"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
Coisas velhas, passadas pelo brushing e maquilhagem, apresentadas como coisas novas, e sublinhadas, até á náusea, como ideias novas que vêm substituir ideias velhas. Isto só costuma acontecer com governos e governantes em final de mandato e massacrados por anos de [má] governação. Não é preciso grande esforço para desmontar o discurso de propaganda do ministro da propaganda, basta fazer as perguntas e deixar responder sem interromper e com grandes planos das expressões faciais, tal é o desfasamento entre a realidade pintada e a realidade, sofrida na pele, todos os dias. Soberbo.
"Portugal está onde estão os portugueses e os seus interesses" ou "Portugal está onde estão os seus interesses e os [dos] portugueses", o que para o caso vai dar no mesmo, disse, mais ponto menos vírgula, Paulo Portas na Grande Entrevista da RTP1 e a propósito do encerramento das embaixadas.
É por isso que encerrámos a embaixada em Andorra e mantivemos uma embaixada em Roma e outra no Vaticano, separadas entre si por meia centena de metros, digo eu.
Disse-me no congresso de Carcavelos, olhos nos olhos, como dizia a avó Ilda “estes olhos que a terra há-de comer”, que ninguém no seu perfeito juízo acredita que este Governo possa durar uma legislatura. Era tão fácil de desarmar, assim a esperteza da entrevistadora deixasse de ser saloia. Pergunta de algibeira que nunca é feita: e se o Governo fizer o seu trabalho, se se deixar de “fitas e governar” o que é que sobra para o PSD, o PSD serve para quê, grilo falante do regime?
Ouvir o líder partidário há mais tempo no activo e com responsabilidades ministeriais em dois governos falar em “regeneração do país”. Regeneraquantas?!
Especulando, e caso a resposta fosse “Sim”, teria Judite de Sousa engatilhada a pergunta “em caso de maioria simples, pondera uma aliança parlamentar com Paulo Portas?”. Nunca saberemos.
Em entrevista a Judite de Sousa, o camarada secretário-geral “temos profundas inquietações” e como tal o camarada secretário-geral “acompanhamos profundamente” e “consideramos” que os “profundos problemas” do “nosso” ponto de vista” porque “somos eleitos e respeitamos o mandato”.
Camarada secretário-geral, não é por nada, mas ao dono deste blogue vai-nos faltando a paciência para quem, “profundamente”, nos fala na primeira pessoa do plural.
«Uma campanha negra é acusar alguém que é candidato a primeiro-ministro (leia-se José Sócrates) de determinada tendência sexual (leia-se homossexual)».
Foi mais ou menos assim que Augusto Santos Silva começou por responder na entrevista a Judite de Sousa., e como exemplo do que é a homofobia melhor era impossível.
Passo a explicar. Eu, por exemplo, heterossexual e acérrimo defensor do “cada um mija com a sua e não se fala mais no assunto”, tanto se me dá como se me deu que me chamem homossexual, bicha, paneleiro, rabeta, “olha o gajo pega de empurrão” ou “a menina atraca de popa”; é para o lado que durmo melhor. Quando trato com alguém não estou a ver se é homem ou mulher, homo, hetero ou bi, branco, amarelo, preto ou azul às bolinhas cor-de-rosa. Estou a ver seres humanos com virtudes e defeitos. E depois há o nível intelectual num determinado padrão que é meu. Agora campanhas negras? Poupem-me.
É por causa destes pequenos “sinais” - podes dizer que "ando ao papelão", paneleiiro é que não pode ser nada - que desconfio da bondade da agenda fracturante.
«Hoje em dia todos nós somos avaliados; os bancos, o país, as empresas e as pessoas (…) osalunos e os professores também deviam ser avaliados»
Gostei deste Perfeito do Indicativo usado por Ricardo Salgado na Grande Entrevista com Judite de Sousa. Escusam de vir os habituais, que o gajo é um banqueiro e um agiota e um reaccionário e um fascista e que fala de barriga cheia, e por aí. Gostei e prontes!
(Foto de Al Fenn/ Time Life Picture/ Getty Images)
Recorrendo ao parêntesis, à vírgula, ao ponto e vírgula, etc., exprimimos sentimentos vários via sms. Desconheço se existe algum símbolo que represente a “sensação de vazio”. Vou inventar um agora mesmo: ( ). Foi o que me ficou da entrevista a Manuela Ferreira Leite.
Com o beneplácito de uma Judite de Sousa que deixou a acutilância e as perguntas incómodas em Sintra, Dona Manuela enrolou, enrolou e tornou a enrolar a conversa. Sem um rasgo de génio nem um bocadinho de magia; léxico futeboleiro. Também como no futebol, e como naqueles jogos do meio da tabela para baixo, e sem o risco de dizer uma enormidade, podemos afirmar: podia estar lá até amanhã que não marcava um golo!
(Foto de não me lembro quem, e roubada não sei onde)