"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
Enquanto as taxas de juro massacraram pessoas e famílias foi sem dó nem piedade, sempre a subir, "ai aguenta, aguenta", a partir do momento em que começou a ameaçar bancos com má gestão de risco foi accionado o travão. Para quem se governa, por quem se é governado ou, como na canção, "the system only dreams in total darkness".
Durão Barroso, o português cuja nacionalidade não foi impedimento para chegar a presidente da Comissão Europeia, acusa a Comissão Europeia de discriminação por ser ele, um português, a "assinar" pela Goldamn Sachs.
Curioso, ou nem por isso, ver um maoista passar-se para o outro lado, para o lado da Goldman Sachs que lucrou milhões – custou milhões aos contribuintes europeus durante a maior crise financeira de que há memória desde a Grande Depressão; para a Goldman Sachs que maquilhou as contas públicas gregas – custou milhões aos contribuintes gregos e aos contribuintes europeus, passar-se para o lado dos inimigos do povo, sem o reconhecer – a mui famosa auto-crítica, um dos pilares do maoismo, antes pelo contrário, vitimizando-se qual Calimero. Para ele reeducação pelo trabalho – outro dos pilares do maoismo.
[Na imagem Li Fanwu, governador de Heilogjiang, com o cabelo cortado por membros da Guarda Vermelha numa praça de Harbin, após ser acusado de se tentar parecer a Mao. Li Zhensheng, Contact Press Images, 12 de Setembro de 1966]
Como se a questão não fosse o privilégio que Durão Barroso teve em ser presidente da Comissão Europeia; como se a questão não fosse o conhecimento privilegiado adquirido por Durão Barroso enquanto presidente da Comissão Europeia; como se a questão não fosse a agenda de contactos metodicamente preenchida por Durão Barroso presidente da Comissão Europeia.
Durão Barroso vai tornar-se no primeiro ex-presidente da Comissão Europeia a ver retirados os chamados "privilégios de passadeira vermelha" por Bruxelas, na sequência do cargo que ocupa na Goldman Sachs [...]
Não há assim grande diferença entre os que matam e os que morrem, os de cima e os de baixo, quando quem se move para cima afinal mais não faz do que fugir de baixo e debaixo. Tudo se resume a esmagar e ser esmagado. Escapar. E o que é que move o mundo?
Em 1987 Oliver Stone realizou um filme sobre isto, como ganhar "uma pipa de massa" com negócios a partir de informação privilegiada. Pode ser que um dia volte a abordar o mesmo tema por outro ângulo, o do fabuloso destino de personagens que, sem saber ler nem escrever, tomam assento em instituições bancárias investidos na mui nobre função de "facilitadores de negócios" graças à lista de contactos do seu smartphone e às anotações no Moleskine.
«Quem sobreviveu melhor ao naufrágio do BES? O Goldman Sachs
Apesar de que quando a direita está no poder qualquer coisa que respire à face da terra é sempre "O Estado", essa entidade abstracta, castradora, omnipresente e omnipotente; o mesmo "O Estado" que, por artes de prestidigitação, se eclipsa do discurso quando a esquerda é poder, discurso reproduzido pela comunicação social capturada pela agenda ideológica e pela máquina de agir-prop da direita, e qualquer coisa que aconteça é por culpa do Governo.
«José Luís Arnaut teve um pé em grandes operações. Esteve nas privatizações da REN (foi nomeado seu administrador não-executivo, após a alienação) e da ANA (foi assessor jurídico do concorrente que ganhou a privatização da ANA, o grupo francês Vinci e, depois, passou a presidir à assembleia-geral da empresa),
chegou a ser acusado de favorecimento nas privatizações. E a sua nomeação para a REN foi polémica, já que a Rede Eléctrica Nacional é cliente do seu escritório e a RPA participou, através de um contrato com a então Direcção-Geral de Energia, na elaboração das propostas de lei de base e respectivos diplomas regulamentares do que viria a ser o novo enquadramento legislativo nos sectores da electricidade, gás natural e petróleo. Já esteve na recente oferta pública de venda dos CTT à Goldman, que com 4,99% se tornou no maior accionista dos Correios.
Nas negociações dos swaps com o Estado, a firma de Arnaut representou também os interesses de alguns bancos, entre os quais a Goldman e o JP Morgan»
Nota: no original são as vírgulas para ganhar fôlego, não constam os "e", que dão ênfase e sublinham, e que são da minha autoria. [Obrigado Cormac McCarthy].
«A peça contém apenas um acto (acto único) que é composto por dezassete cenas» diz a página da Wikipédia. Vinte e seis anos depois nascia a Goldman Sachs mais as suas “dezassete” ressurreições, entre crises económicas e políticas, jogadas de bastidores e zangas temporárias com as administrações norte-americanas. [Curioso, ou nem por isso, o termo usado ser quase sempre administração e muito raramente Governo].
«Mas no fim do dia, o pai de Amália descobriu que o seu futuro genro tinha mentido, apesar das suas mentiras terem acabado por ser verdade. Como agradecimento pela sua ajuda e pela "lição" que ele lhe deu, Duarte oferece um saco de dinheiro a José Félix.» também diz a Wikipédia.
Só o final da peça não faz sentido, Garrett não teve “dezassete vidas” como a Goldman Sachs para fazer as devidas actualizações e correcções, daí o «"vício" de mentir emendado e […] o desejo de José Félix pelo dinheiro satisfeito». A peça não acaba assim.