"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
O taberneiro sabe o nome da avó da Mariana, o taberneiro sabe o nome dos "terroristas do Raimundo" e dos "terroristas do Bloco", o taberneiro sabe o nome do gajo que no Twitter lhe vai roubar a eleição nas urnas, o taberneiro sabe o nome da escola dos filhos do Tavares, o taberneiro sabe como recuperar todo o dinheiro da corrupção, o taberneiro sabe tudo sobre a herança da mãe do Sócras, o taberneiro sabe tudo sobre os negócios da Sousa Real dos animais, o taberneiro sabe tudo sobre o percurso do Pedro Nuno desde a escola primária, o taberneiro sabe como tirar o dinheiro da economia paralela, o taberneiro sabe o nome de quem na casa-mãe lhe vai viabilizar um governo, quer o Montenegro queira ou não queira, o taberneiro sabe tudo só não sabe o nome dos financiadores da agremiação a que preside.
Havia nos 70's nas Fontainhas em Setúbal a Taberna do Papagaio, com o psittacidae que lhe dava o nome em cima duma lata de bolacha Maria de folha, quando a dita era vendida avulso dentro de um cartucho de papel, a repetir "gatuno! gatuno!" sempre que alguém se afastava do balcão sem pagar.
Que "a democracia tem um custo" vai ser o argumento a atirar à cara de quem está contra o fim das restrições ao financiamento público dos partidos, no país onde desde 2009 o sector privado tem os salários congelados ou sofre aumentos simbólicos entre os zero virgula alguns e o um por cento. Logo seguido do inevitável "populista!". E é precisamente por a democracia ter um custo que da parte dos partidos fundadores da democracia devia haver algum pudor e alguma prudência para não fomentar o aparecimento de populismos fora do sistema, agora que Paulo Portas se retirou, e que têm como objectivo último suspender a democracia.
Para acabar com a maior indústria exportadora portuguesa - a dos licenciados e doutorados, como forma de filtrar braços de trabalho para os empregos mal remunerados e precários [que o Governo não tem um modelo de baixos salários e de precariedade para o país] que não há na indústria e na agricultura, ou ambas?
E dentro do numerus clausus ao numerus clausus e já que na escola neoliberal alemã travestida de austríaca tudo são números, como é que é feita a selecção, quem é que entra? Quem pagar mais, ou faz-se uma prova de avaliação e entra quem "der menos de 20 erros numa frase"?
Podemos sempre recuperar a polémica anos 80, e anos-quando-der-jeito, da "traição à Pátria" pelo suposto financiamento do PCP pela então URSS, a menos que os campos da luta ideológica sejam mais, substancialmente mais, traição à pátria, para um país membro da União Europeia e da NATO, do que o campo do selling England by the ruble pound, segundo o mui liberal princípio de que o dinheiro não tem cor nem bandeira nem pin na lapela.
Lembram-se do liberal Pedro Passos Coelho que, antes de ser primeiro-ministro, queria privatizar a Caixa Geral de Depósitos para retirar o "peso do Estado" da economia e que, depois de chegado ao Governo, exige que a mesma Caixa Geral de Depósitos financie mais a economia ou "vamos de ter mudar a administração" [ler "substituir os boys nomeados"], lembram-se?
Do que ninguém se lembra é de ter ouvido Pedro Passos Coelho falar sobre que tipo de financiamento à economia exige, a que género de economia é que se refere, coisa desnecessária para os boys nomeados que perceberam bem a irritação do chefe, o "posto de trabalho" em risco, e conhecem como ninguém as prioridades económicas do Governo das marcas e das grandes empresas. A ministra Cristas, do partido da lavoura, essa continua calada. Ou a rezar para que pare de chover que já estamos quase em Junho.