"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
Um tipo está caído no chão enquanto é agredido por uma meia dúzia de energúmenos. Socos, com soqueira, pontapés no corpo todo, cabeça incluída, vergastadas com fivela de cinto e pauladas. Depois de satisfeitos, e após uma eternidade, retiram-se. O tipo levanta-se, sabe Deus como, e, aturdido, cai por umas escadas vindo posteriormente a falecer. Conclusão dos advogados de defesa: morreu devido à queda e não às agressões de que foi vítima. Os advogados de defesa gozam com o pagode ou limitam-se a fazer jus ao epíteto "filhos da puta"?
Um grupo de guineenses é suspeito de ter morto um português à facada em Lisboa e um grupo de portugueses é suspeito de ter morto um cabo-verdiano à paulada em Bragança. Um é objecto de comunicados de partidos políticos a preto-e-branco e de organizações de combate ao racismo e de manifs várias convocadas e várias cidades do país. O resto do pagode vai trabalhar de manhã para chegar à noite a casa e espera que a justiça seja feita, funcione, e que a ida e o regresso do trabalho continue a ser um trajecto seguro.