"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
A gente vai fazer de conta que não percebe que quem fez, na pré-campanha e campanha eleitoral, cavalo de batalha contra as empresas que vivem à sombra do Estado, avessas ao risco e ao empreendedorismo, que quem, durante uma ano e meio de Governo, todos os dias aparece a falar da necessidade das empresas se libertarem do guarda-chuva do Estado e arriscarem, não lhe tenha ocorrido melhor ideia que criar uma empresa para viver… a custas do financiamento do Estado.
É a mesma face, da mesma moeda, da campanha cerrada contra o processo de certificação de competências Novas Oportunidades e a certificação das "competências" licenciatura do ministro da Propaganda, Miguel Relvas.
Isto, dê-se-lhe as voltas que se lhe quiser dar, anda sempre tudo ligado: Pedro Passos Coelho – Miguel Relvas, Miguel Relvas – Pedro Passos Coelho.
É esta gentinha, que se esquece do que fez e de como governou a vidinha, que vêm dizer, a quem toda a vida trabalhou para educar os filhos, pagar as contas, e tirar duas semanas de férias em Agosto, que vive acima das suas possibilidades e que é necessária uma cura de empobrecimento, sofrer nesta vida terrena portuguesa, para ganhar o céu dos mercados. Como nos filmes da Chicago a preto-e-branco, "um absurdo".
Se calhar é por haver engenheiros a metro e advogados às resmas e arquitectos às grossas, e que para se ser um bom soldador, canalizador, ou torneiro mecânico, seja necessário perceber mesmo da horta, muito estudo e aplicação, e ter muitos anos de experiência e dispensar licenciatura on-demand numa universidade privada manhosa, ou pós-graduação e doutoramento na universidade do cartão do partido. Se calhar, digo eu.
Da mesma Comissão Europeia [os nomes são diferentes mas as pessoas são as mesmas] que durante anos a fio esbanjou o dinheiro dos contribuintes europeus a atirá-lo, literalmente, para cima de empresas ligadas à elite político-partidária dos dois maiores grupos políticos com acento [não é gralha] no Parlamento Europeu - e nos parlamentos nacionais - para que fizessem fortuna a ministrar cursos de formação profissional de tudo e mais alguma coisa e com saída profissional para nada:
“Vais trabalhar que é para te fazeres um homenzinho e saberes o que custa a ganhar a vida”. Iam trabalhar como aprendizes para as oficinas e de borla, porque o patrão fazia um grande favor aos pais por “insinar” um oficio aos filhos.
Ouvi muitas histórias destas à mesa das refeições em casa dos meus pais, andava eu na escola primária, pedagogicamente contadas como forma de marcar a diferença e de valorizar o esforço familiar feito na educação dos filhos. The Times They Are a-Changin' já tinha sido anunciado em 1964, e por cá fazia pouco tempo que Salazar tinha morrido.
A receita para trabalhadores felizes assenta na «sinceridade e formação»; dizem. Nada mais falso. A sinceridade de uma discussão no Facebook teve como consequência um curso de formação profissional que arrisca acabar em conflito de trabalho.