"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
O dia em que se soube que o logo caído em desgraça, com comício de evocação dos "verdadeiros portugueses" e tudo, arrebanhou mais um prémio, agora internacional, foi o dia em que se ficou a saber que o Governo dos verdadeiros portugueses deixou cair a esfera, as quinas e os castelos, depois de uma guerra cultural pífia e sem sentido, em favor de um outro logo, candidato ao prémio ignóbil do design. Uns trabalham e outros gozam com quem trabalha.
O alegado presidente do PS aconselha Costa a remodelar o Governo para o partido não ser castigado nas urnas quando o pagode for chamado a votos, novas pessoas, diz ele. E diz ele também que "é preciso associar a experiência de uns com o entusiasmo de outros". O que ele não diz, e se lhe passou alguma vez pela cabeça se calhar nunca iremos saber, é como é que após um ano de acção governativa do primeiro Governo paródia da história da democracia, o "entusiasmos de outros" e "a experiência de uns", lhes vai ditar a se enterrarem e enlamearem a imagem num saco de gatos de incompetências e falta de senso, de lutas internas partidárias sem rei nem roque, de traições e facadas nas costas. Dito de outra maneira, se consegue Costa captar fora do próprio círculo dentro do Rato.
Para levar a sério era o PCP deixar de vez a palhaçada Os Verdes, aquela coisa que não se sabe quanto vale por nunca ter ido a votos em modo próprio, e desafiar o Bloco de Esquerda para um coligação eleitoral que podia duplicar a representação parlamentar das actuais bancadas. Cada qual ia às suas a seguir ao encerramento das urnas e cada partido continuava com o seu programa e agenda política, mas iam juntos a votos. Agora o PCP aparecer a propor-se solução governativa, prenha de adjectivação a lembrar a Rússia em 1917 ou Venezuela de 2002 do "socialismo bolivariano para o século XXI", uma "alternativa patriótica e de esquerda", com ministérios e secretarias de Estado distribuídas, depois de nos idos da 'Geringonça' a ter recusado liminarmente, não é para levar a sério, é mais do mesmo, manobras de diversão.
Fernando Medina, que é ministro das Finanças porque perdeu as eleições autárquicas, nas televisões a falar em credibilidade [Se já estava destinado por António Costa às Finanças o PS andou a enganar os lisboetas nas autárquicas].
Marcelo a orar a Deus de beiço caído na procissão do Corpo de Deus. [Foi de surpresa, aquele banco em lugar destacado estava ali por acaso]. A inveja que o Ventas do Chaga deve ter sentido por não se ter lembrado desta primeiro. Não é bobo da corte quem quer.
O director de comunicação do Governo diz que foi apanhado de surpresa com a proposta de ir ganhar mais de quatro mil paus por mês para fazer pelo Governo aquilo que Mário Soares, Sá Carneiro, Álvaro Cunhal, faziam de borla. Está a dar resultado, à medida que o tempo passa a ideia generalizada é que o Governo não resolve a crise no Serviço Nacional de Saúde porque não quer, não está para aí virado. Há mais pobres a quem distribuir o bodo [do erário público].
As misericórdias, os maiores proprietários imobiliários nas cidades de norte a sul do país. As misericórdias, onde para meter um familiar num lar é necessário uma doação de milhares de euros, ou uma propriedade e/ ou imóvel que fazem o tal património, e uma propina mensal de muitos salários mínimos. As misericórdias, onde apesar das quotizações cobradas aos "irmãos" tudo custa os olhos da cara, desde fisioterapias a apoios domiciliários passando por actividades ocupacionais. As misericórdias, o albergue do emprego para a vida das distritais do PSD e CDS. As misericórdias dão ultimato ao Governo.
Se por um azar morrer algum familiar de um governante [toc-toc-toc três vezes na madeira; lagarto, lagarto; salvo seja e todas aquelas coisas que é normal dizer] o Governo pára, por via dos dias de nojo consignados em lei. Pai/ mãe/ sogro/ sogra/ conjugue: 5 dias; irmão/ irmã: 3 dias; primos: dia do funeral, etc. , etc. . E não é difícil imaginar todos os constrangimentos que isso traz ao governo, com letra pequena, da Nação.
Dois anos depois e das trapalhadas com os bancos, herdadas do anterior Governo, resolvidas e com o sistema financeiro estabilizado; com todas as metas estabelecidas cumpridas, sem recurso a extraordinários; com a economia a crescer e as exportações no mesmo sentido; com o défice mais baixo da democracia; com o PIB a aumentar e o desemprego a regredir até aos números de 2008; com o país fora do procedimento por défice excessivo, contrariando as ameaças de Bruxelas ao anterior Governo; com a Standard & Poor’s a reavaliar positivamente a notação do país; com as taxas e sobretaxas anuladas e o rendimento restituído às pessoas e às famílias; com a oposição a brandir os incêndios de Verão, o paiol de Tancos, o jantar no Panteão, a legionella na chaminé do hospital, o Infarmed no Porto e a comemoração paga à Universidade de Aveiro para assinalar o 2.º aniversário do Governo. Como diria Assunção Cristas, "um Governo preocupado só com a sua imagem".
Rui Medeiros, o constitucionalista que atestava a constitucionalidade dos diplomas do Governo PSD/ CDS declarados inconstitucionais pelo Tribunal Constitucional.
Fernando Negrão, da demissão do cargo de director da Polícia Judiciária no quadro do processo Moderna [que chegou a envolver Paulo Portas] por suspeitas de violação do segredo de justiça. De Setúbal para Lisboa, de Lisboa para o Parlamento, onde ainda ontem não foi eleito presidente porque os socialistas-comunistas-esquerdistas-anarquistas não respeitam a tradição. Contra a democracia marchar, marchar.