"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
André Freire repete hoje na sua coluna no Público, a propósito da invasão da Geórgia pela Rússia, o mesmo que o Público havia escrito em 27 de Agosto passado: que a Rússia em vindo a cultivar o separatismo na Ossétia do Sul e na Abkházia «nomeadamente, através de apoio político militar, bem como através da concessão massiva de passaportes russos (por essa via a população da Abkházia é hoje maioritariamente “russa”».
Não questiono. Nem sequer tomo partido por um lado ou pelo outro.
Uma vez que ninguém foi/ é obrigado a ter passaporte russo, a minha interrogação é: o que leva a população não-rusa da Abkházia a aceitar a russificação; a aceitar o passaporte russo e por consequência a cidadania russa?
Ou dito de outra maneira: o que leva a população da Abkházia a recusar pertencer à Geórgia; a recusar a “democracia ocidental” e a NATO e a União Europeia e tudo o mais que por aí vem/ vinha (?). O que é uma chatice…
A isto André “O Politólogo” Freire não quer ou não sabe responder. E está no seu direito de só falar no que lhe interessa. Assim como os povos estão no seu direito de optar.
(Imagem roubada no blogue do José Milhazes, que também aborda o mesmo procedimento noutra latitude)
Rebenta uma guerra. Daquelas guerras “à antiga”; com balas e bombas e tudo.
E mortos; muitos.
E refugiados; muitos.
E está ali um gajo num campo de fugidos à guerra refugiados, com a roupa que tinha mais à mão em cima do pelo, debaixo duma lona verde, a pensar na casa destruída e na família toda esfrangalhada e nos putos a ganirem com fome.
E chega outro gajo, todo engomadinho e de gravata de seda imaculada.
E atrás dele vem uma comitiva enorme de gajos todos engomadinhos e de gravatas de seda imaculadas.
E dizem que se preocupam e que são comissários e que lhe vão resolver o(s) problema(s).
O que é que o gajo que vive agora numa tenda pensa?
Na minha empresa, onde trabalham dezenas (e se estou a pecar é por defeito) de imigrantes moldavos e ucranianos, em conversas que nestes últimos dias temos tido, descubro que nesta guerra Rússia – Geórgiatomam o partido da Rússia e de Putin. Por unanimidade.
Parece quehá uma guerraentre a Rússia e a Geórgia por causa da Ossétia do Sul.
Rússia, Ucrânia, Geórgia, Ossétia, Abkázia; desculpem lá, isso não é tudo União Soviética?
E antes de haver a União Soviética já havia a Rússia dos Czares que, visto do lado dos povos era assim uma espécie de União Soviética com outra bandeira, outros sovietes e comissários de brasão. E depois ainda houve um interregno em que as tropas de Hitler andaram por aquelas bandas e jogaram um jogo de cumplicidades com algumas populações autóctones nas zonas ocupadas.
Ora ide lá ler os compêndios de História na secção “Cáucaso”. Ajuda a perceber muita coisa.