"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
Nós, na nossa santa ignorância, pensávamos que a Jornada Mundial da Juventude significava debates, encontros, conferências, simpósios, palestras com direito a interpelações, etc, etc, conclusões, ideias, caminhos a apontar. Afinal o Papa, que às vezes é o Santo Padre e outras Sua Santidade, chega, diz meia dúzia de coisas que alguém com boa formação familiar e humanista ouve em casa desde que nasceu, respeitar o próximo, não discriminar, não olhar de cima, incluir, coise e tal - a angústia de Francisco ao constatar a igreja que herdou para ter de lhe dizer o óbvio, recebe quem muito bem entende receber sem dar cavaco a ninguém nem justificar opções, prontamente interpretados os sinais pelas pitonisas papais, que, pasme-se, são mais que os comentadores de futebol - o Papa quis dizer isto, o Papa quis dizer aquilo [se o quis dizer porque é que não o disse logo preto no branco e deixou a interpretação a cargo de terceiros?], e um grupo de patetas, denominados "jovens", faz barulho para as televisões, excursionistas que na novilíngua equivale a "peregrinos". A ideia de jovem e juventude que a ICAR tem é afinal a mesma desde que Pedro que, ao contrário do Papa ainda não era santo, pisou as ruas de Roma: os velhos falam e os jovens abanam o rabo com a língua de fora e vão encarneirados tomar o "corpo do Senhor". Amém.
"Não há Deus", conta-se que foi o grito de um rabino para o grupo em que seguia às portas da câmara de gás num campo de concentração alemão durante o holocausto.
Dos paineleiros-comentadeiros, com lugar cativo nos media e agenda governamental para cumprir, não são de esperar milagres argumentativos depois do "t’arrenego!" a Mário Soares. De Paulo Portas, sempre mui pio e temente na primeira fila, logo à frente do ambão e de boca aberta para tomar O Senhor, é esperado mais um milagre contorcionista, ou o milagre com que é, pela Graça de Deus, atendido bastas vezes: o de passar pelos intervalos da chuva.
Também diz que o novo Papa é amigo da extrema-direita saudosista das ditaduras que durante dezenas de anos massacraram os povos sul-americanos e que foi cúmplice do roubo de bebés pelo regime do torcionário Videla. Também tudo normal dentro da normalidade da Igreja Católica, onde todos são filhos de Deus, mesmo os seguidores do Diabo, desde que respeitem a normalidade da Igreja Católica.