"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
O excelentíssimo senhor Governador do Banco de Portugal consegue gastar 8 561 [oito mil quinhentos e sessenta e um] caracteres na mensagem de Ano Novo onde perora desde o crescimento da economia à sustentabilidade do Estado social, passando pela dimensão do Estado que temos comparativamente com a riqueza que criamos [um "viver acima das nossas possibilidades" dito de outra maneira para não agitar fantasmas] até ao endividamento público e privado e aos baixos níveis de investimento empresarial, sem nunca referir a transformação da dívida privada em dívida pública ocorrida na Europa nos últimos 7 anos; sem nunca referir o resgate dos bancos privados pelos contribuintes [o maior e mais importante durante o seu mandato] através da carga fiscal e desviando recursos do Estado social, essenciais a sectores como a saúde, educação e a segurança social; sem nunca referir as privatizações ao preço da uva mijona de sectores estratégicos do Estado; sem nunca referir uma economia assente na distribuição de mais-valias milionárias aos patrões e accionistas, assente nos baixos salários e precariedade e sem investimento reprodutivo. Chapéu, excelentíssimo senhor Governador!
Certamente pelo mediatismo, pela sede de protagonismo, pela velocidade estonteante das suas participações em conferências e palestras, das suas aparições em telejornais a dizer de sua justiça sobre tudo o que respira, à face da terra e debaixo de água, faltou tempo a Carlos Costa, Governador do Banco de Portugal e antigo director da área internacional do BCP, para supervisionar o processo.