do plano para controlar militarmente o "corredor de Filadélfia" Netanyahu recorre a um mapa onde a Cisjordânia já não aparece assinalada, é tudo Israel, só já ali resta Gaza a incomodar e atrapalhar. Netanyahu e os fundamentalistas religiosos e de extrema-direita com quem está coligado no governo vão "corrigir" a história e repetir na "terra prometida" com os palestinianos o que Adriano lhes fez há quase 1900 anos. E ninguém quer saber.
Um dos maiores financiadores do terrorismo mundial. Os homossexuais enforcados em gruas nas praças públicas. As mulheres perseguidas por serem mulheres. As ordens dadas à polícia para disparar à cara dos manifestantes por formar a cegarem uma vista. As penas de morte por simples artigos de opinião ou posts nas redes sociais. As penas de prisão acompanhadas por centenas de chicotadas. Os crimes de honra com absolvição do marido. Agora pençem.
Gajos que escolhem o Natal e a Páscoa para cometerem atentados terroristas querem uma pausa na guerra durante o Ramadão. Não há solução política para guerras religiosas com mais de 2000 anos.
A boy looks out through a hole in a damaged wall in the aftermath of an Israeli raid, in Far'a refugee camp near Tubas, in the Israeli-occupied West Bank, December 29, 2023. Reuters/ Raneen Sawafta
Israel-Gaza Border - A picture taken in southern Israel near the border with the Gaza Strip shows an Israeli soldier playing violin on a tank, amid continuing battles between Israel and the militant group Hamas. AFP/ Menahem Kahana
Na outra guerra, a do impacto das imagens na opinião pública ocidental, de lágrima no canto do olho no sofá frente à televisão, e que cresceu com brinquedos inócuos, nada de "children´s toys", o Hamas continua na frente e a marcar pontos. A campanha "The Jacket" da Zara, concebida em Julho, fotografada em Setembro, por pressão da opinião pública é retirada em Dezembro, apesar de não ter nada a ver com nada. Não adianta, é o que temos.
[Ainda é possível encontrar imagens disponíveis online apesar de alguma imprensa da especialidade já as ter retirado. No The Daily Front Row só mesmo através da cache, por enquanto]
Desde o início da guerra Zelensky veste a farda, verde ou camuflado, do exército. Desde o início da guerra Netanyahu veste negro. Integral. A fazer lembrar outros que vestiram negro noutras alturas. Coisa que lhe devia fazer comichão mas que pelos vistos não faz.
The Food and Agriculture Organization of the United Nations (FAO) says that 80 percent of the population in the Gaza Strip was already food insecure prior to the start of the war on October 7. Nearly half of the population of 2.3 million people relied on food assistance from the UN Relief and Works Agency for Palestine Refugees (UNRWA). Mohammed Abed/AFP
The figure of a hand is marked with blood on the wall of a bomb shelter located in the Thai workers’ housing section of Kibbutz Nir Oz, Israel, near the Gaza Strip, Thursday, Nov. 9, 2023. The kibbutz was attacked on Oct. 7 by Hamas militants, who killed and kidnapped members of its community. AP Photo/ Bernat Armangue