"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
Entre microfones e micro câmaras, disfarçadas de doença do legionário nas tubagens do ar, condicionado na direcção da ex DDR com passagem pelo Hotel Vitória, e fotocopiar 61 000 – sessenta e um mil – 61 000 documentos do ministério da Defesa, "e o mais que os outros não viram" como cantava o Zeca, mais as associações de amizade Portugal-URSS-RDA-Hungria-Checoslováqui-Polónia-Bulgária-Roménia-Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento, nos States, que parece ser o ponto de referência para o poder instituído, era tudo julgado, e corrido a perpétua por traição à Pátria. O amor à Pátria, contra o imperialismo soviético marchar marchar, aparece-lhe já na velhice, depois de depois dos amanhãs que cantam e do internacionalismo proletário. Mais vale tarde do que nunca ou, como diz o povo, "mete mais tabaco nisso".
Tenho por hábito comprar os meus livros no comércio tradicional; passe a publicidade, na Culsete em Setúbal. Cada deslocação à Culsete, seja para a compra mais complicada que se possa imaginar, seja para a mais banal, ou seja somente para “ver como param as modas” implica – era para escrever “perder”, mas o termo não é o mais correcto – ganhar, no mínimo uma hora, de conversa com o senhor Medeiros. De boa conversa.
Um destes dias entro na Fnac do Chiado, e completamente à nora no meio daquela imensidão de prateleiras, dirijo-me a uma funcionária repleta de grampos, perdão, piercings em tudo o que era espaço livre do pescoço para cima: “Boa-tarde! Pode indicar-me, por favor, onde posso encontrar um guia Michelin das estradas da Península Ibérica?”. Acompanho a menina, que, depois de muito vasculhar pelas prateleiras, de cócoras, olha para mim e diz:”Parece-me que está com azar… Só temos o guia Michelin de Portugal e Espanha, da Península Ibérica não há!”
(Lembrei-me de escrever este post depois de ter lido isto).