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DER TERRORIST

"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.

Da série "Coisas Verdadeiramente Estúpidas"

por josé simões, em 23.04.20

 

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Directamente para o primeiro lugar do top of the pops das "coisas verdadeiramente estúpidas", o "Manual de Instruções" do Bloco para cantar a "Grândola" à janela.

 

 

 

 

||| 25 de Abril de 1974 – 25 de Abril de 2014, 40 anos de sons e palavras [50]

por josé simões, em 25.04.14

 

 

 

Grândola Vila Morena – José Afonso         

 

[7” vinyl]

 

 

 

 

 

 

|| É preciso recuar muito no tempo

por josé simões, em 20.02.13

 

 

 

Para dar com o dia em que alguém foi identificado pela polícia por entoar "Grândola, Vila Morena". É preciso recuar mesmo muito, até antes do dia 29 de Março de 1974.

 

 

 

 

 

 

|| E é só o que me apraz dizer

por josé simões, em 19.02.13

 

 

 

Miguel Relvas personifica tudo aquilo que os meus pais me educaram e ensinaram a não ser. E é só o que me apraz dizer.

 

[Imagem]

 

 

 

 

 

 

|| Serviço Público

por josé simões, em 24.04.12

 

 

 

Onde se recupera um post antigo deste blogue:

 

Grândola Vila Morena ... o porquê a canção de Abril

 

«Conto esta história na primeira pessoa, porque é a narrativa de uma experiência de vida difícil de esquecer…

Há quem pense que foi a letra que fez do “Grândola” a canção escolhida para “senha de avanço” na noite de 24 para 25 de Abril de 1974, que foi o poema ou a figura de José Afonso, per se… mas não… se tudo isso pesou, e pesou decerto, a composição do Zeca tornou-se o símbolo da revolução dos cravos por um significado maior, que adquiriu menos de um mês antes. Foi num acontecimento em que participaram muitos portugueses, de forma espontânea, mas que passou relativamente despercebido na comunicação social de então, nesses tempos em que a Imprensa, para falar de certas coisas, tinha que fazê-lo “nas entrelinhas”…

 

Estava-se em Março de 1974.

A Casa da Imprensa organiza, no Coliseu dos Recreios, o “Primeiro Encontro da Canção Portuguesa”.

Quase não aconteceu, porque a necessária autorização nunca chegou. Segundo declarações de José Jorge Letria à Visão, trinta anos depois, “O regime já estava nitidamente em fase de implosão. Quiseram derrotar-nos não com uma proibição do Festival, mas com uma não-resposta. Até ao dia do espectáculo ainda não sabíamos se tínhamos, ou não, autorização. Por volta das 17 e 30 do dia 29, quando cheguei ao Coliseu, já havia muita gente à volta, e ao fundo da Avenida da Liberdade lá estava a polícia de choque… estava a desenhar-se ali um confronto!

O ambiente no país era tenso: menos de duas semanas antes tinha ocorrido o golpe frustrado de 16 de Março, a censura dominava.

 

Eu trabalhava então como repórter free-lancer para o programa “Limite” da Rádio Renascença (o tal que tocou o “Grândola Vila Morena”) e fazia em média seis reportagens de exteriores por semana, com não mais que uma a passar as malhas da censura.

 Nessa noite, fui ao Coliseu, armado de gravador e uma grande vontade de ouvir as vozes que os censores da rádio baniam.

O ambiente era quente, a despeito de uma primavera ainda fria… os bilhetes tido sido todos vendidos e houve quem ficasse à porta. O Governo fez deslocar para o Coliseu muitos agentes da ex-PIDE, que então se chamava DGS, misturados com os espectadores.

A primeira coisa que vi quando cheguei foram dois cavalheiros da censura a verificar as letras do que ia ser cantado – o visado era Adriano Correia de Oliveira, depois seguiram-se todos, sem excepção – o Zeca lá conseguiu ordem para cantar o Milho Verde e uma música alentejana que não pareceu perigosa aos senhores do lápis vermelho, o “Grândola”…

Do palco, a música abraçou um Coliseu com cerca de sete mil pessoas.

