"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
Cavaco Silva pode ter muitos defeitos mas o defeito de falar só por falar, para se ouvir, não consta no rol. Antes pelo contrário, é frio e cerebral, um jogador de xadrez.
Esperto - e fazendo jus ao adjectivo (ou será substantivo?) “patrão” - passa a bola para a Segurança Social livrando-se dos “velhos”, limpa as empresas e fica com pessoal novo e a contrato, disposto a tudo para garantir um emprego, e sem os contratos antigos mais respectivos direitos e garantias. Mais um apoio por parte do Estado àqueles que, vai adiantando, não ser seguro retirar.
O excelentíssimo Van Zeller já foi condecorado no 10 de Junho? Se não, estão há espera do quê? Se sim, dêem-lhe outra medalha. Já!
(Imagem do filme Dr. Strangelove or How I Learned to Stop Worrying and Love the Bomb, 1964)
Adenda: Só para lembrar aos mais distraidos, patrão dos patrões incluído, que o Estado somos nós mais o dinheiro dos nossos impostos.
Quem está sempre pronto para receber “apoios estatais”, vulgo subsídios pagos com o dinheiro dos impostos dos contribuintes, e não pode pagar mais 25 – vinte e cinco – 25 euros de salário aos seus empregados por correr o risco da empresa fechar, então é melhor que feche de uma vez por todas e que o dito cujo empresário patrão vá trabalhar por conta de outrem que é para ver como elas lhe doiem.
Os cidadãos chamados a decidir, votaram e elegeram um Parlamento, dando sem margem para qualquer tipo de dúvidas, uma maioria inequívoca aos partidos de Esquerda. Eis pois uma interpretação maravilhosa dos resultados eleitorais e de como deverá ser a acção governativa do próximo executivo - governar à Direita:
O que seria do povo português sem a elite iluminada da classe empresarial! Suspenda-se a Democracia; acabe-se com as eleições, e passemos a pedir a opinião ao senhor Francisco Van Zeller e à corporação a que preside, sobre a melhor forma de governar Portugal.
Francisco Van Zeller devia parar para pensar sobre qual ou quais as razões que levam a que povo conceda votações tão expressivas a partidos à esquerda do PS. Mas isso talvez seja pedir demasiado a mente tão iluminada.
(Na imagem South Carolina, 1956, Margaret Bourke-White's photoessay via Life Magazine photo archive)
Não ter um pingo de vergonha na cara é, alguém que aufere dos salários mais generosos que existem em Portugal; dum sistema de pensões de reforma a roçar o hard-core, em função do desempenho e resultados (recentemente) apresentados, vir classificar de “generoso” o subsídio de desemprego. A haver um método de avaliação “à Maria de Lurdes Rodrigues”, Vítor Constâncio e a sua equipa nunca passavam da categoria “Escriturário de 2ª”. Este senhor é socialista; dizem.
Não ter um pingo de vergonha na cara é o patrão da CIP, à boleia de Constâncio, dizer que há empresas com falta de mão-de-obra porque as pessoas preferem ficar em casa a receber o subsídio de desemprego ao invés de irem trabalhar. È necessário convencer as pessoas a ir trabalhar; Van Zellerdixit, com ar de alígena que acabou de aterrar na Lusitânia.
O que o alígena Van Zeller não disse, não porque não saiba, mas porque nos come a todos por estúpidos, foi, se os patrões ao invés de andarem a chorar um miserável aumento de 24 euros, para se atingir um miserável salário mínimo de 450 euros mensais, pagassem salários condignos aos trabalhadores, de certeza ninguém arriscava ficar em casa. Não compensava perder dinheiro com o subsídio.
Quero acreditar que o Relatório de Outonode Vítor Constâncio do secretário do Tesouro de Sócrates é mesmo isso: um relatório, e não um batedor ao serviço do Governo.
Vinha a conduzir e sai-me Francisco van Zeller no noticiário da TSF. Dizia o presidente da CIP – e cito de cor –, que houve uma cedência aos sindicatos da parte da Comissão do Livro Banco das Relações Laborais. Segundo van Zeller, é necessária mais flexibilização no que concerne aos despedimentos. Por exemplo, uma empresa envelhecida ao nível dos quadros e com dificuldades de adaptação as mercados, deveria poder despedir os “velhos e inadaptados” para renovação da “frota”. Não foram estes os termos usados, mas a ideia base era esta: “despedir por necessidades do mercado”. É deste modo que personalidades da estirpe de van Zeller olham e pensam os trabalhadores – e que até já nem são trabalhadores, mas colaboradores. Consumíveis e descartáveis.
Chego a casa e vou direitinho ao sítio da TSF e leio que, “«Tudo o que podemos fazer para facilitar o emprego das pessoas mais velhas é benvindo, porque estas infelizmente na sua juventude tiveram menos oportunidades do que as actuais, havia menos escolarização, menos facilidades e normalmente estão menos bem preparadas em termos de instrução, o que dificulta muito a contratação», defendeu o presidente da CIP”.
“Por estes motivos, Francisco van Zeller afirma que faz todo o sentido «prolongar a vida activa», mas é importante que o Governo promova «isenções ou redução dos custos da contratação e da segurança social»”. (Na integra aqui)
Uma pergunta inocente: Qual foi a parte que eu não percebi?!