"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
Em dia de defenestração, e 370 anos depois, Portugal aparece aos olhos da comunidade internacional como mais uma província de Espanha. Organização conjunta implicava haver, pelo menos, o jogo de abertura ou o jogo de encerramento numa das partes organizadoras. União ibérica my ass, mais o Saramago e a Medeiros!
E parece que vai dar dinheiro a rodos. Para quem não sabemos, ou melhor, sabemos até bem demais. Curiosamente, ou nem por isso, não entra nas contas de quem faz contas ao TGV, ao novo aeroporto, aos submarinos e à terceira travessia do Tejo, apesar dos custos/ benefícios (se falarmos unicamente nas movimentações de contas bancárias) serem praticamente os mesmos e para os mesmos.
(Na imagem a Praça dos Restauradores em Lisboa, anos 30/ 40 do século XX)
Ontem passou na televisão uma reportagem sobre as moscas e os estádios do Euro 2004 e onde se equacionava a possibilidade de implodir o novel estádio de Aveiro, sorvedouro de dinheiros públicos, e com uma média de 2000 espectadores por jogo, descontando as moscas. Ou seja, sai mais barato pagar a uma empresa para escaqueirar o estádio que o manter como está. Resta saber se a empresa contratada para o destruir será a mesma que foi contratada para o construir, mas isso é a mesma outra estória.
Uma empresa que não rende, apesar da matéria-prima de qualidade; um produto que desvaloriza, num mercado em crescendo; um “conselho de administração” que não responde pelos erros estratégicos cometidos; um gestor (Carlos Queiroz) que não é responsabilizado pelas más opções tomadas, apesar das excelentes condições contratuais e de trabalho; o mercado a fugir debaixo dos pés – literalmente. A solução do costume: «ser obrigada a despedir ou dispensar funcionários»
Numa clara inversão de discurso ao proferido antes das eleições para a Federação Portuguesa de Futebol (FPF):
“O Carlos Esteves tem feito um bom trabalho na Comissão de Arbitragem e o Francisco Costa tem sido um elemento cumpridor. Estar indiciado não é estar condenado”.
Sobre a presença na sua lista de dois arguidos no processo Apito Dourado, Gilberto Madaíl vem agora dizer:
“Não incluiria arguidos em factos desta natureza se já estivessem em vigor os novos estatutos, que concedessem autonomia à direcção na escolha das equipas dos várias órgãos federativos.”
Donde se depreende que Gilberto Madaíl foi “obrigado” por algumas Associações a incluir os arguidos na sua lista. Não especificou quais, mas quem não tiver a memória curta e fizer uma revisão da matéria ao historial da FPF, decerto se recorda das infindáveis “negociações” e jogos de bastidor de cada vez que haviam eleições para a instituição – no tempo antes da Liga – sempre em torno da Comissão de Arbitragem, sempre protagonizadas pelas Associações do costume… As mesmas também responsáveis pelos não menos históricos alargamentos de divisão.
Deitamo-nos a adivinhar: A Associação começada por P com um R no meio e terminada em O; a Associação começada por A com um V no meio e também terminada em O; ou a Associação começada por B e terminada em Ga.
Mas os fins não justificam os meios e, no discurso de Madaíl também se lê que disse “que sim” para ser eleito. Apesar de ser contra a sua vontade. Vem agora morder a mão a quem lhe deu de comer e, descarta-se das possíveis consequências:
“Aí sim, (se os estatutos estivessem em vigor) teríamos de assumir o ónus das asneiras que se fizessem nas escolhas das pessoas!”
Não o iliba, antes pelo contrário; o que tem de tão apetecível o mundo do futebol em geral e, o da FPF em particular, para Madaíl se prestar a este tipo de jogadas?
Gilberto Madaíl em declarações ao Público afirma que a ineficácia dos órgãos desportivos é devida à falta de meios; “A justiça desportiva não tem os meios da justiça civil. Não temos escutas telefónicas, nem investigadores, nem detectives.”
O nosso muito obrigado pelo esclarecimento, mas tem outros “meios” como ficou sobejamente comprovado pelo processo Apito Dourado e pela prosa literária da senhora Carolina.
Reduzindo “tudo isto” a uma questão de meios e até ver, os desportivos levam ligeira vantagem; recorrendo à terminologia futebolística, são “campeões de Inverno”.
Há saída do Tribunal de Gondomar, Gilberto Madaíl frisa que é economista e não jurista e que este processo já lhe causou danos e transtornos suficientes, porque segundo o nosso ilustre dirigente federativo, tinha uma candidatura a um cargo na UEFA com 100% de hipóteses de ser eleita e teve de ser retirada devido a.
Talvez devido à sua formação em economia, resolveu economizar em meios e vai daí, três dos sete nomes propostos para o Conselho de Arbitragem estão implicados no processo “Apito Dourado”.
Carlos Esteves e Francisco Costa estão indiciados pela prática de corrupção e corrupção desportiva, José António Pereira, ex-árbitro, foi escutado a confessar que perdoou um pénalti a uma equipa da II B (recebeu como prémio, oferecido pelo presidente do Lixa, um par de sapatos!).
Madaíl como bom católico temente a Deus, é acérrimo defensor da máxima “não faças aos outros aquilo que não gostas que te façam a ti” e só por isso os nomes não são retirados da lista, como a sua candidatura ao cargo da UEFA teve de ser.
Mas também aqui nada de novo, é só mais uma extensão da dualidade de comportamentos tão bem praticados pelos nossos jogadores. Vejam-se as atitudes comportamentais em provas europeias e no campeonato nacional…
Marques Mendes, no rescaldo do cataclismo pós-Santana, começou por tentar credibilizar o partido. Os primeiros a “levarem nas orelhas” foram Valentim Loureiro e Isaltino Morais que eram arguidos em processos.
“Arguidos são arguidos, não são condenados” diz Madaíl à saída do Tribunal de Gondomar para justificar a inclusão dos nomes na lista.
Madaíl é deputado eleito pelo PSD. Excelentíssimo Senhor Dr. Luís Marques Mendes, já regressou do Brasil, ou está tão (pre)ocupado com a situação das nossas tropas no Líbano que ainda não deu por nada?
Post-Scriptum: De todos os escutados pela Policia Judiciária nunca nenhum desmentiu o teor das escutas, desde o árbitro “Imelda Marcos” até Pinto da Costa, Reinaldo Teles ou Valentim Loureiro… Alegam que as escutas são ilegais…