Ali estiveram Carlos Alberto Moniz e Maria do Amparo, Pedro Almeida, Fausto, Barata Moura, Vitorino, Adriano Correia de Oliveira, Zeca Afonso, Carlos Paredes, José Jorge Letria e Manuel Freire.

Tudo foi normal até à chegada ao palco do “cantor andarilho”. Zeca cantou o Milho Verde e a plateia pediu as canções que mais gostava… “Os Vampiros”, foi um grito que ouvi várias vezes.

Nessa altura, decidi sair dos bastidores e fui para a plateia, gravar tudo mais de perto.

José Afonso ia dizendo que não podia cantar o que o público queria… “Não pode ser, percebam… vamos cantar outra coisa”…

 

Foi então que se começou a fazer História.

Zeca cantou o Grândola. A meio, a plateia juntou-se-lhe, depois o resto do Coliseu, e também os artistas que tinham estado em palco – voltaram, deram-se braços, cantaram juntos, numa fila que enchia a boca de cena.

A canção estava no fim, por essa altura… e foi natural que nem chegasse a terminar, recomeçando agora a sete mil vozes!

Eu corria de pessoas em pessoa, recolhendo testemunhos que não conseguia ouvir, microfone encostado às bocas…

O som era avassalador, uma música simples, uma letra que todos sabiam, sete mil peitos em riste… até àquilo que foi a mais impressionante manifestação espontânea que assisti em toda a minha vida!

Já o Grândola ia em fins de segunda volta, aconteceu o inesperado…

… a certa altura, em vez de a música continuar alentejana, o próximo verso foi o primeiro do Hino Nacional – assim, sem pausa, sem transição, sem que ninguém tivesse dito nada… parece que foi um sentimento colectivo que sete mil pessoas tiveram!

Grândola Vila Morena transformou-se em Heróis do Mar e foi cantado da primeira à última estrofe, sete mil portugueses de pé a fazer vibrar a sala com o hino da pátria amordaçada, numa repentina liberdade assumida ali e então.

Nada poderia ter sido mais claro, nenhum grito faria mais sentido.

 

Foi um momento que ficou escrito em letras de memória para quem lá esteve, um momento inolvidável, uma pedra de História.

Tinha nascido a razão maior por que “Grândola Vila Morena”, menos de um mês depois, se tornaria a escolha natural para uma senha que iria abrir as portas a um pais novo!»

 

Pedro Laranjeira

 

 

 

 

 

 

Grândola Vila Morena ... o porquê a canção de Abril

por josé simões, em 25.04.07

 

 

«Conto esta história na primeira pessoa, porque é a narrativa de uma experiência de vida difícil de esquecer…

Há quem pense que foi a letra que fez do “Grândola” a canção escolhida para “senha de avanço” na noite de 24 para 25 de Abril de 1974, que foi o poema ou a figura de José Afonso, per se… mas não… se tudo isso pesou, e pesou decerto, a composição do Zeca tornou-se o símbolo da revolução dos cravos por um significado maior, que adquiriu menos de um mês antes. Foi num acontecimento em que participaram muitos portugueses, de forma espontânea, mas que passou relativamente despercebido na comunicação social de então, nesses tempos em que a Imprensa, para falar de certas coisas, tinha que fazê-lo “nas entrelinhas”…

Estava-se em Março de 1974.

A Casa da Imprensa organiza, no Coliseu dos Recreios, o “Primeiro Encontro da Canção Portuguesa”.

Quase não aconteceu, porque a necessária autorização nunca chegou. Segundo declarações de José Jorge Letria à Visão, trinta anos depois, “O regime já estava nitidamente em fase de implosão. Quiseram derrotar-nos não com uma proibição do Festival, mas com uma não-resposta. Até ao dia do espectáculo ainda não sabíamos se tínhamos, ou não, autorização. Por volta das 17 e 30 do dia 29, quando cheguei ao Coliseu, já havia muita gente à volta, e ao fundo da Avenida da Liberdade lá estava a polícia de choque… estava a desenhar-se ali um confronto!

