"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
Um dos maiores broncos que o sistema das jotas partidárias já criou - Duarte Marques, é director de campanha para as presidenciais de 2026 do símbolo máximo do aparelhismo, do clientelismo, do oportunismo, dos partidos e do Estado ao serviço de interesses privados - Marques Mendes.
No dia a seguir ao PSD de Luís Montenegro ter declarado apoio a Marques Mendes, Rui Rio, ex líder do PSD, por duas vezes alvo de tentativa de "golpe de Estado" pelo actual líder e primeiro-ministro, aparece como mandatário da candidatura de Gouveia e Melo [cá se fazem cá se pagam, há mais marés que marinheiros], o almirante anti-sistema, apoiado e financiado por gente de fora do sistema, que vai desde Mário Ferreira a Ângelo Correia passando por Isaltino Morais e Ribeiro e Castro, até ao mais velho de todos, o coveiro do CDS, também conhecido por Chicão.
No PS um homenzinho, responsavelzinho, educadinho, bem engomadinho, cheiinho de "sentido de Estado", vai ser entronizado líder, para dizer que sim e abanar o rabo ao PSD de Luís Montenegro, com a bênção de um velhaco em fim de mandato no palácio de Belém [praise the Lord!], enquanto produz um panhonha desenxavido que meteu na cabeça poder ser Presidente da República - Seguro, Tozé.
Na Miguel Lupi em Lisboa, o Joker ri-se, que é para isso que foi criado.
Um aplauso por cada paragrafo lido no teleponto num discurso Chat GPT, coisa que não acontecia nem nos idos do pós 25 de Abril, onde estas coisas dos comícios eram novidade e aprendizagem, o orador lia pelo papel sem levantar os olhos para a plateia e a inteligência era natural. Ou o homem é mesmo o salvador da pátria ou a audiência estava cheia daqueles que vão pela primeira vez a um concerto de rock e gritam por tudo e por nada. Mas depois lá a frente estava gente como Isaltino Morais, Ângelo Correia, Ribeiro e Castro, Chicão, que é mais velho que os anteriores, e se calhar veio para salvar a pátria de alguns que andam a ser salvos desde o dia a seguir a Salgueiro Maia ter voltado para Santarém.
Diz que "há um elefante no meio da sala" que é o partido da taberna com cinquenta e tal deputados. Há um elefante no meio da sala, sim senhor, mas esse elefante é a "the million-dollar question" que se aproxima, entre o taberneiro e o almirante em quem é que votavas?
E de repente Gouveia e Melo invade a campanha eleitoral para anunciar o que toda a gente já sabia. "Falta de noção". "O que é que lhe passou pela cabeça?". "Respeito". "Não podia esperar mais uma semana?". Jornais, rádios, televisões, a unanimidade nos reparos. Serviu para deixarmos todos de ver e ouvir os intermináveis directos com a encenação do taberneiro com tratamento vip no Serviço Nacional de Saúde. Os mesmos que andaram com ele ao colo até ao número 50 não resistiram, é mais forte que eles. Fomos salvos pelo anúncio do almirante, essa é que é essa. E essa é que é essa que o almirante se vai valer desta acefalia dos media.
Um pantomineiro, até há poucas semanas comentador dominical sem contraditório na televisão do militante n.º 1, fala "dos perigos de um Presidente da República sem experiência política". A democracia foi devolvida aos portugueses há 51 anos por militares sem experiência política. E uma democracia plena nunca pode ser redutora ao ponto de ter alíneas implícitas para militares, com ou sem experiência política. Nem sequer para quem enferma de todos os vícios adquiridos por 50 anos a vegetar na política. Mas isso ele sabe.
Qual é o "pensamento político" de António José Seguro? O totósismo [de totó] político.
Qual é o pensamento político de Luís Marques Mendes? O chico-espertismo.
Entre o taberneiro e o almirante em quem votavas? É este o dilema do centrão do "sentido de Estado" e do "pensamento político", há 40 anos entretido na produção de elites medíocres, com percurso profissional tão elaborado quanto o pode ser da jota até uma secretaria de Estado, intervalado a tratar da vidinha, pela porta giratória até uma empresa onde se acede pela meritocracia do cartão do partido, completamente desligado da realidade, do sentir das pessoas, empenhado em fazer jus ao popular "atrás de mim virá quem de mim bom me fará".
