Burn, baby burn
Quando era puto, uns 7/ 8 anos, assisti ao incêndio de um palacete abandonado na avenida Luísa Todi em Setúbal, onde é hoje a Repartição de Finanças, na zona da doca das Fontainhas, frente ao Rei do Choco, passe a publicidade, de proporções dantescas, para a dimensão física de um puto, e pela envolvência, já que era ali o depósito de madeiras da então Socel, actual Portucel, e que ocupava toda a área que vai desde o actual posto de abastecimento de gasolina até ao quartel do Regimento de Infantaria 11 e cais de embarque dos ferrys. Um acontecimento do caraças para uma aldeia grande como era Setúbal.
Juntou-se logo ali um multidão, milhares de pessoas à roda, e não estou a exagerar mesmo para a dimensão física de um puto com 7/ 8 anos, pelos telhados das casas, por cima das pilhas de barrotes do parque da Socel [mesmo nas barbas do fogo!], dentro das traineiras e dos botes na doca, no miradouro de São Sebastião, em cima das árvores, lá em cima n' "a Barreira" - agora "Escarpas de Santos Nicolau". Uma alegria.
E todos largavam postas de pescada. Que tinha sido fogo posto, que deviam agarrar no gajo e mete-lo lá dentro, que foi um desgraçado, que na altura não havia "sem-abrigo", que ali dormia a fazer a comida, que estava lá dentro assado, que estava mais gente com ele, que tinha sido o dono para poder erguer um arranha-céus, que aquilo ia pegar aos barrotes da Socel, que depois pegava às casas das Fontainhas, já íamos em Roma com o Nero ou em Londres em 1666 e continuava, que os bombeiros deviam atacar dali e não dali, que não chegavam, que a água não tinha força, só neste país, se fosse em Lisboa já estava resolvido, e outras barbaridades que não lembram nem ao diabo.
E ainda nem sequer havia internet, nem havia Facebook, nem havia Twitter.
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