O ambiente no país era tenso: menos de duas semanas antes tinha ocorrido o golpe frustrado de 16 de Março, a censura dominava.

Eu trabalhava então como repórter free-lancer para o programa “Limite” da Rádio Renascença (o tal que tocou o “Grândola Vila Morena”) e fazia em média seis reportagens de exteriores por semana, com não mais que uma a passar as malhas da censura.

Nessa noite, fui ao Coliseu, armado de gravador e uma grande vontade de ouvir as vozes que os censores da rádio baniam.

O ambiente era quente, a despeito de uma primavera ainda fria… os bilhetes tido sido todos vendidos e houve quem ficasse à porta. O Governo fez deslocar para o Coliseu muitos agentes da ex-PIDE, que então se chamava DGS, misturados com os espectadores.

A primeira coisa que vi quando cheguei foram dois cavalheiros da censura a verificar as letras do que ia ser cantado – o visado era Adriano Correia de Oliveira, depois seguiram-se todos, sem excepção – o Zeca lá conseguiu ordem para cantar o Milho Verde e uma música alentejana que não pareceu perigosa aos senhores do lápis vermelho, o “Grândola”…

Do palco, a música abraçou um Coliseu com cerca de sete mil pessoas.

Ali estiveram Carlos Alberto Moniz e Maria do Amparo, Pedro Almeida, Fausto, Barata Moura, Vitorino, Adriano Correia de Oliveira, Zeca Afonso, Carlos Paredes, José Jorge Letria e Manuel Freire.

Tudo foi normal até à chegada ao palco do “cantor andarilho”. Zeca cantou o Milho Verde e a plateia pediu as canções que mais gostava… “Os Vampiros”, foi um grito que ouvi várias vezes.

Nessa altura, decidi sair dos bastidores e fui para a plateia, gravar tudo mais de perto.

José Afonso ia dizendo que não podia cantar o que o público queria… “Não pode ser, percebam… vamos cantar outra coisa”…

Foi então que se começou a fazer História.

Zeca cantou o Grândola. A meio, a plateia juntou-se-lhe, depois o resto do Coliseu, e também os artistas que tinham estado em palco – voltaram, deram-se braços, cantaram juntos, numa fila que enchia a boca de cena.

A canção estava no fim, por essa altura… e foi natural que nem chegasse a terminar, recomeçando agora a sete mil vozes!

Eu corria de pessoas em pessoa, recolhendo testemunhos que não conseguia ouvir, microfone encostado às bocas…

O som era avassalador, uma música simples, uma letra que todos sabiam, sete mil peitos em riste… até àquilo que foi a mais impressionante manifestação espontânea que assisti em toda a minha vida!

Já o Grândola ia em fins de segunda volta, aconteceu o inesperado…

… a certa altura, em vez de a música continuar alentejana, o próximo verso foi o primeiro do Hino Nacional – assim, sem pausa, sem transição, sem que ninguém tivesse dito nada… parece que foi um sentimento colectivo que sete mil pessoas tiveram!

Grândola Vila Morena transformou-se em Heróis do Mar e foi cantado da primeira à última estrofe, sete mil portugueses de pé a fazer vibrar a sala com o hino da pátria amordaçada, numa repentina liberdade assumida ali e então.

Nada poderia ter sido mais claro, nenhum grito faria mais sentido.

Foi um momento que ficou escrito em letras de memória para quem lá esteve, um momento inolvidável, uma pedra de História.

Tinha nascido a razão maior por que “Grândola Vila Morena”, menos de um mês depois, se tornaria a escolha natural para uma senha que iria abrir as portas a um pais novo!»

 

Pedro Laranjeira