"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
Suponhamos, não digo que um cego começasse a ver ou um paralítico a andar que isso são coisas dos evangelhos, mas que uma criança fosse salva do coma por devoção dos pais a Nossa Senhora do Monte no Funchal, era milagre, intervenção divina, motivo para peregrinações várias e promessas diversas, um culto sem fim. Como 13 pessoas morreram e 49 ficaram feridas no largo da igreja numa romaria ao Monte da Sé o mesmo princípio dos milagres já aqui não se aplica, não foi intervenção/ castigo divino, foi um azar do carvalho, Alvarinho. É a hipocrisia e a desonestidade da Igreja Católica a surfar a crendice e a ignorância.
Melhor que o aeroporto do Funchal ter o nome de Cristiano Ró-náldo é a família do Cristiano Ró-náldo, a todas as horas certas nos canais noticiosos do cabo, que sim senhor, que acham muito bem que o aeroporto do Funchal se chame aeroporto Cristiano Ró-náldo.
“O PCP propôs a candidatura da cidade do Funchal a Património da Humanidade e todos os partidos com assento na Assembleia Legislativa Regional apoiaram, com excepção do PSD. Claro, a proposta foi rejeitada, pois os sociais-democratas governam com maioria absoluta na Madeira. A justificação: entre outras, a do processo moroso que "até poderia impedir o desenvolvimento do Funchal".”
(…)
“Mas neste caso não parece haver vontade de tirar protagonismo ao PCP e apresentar a mesma proposta já sob a sua sigla. O que parece haver é uma desconfiança bizarra em relação à UNESCO, e isso, claro, leva a muitas especulações: uma cidade Património da Humanidade é uma urbe onde as regras de preservação são muito rígidas e se isso agrada a muitos, assusta outros”
Gosto particularmente desta parte: “as regras de preservação são muito rígidas e se isso agrada a muitos, assusta outros”.
Assusta aqueles empresários de sucesso ligados ao ramo da construção civil. Empresários muito liberais; mais liberais até que os liberais; mas isso – o liberalismo – agora não interessa nada. Interessa é ter o Estado ali à mão para se ir fazendo umas construções aqui, umas estradas acolá.
Agrada ao Estado, que neste caso concreto significa PSD, mas poderia perfeitamente significar PS. As campanhas eleitorais custam dinheiro. E depois quando o Estado já não formos nós (eles, salvo seja!), onde é que vamos (vão, salvo seja outra vez!) arranjar emprego?
Mas isto agora também não interessa nada. Aliás, não é nada que não tenha sido escrito e falado mais que não sei quantas vezes. Assim de repente lembrei-me das palavras do bastonário Marinho Pinto…
Numa concepção muito portuguesa de urbanismo, os três pilares base são: construir, construir, construir. No léxico do Estado-Pato-Bravismo-Lusitano o: Preservar, recuperar, restaurar, não consta. As razões são óbvias. E quando as razões batem na costa, quem se lixa é o Funchal; para o caso.
Recordo aqui uma conversa que uma vez ouvi no autocarro a uma velhinha, mas mesmo velhinha velhinha. Dizia a senhora que não sabia como é que a Terra aguentava com tanto peso da tanta casa em cima; isto em pleno reinado de Mata Cáceres / PS à frente dos destinos da cidade de Setúbal, em que os mamarrachos floresciam como dejectos de cão nos passeios públicos, por tudo o que era espaço livre na cidade e arredores.
Terá aquela ilha arcaboiço para aguentar o peso de tanta maldade feita, e das maldades que por aí vêm?