Parafraseando Zeca, "no comboio descendente mas que grande reinação, uns dormindo outros com sono, e os outros nem sim nem não".
"Brincar com a Tropa", " Quem te disse que a Tropa era uma democracia enganou-te bem", "É por isso que há almirantes e sargentos", foram outros dos títulos em cima da mesa para este post.
Andaram décadas, como diz o povo, a brincar com isto tudo. Descredibilizaram a política, os políticos, a cousa pública. Desacreditaram-se a eles próprios. Prepararam o caminho para o "homem providencial" no país que elegeu Salazar como o melhor português de sempre poucos anos depois da revolução que lhe deu a liberdade e a democracia. Agora parece que a tropa está de volta e o povo vê-se confrontado com uma escolha: Entre Paulo Portas e Gouveia e Melo em quem votavas? Entre António José Seguro e Gouveia e Melo em quem votavas? Entre Marques Mendes e Gouveia e Melo em quem votavas? E ainda a procissão nem sequer chegou ao adro.
Temos Marcelo, o que aparecia todos os dias a todas as horas em todas as televisões a comentar assuntos de todos os ministérios. As pessoas nem sabiam quem era o ministro mas lá estava o Marcelo a largar postas sobre matérias que não eram da competência do Presidente. Temos Marcelo, que convoca Conselhos de Estado por tudo e por mais um par de botas, alguns com a ideia implícita de pressionar a oposição, outros com o fim de pressionar o Governo, como se o Conselho de Estado fosse uma segunda câmara do Parlamento. Temos Marcelo, o que não se inibe de publicamente pedir a demissão de ministros em situações em que o ministro nem sequer foi tido nem achado, nem pouco mais ou menos, como se o Governo respondesse perante o Presidente e não perante a Assembleia da República. Temos Marcelo, o que dissolve governos com maioria parlamentar por causa de um chumbo orçamental exacerbando as suas competências constitucionais. E temos o Donaltim de Marcelo que no jornal do militante n.º 1 do partido de Marcelo e na FOX News do partido de Marcelo - SIC Notícias, aparece com a maior cara de sonsa preocupada com "Gouveia e Melo a entrar no palácio de Belém com o país sem um Orçamento aprovado. O que fará? Forçará um novo OE? E se Montenegro e Pedro Nuno não se entenderem, obrigará o líder da AD a sentar-se com Ventura ou demitirá o Governo sem eleições? Voltaremos aos governos de iniciativa presidencial?". O título do post esteve quase para ser "Não ter a puta da vergonha na cara é isto".
So far, Mário Centeno, Marques Mendes, Tozé Seguro, agora Santana Lopes. Não se percebe como é que o almirante ganha a todos com uma perna as costas nas intenções de voto, não se lhe conhece "o pensamento político", dizem. Não lhes ocorre que ganha a todos, enquanto limpa o cu a meninos, precisamente por isso, por toda a gente conhecer os outros de ginjeira.
Marcelo a sair de um evento com o braço por cima da beata Maria de Belém recusa comentar a alegada candidatura do almirante à Presidência. Melhor imagem da miséria a que chegámos nestes 50 anos de democracia não podia haver. O pior do PS de braço dado com o pior do PSD, que podia muito bem ser o melhor da União Nacional. 40 anos depois temos os militares de regresso à vida política activa. E também foi para isto que se fez o 25 de Abril.
Todos vimos e ouvimos o vice-almirante Gouveia e Melo no telejornal da noite da televisão do militante n.º 1, SIC Notícias, depois de ser medalhado pelo Presidente da República, dizer que as metas da vacinação vão ser cumpridas, apesar do "Queimódromo" do Porto estar suspenso. Portanto esta privatização da vacinação é só uma questão ideológica e de amiguismo do presidente da câmara do Porto, com a cumplicidade e complacência do Governo PS. E isto tem um nome: liberalismo cultural, ou cegueira ideológica, ou com as calças do meu pai sou um homem, que é como quem diz o dinheiro do contribuinte é um poço sem fundo.