"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
A propósito deste comentário, recebido por este post, e como parece que há leitores que se melindram quando os “bois são chamados pelos nomes” e não entendem as meias-palavras; achei por bem ser mais específico, porque nesta história não há inocentes:
“Atitudes Violentas
Imigrantes culpam os políticos
Associações de imigrantes defenderam ontem que os comportamentos mais violentos dos jovens oriundos dos países africanos lusófonos, revelado num estudo do Instituto Nacional de Estatística (INE), têm por base as más políticas de integração dos governos portugueses.”
Público, edição de hoje.
“Duas dezenas de indivíduos, nas sua maioria de raça negra, provenientes de outras localidades do distrito (Setúbal), (…), causaram anteontem o pânico e o medo na cidade, fazendo lembrar os “arrastões” do Brasil, semeando o caos e a desordem. (…).
A PSP alertada deslocou-se imediatamente ao local (…) mas conseguiu deter apenas seis indivíduos (…). (…) a detenção dos indivíduos foi o culminar de uma onda de agressões, provocações e tentativas de assalto que haviam começado algum tempo antes junto da entrada do Centro de Formação Profissional, (…) onde os elementos do grupo frequentam cursos de formação.
Segundo testemunhos das ocorrências, os indivíduos foram descendo para o centro da cidade, provocando no percurso todas as pessoas que iam encontrando. (…).”
(*) Titulo do 7” gravado pelos Sex Pistols, com Ronnie Biggs como vocalista. Biggs que ficou para a história como o único dos assaltantes ao comboio-correio a conseguir escapar à justiça britânica, naquele que ficou conhecido como o Assalto do Século.
“A Cintura Urbana de Lisboa está madura o suficiente para que nela possa ocorrer o mesmo tipo de motins de Paris”
J. Wengorovius, Diário Económico em 05 de Setembro de 2007.
“Os adolescentes oriundos dos países africanos de língua oficial portuguesa (PALOP) envolvem-se mais em comportamentos de violência, consomem mais tabaco, haxixe e álcool e têm comportamentos sexuais com maior risco para a saúde do que os portugueses»
Conclusão do estudo Comportamentos de Saúde de Adolescentes Migrantes e o Efeito Protector da Relação com os Avós. Público em 06 de Setembro de 2007.
Correndo o risco de ser considerado politicamente incorrecto e de me vir cair meio mundo em cima deixo aqui uma questão / reflexão:
- Qual a relação entre este vídeo disponível no youtube há já mais de meio ano e só agora descoberto pelas televisões, e o estudo efectuado pelas investigadoras da Universidade Nova de Lisboa, Tânia Gaspar e Margarida Matos, publicado na Revista de Estudos Demográficos do Instituto Nacional de Estatística, e que teve como objecto de trabalho «as diferenças dos comportamentos entre adolescentes migrantes oriundos dos PALOP e os portugueses» que frequentam escolas públicas de Oeiras, Marvila, Amadora e Loures (Público)?
Sejamos claros; nem a Polícia é aquela besta inumana que o vídeo quer deixar transparecer, nem os jovens vítimas da presumível violência policial são os “anjinhos” inocentes, como é suposto concluir-se (e já lá vamos) após o visionamento das imagens.
Só quem nunca frequentou determinadas zonas da capital à noite – concretamente a zona da Expo como em principio será aquela onde o vídeo foi gravado – e nunca se encontrou cara-a-cara com gangs de jovens, maioritáriamente negros, oriundos da zona de Chelas, que se entretêm a destruir equipamentos públicos e privados (desde paragens de autocarros a contentores do lixo, passando por a vandalização gratuita de viaturas estacionadas na rua e grafitando paredes a eito), e que fazem da provocação e ameaça aos transeuntes o seu desporto favorito, é que embarca nesta lenga-lenga do racismo e da violência policial. Ao que se assiste no vídeo é a uma reacção por instinto da parte dos polícias, provocada pelo constante clima de tenção, fricções e provocações gangs-autoridade. Se a polícia deve reagir assim, respondo que não, mas essa é uma questão que nunca poderá ser dissociada do contexto sócio-cultural e dos antecedentes que atrás foram apresentados.
Estes grupos sempre munidos da arma dos tempos modernos, o telemóvel com câmara, que aliás é possível comprar-lhes a preços imbatíveis na Feira da Ladra aos sábados de madrugada, sabem bem ao que vão, e têm bem delineados os objectivos a atingir com a colocação destes vídeos na net, na esperança de mais cedo ou mais tarde caírem nalgum blogue ou nalguma televisão. A intenção é claramente provocar uma reacção instintiva de emoção na opinião pública. A mesma reacção que a polícia teve neste caso e nunca deveria ter tido.
Depois é o circuito habitual das organizações de combate ao racismo e à exclusão social, de apoio aos emigrantes, sempre ali à mão de semear e sempre dispostas a prestar apoio neste tipo de situações, sem a mínima preocupação em saber mais para além do que as imagens nos mostram. Agora que tanto se falou no eco terrorismo por via dos bandalhos encapuçados do Verde Eufémia e das suas ligações ao Bloco, seria também interessante dissecar a promiscuidade existente entre os militantes e simpatizantes bloquistas e os activistas destas organizações.
No entanto, – e muita atenção! -, o perigo real neste avolumar de casos e no clima de insegurança gerado na opinião pública não está aqui à vista de todos. O perigo nem sequer reside na habitual receita da Direita-policial, via CDS/ PP, que, quando surgem situações como esta logo requisitam a presença do ministro responsável pelas polícias no Parlamento para o habitual show-off, e aproveitam para exigir mais polícia nas ruas; quanta mais melhor, até atingir os índices da Roménia de Ceaucescu. O perigo reside em indivíduos como aquele senhor mal-encarado que não gosta de emigrantes e que foi notícia com o célebre cartaz no Marquês em Lisboa. A receita desse é pior. Muito pior.