"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
Nem os bolcheviques sem saber ler nem escrever em 1917 no ministério das finanças russo foram tão incompetentes como o douto partido do contribuinte à frente da Secretaria de Estado dos Assuntos Fiscais portuguesa em 2015.
Do Estado mau e totalitário, pago com o dinheiro dos cidadãos e a "pesar na economia", para o Estado bom e liberal, ao serviço do privado pago com o dinheiro do contribuinte, opressor do cidadão para benefício de meia dúzia de famílias.
“Mais de 2000 funcionários do fisco na cobrança das portagens”
Os "olhos baixos do Presidente da República" é por causa da "neblina dos tempos que correm", já as comendas, as medalhas e as Ordens que, de vez em quando [mais as vezes que o quando], lhe "penduram ao peito", é pela entrega e empenho acéfalo que dedicou à causa desde os primórdios.
Não sei quantos anos, muitos, de carreira, a desempenhar com profissionalismo exemplar o papel de idiota útil, para mostrar ao auditório que a direita também tem gente na área da kultura [não é gralha] para, ao descer do pano, levar uma monumental vaia, da plateia ao balcão, e um pontapé no traseiro pelo dono da companhia. Há papéis vidas assim.
O novo argumentário dos situacionistas para dar a volta ao texto das políticas implementadas pelo Governo, que estão a levar as empresas à falência e consequente destruição de emprego, aumento da miséria e do fosso que separa os mais ricos dos mais pobres, é perguntar se as pessoas continuam a achar que é o Governo que cria empregos.
Mentirosos compulsivos que fazem toda uma pré-campanha e uma campanha eleitoral com a promessa de libertar o cidadão, as famílias, as empresas, da carga fiscal excessiva, como forma de potenciar o crescimento da economia, quando se alcandoram na cadeira do poder, além de não cumprirem o prometido, uma das primeiras medidas que tomam seja criminalizar a mentira na declaração de impostos.
E, antes da entrega, juramos sobre a Bíblia que tudo o que ali consta corresponde à verdade e nada mais que a verdade, assim Deus nos ajude?
A Direita, sempre tão ciosa dos valores e da família, da família “verdadeira”, virou a cara para o lado e desatou a apontar os dedos todos da mão ao Estado. Ao Estado socialista, dizem. Ora deixa-me cá fazer contas e ver quem é que eram os socialistas que estavam na administração do Estado quando a penhora foi decidida…
O Estado que deu pela dívida por liquidar foi o mesmo Estado que não deu pelas pensões por levantar. Durante 9 anos. Nada de novo, é a função do Estado-contabilista que parimos dar pelo Deve e ignorar o Haver. O Estado é uma família moderna, desgraçado de quem tem uma. E a senhora tinha.
Ainda sou do tempo em que parava uma rua inteira para acudir a alguém que caía na calçada. Mas nesse tempo fugia-se mais aos impostos, dizem.
O Presidente da República recebe na residência oficial uma embaixada de ex-culpados pelo estado calamitoso a que chegaram as finanças públicas ex-responsáveis pela pasta das Finanças para «partilhar a sua preocupação pelo actual rumo económico do país».
Adenda: o nome de Miguel Cadilhe não consta na embaixada ao Presidente… Não é impunemente que se chama “pai do monstro” ao senhor Silva…
Não podia estar mais de acordo com o que Manuel Carvalho assina hoje em editorial no Público:
“A inspecção da Provedoria de Justiça. Cujo diagnóstico arrasa a imagem de eficiência e produtividade da máquina fiscal e denuncia várias ilegalidades lesivas do Estado de Direito, não prescinde da intervenção do poder político ou de um inquérito judicial. Os apelos de Paulo Portas, que se insurge contra o “fanatismo fiscal” e reclama o respeito pela lei e pelas garantias dos contribuintes, têm de ser levados em conta.” (Negrito meu)
O que dá que pensar é o timming e a forma (abaixo-assinado), que Portas escolheu para introduzir o tema na ordem de trabalhos. Não foi Portas ministro de dois Governos, primeiro com Durão Barroso e depois com Santana Lopes, sendo que neste último a pasta das Finanças pertencia ao seu partido (Bagão Félix)? Não era Paulo Macedo responsável máximo pelo fisco durante esses dois Governos? Que fez Portas para inverter a situação? Nada!
Assim cheira-me a líder, de um partido político que não existe, desfragmentado por lutas intestinas promovidas por si próprio, candidato a líder e depois líder eleito; com a reputação e a idoneidade pelas horas da morte, e que busca assim a legitimidade que em consciência sabe não ter aos olhos dos eleitores. E nestas eu não embarco.