"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
Presidente de clube, sob vigilância da UEFA e com as receitas futuras hipotecadas, proibido pelo antecessor de estar presente no seu funeral, faz comunicado a acusar os rivais de não marcarem presença no funeral onde não pode ir, nem de sequer enviarem uma nota de condolências pela morte de quem os considerava inimigos e não adversários, e que passou todo o consulado a instigar o ódio e a fomentar a divisão.
Chefe de partido pejado de malfeitores - de ladrões de igreja a ladrões de malas, passando por acusações de pedofilia, ódio racial, tentativa de homicídio, falsificação de identidade, violência doméstica, e um longo et caetera, aproveita suspeita sobre idoneidade do primeiro-ministro para avançar com moção de censura ao Governo no Parlamento.
Podem parecer coisas diferentes mas são a mesma coisa.
Este Ministério Público vs SAD do Benfica faz grandes primeiras páginas e aberturas de telejornais, proporciona grandes análises nos espaços de debate futeboleiro, dá grandes picardias nas redes, faz de Varandas um senador e dá um balão de oxigénio a Villas-Boas, mas, lavados os cestos, vai ser mais um prego no caixão da credibilidade da justiça portuguesa.
Morre Fausto, um dos nomes maiores da música popular portuguesa de sempre, no panteão ao lado dos dois Zés, o Afonso e o Mário Branco, e no dia a seguir são estas as primeiras páginas dos três jornais generalistas que ainda restam nas bancas. Melhor que isto só a peregrinação de um Papa a Fátima. Merecemos tudo o que nos cai em cima.
Os "40 anos disto", a hastag que nos últimos cinco anos tomou conta do Twitter, começaram quando Pinto da Costa passou a Jorge Nuno Pinto da Costa. André Villas-Boas ainda não é Luís André Villas-Boas. A incógnita é se quer ir por aí.
Na antevisão ao Eslováquia vs Portugal a contar para o Euro 2024 tivemos na sala de imprensa Cristiano Ró náldo [assim mesmo, com dois acentos, como dizem nas televisões] para falar dos recordes que já bateu, dos recordes que ainda vai bater, em como é muito bom, ele e o Messi, mais ele que o Messi, os clubes por onde passou, e ele e o umbigo dele e o umbigo dele e ele, que no estado islâmico o futebol é bué bom, as mulheres, as minorias, religiosas ou outras, os homossexuais, isso nem os jornalistas do pontapé-na-bola sabem o que é quanto mais ele que é o melhor do mundo e arredores, e isto tudo numa antevisão a um jogo da selecção, e que o futebol em Portugal é uma palhaçada. E tem razão. Na parte do palhaço rico.
Ró náldo, que foi oferecido a todos os grandes da Europa e por todos recusado para a acabar na Arábia, diz que não volta à Europa porque o futebol na Europa coise. E os palermas do jornalismo Farinha Amparo de micro esticado sem reacção. Fala filho, fala, não porque te estejas a enterrar todo mas porque nós não sabemos mais que isto e costumamos deixar o cérebro em casa quando vimos para estas merdas. Estas ou outras. E ele falou. E ficámos a saber que até Ró náldo ir para Itália não havia futebol em Itália, depois Ró náldo foi para a Arábia e o futebol na Arábia passou a ser o melhor do mundo. O Ró náldo está para o futebol como o Paulo Querido está para as redes sociais, foi ele que inventou tudo. E finalizou "Estão a ver como eu sou bom? Já bati este recorde e este recorde e ainda a semana passada bati este recorde aqui. E até já bati o recorde do gajo que consegue falar mais vezes do próprio umbigo. Estão a ver aquela canção do Jovanotti, o L' ombelico del Mondo? Foi-me dedicada pelo próprio. #Chupa"
* Ró náldo, que é assim mesmo que todos os palermas nas televisões lhe dizem o nome, com dois acentos agudos.